Chimpanzés em cativeiro mostram trastornos mentais

Auto-mutilação, balanço repetitivo, ingestão de fezes e urina. Não estou descrevendo o ambiente de um manicômio senão o que acontece entre chimpanzés em cativeiro. Devo confessar que ler este artigo publicado hoje na revista cientifica PLoS One -que por verdade ia postar no NDig-, deixou minha tarde bem mais cinzenta e já explico. Os chimpanzés em cativeiro mostram graves problemas de conduta e trastornos mentais similares aos humanos.

Mas para entender melhor tudo isso precisamos antes saber que alguns cientistas já indicaram a capacidade de certos animais de reconhecerem-se em um espelho fazendo um teste muito simples que é o de pintar uma marca no corpo do animal em um local que não podem ver para tentar apagar sem olhar em um espelho. Este simples teste comprovou a capacidade cognitiva dos macacos, mas ninguém conseguia descobrir quais mecanismos permitem esta identificação.

Até que dois especialistas japoneses em grandes primatas, Takaaki Kaneko e Masaki Tomonaga, decidiram treinar três fêmeas para que pudessem mover um cursor na tela de um computador com um mouse. Depois que elas aprenderam a usar a ferramenta, mostraram na tela dois cursores com o mesmo tamanho e forma, só que um era controlado em tempo real pelo mouse e o outro era uma simples gravação do cursor se deslocando. Ou seja, a única forma que o animal teria para identificar o cursor controlado por ele era confrontar sua ação com o resultado mostrado na tela.

Os testes foram concludentes e demonstraram que os chimpanzés conseguiam analisar os efeitos de suas ações sobre o que estavam fazendo. Os resultados deste método científico indicaram surpreendentemente que os chimpanzés e humanos compartilham os mesmos processos cognitivos fundamentais, tendo clara consciência de si mesmos e do meio em que vivem.

Este importante estudo abriu um leque enorme sobre a agentividade destes animais. Como, por exemplo, a nova pesquisa mostrada hoje por cientistas da Universidade de Kent que demonstraram que as alterações graves do comportamento, alguns dos quais comparáveis à doença mental dos seres humanos, são endêmicos entre os chimpanzés em cativeiro.

O estudo comparou o comportamento de 40 chimpanzés de parques e zoológicos dos Estados Unidos e Reino Unido com 1.000 horas de observação destes mesmos simios em liberdade em Uganda.

Outros estudos já haviam demonstrado que ao melhorar as condições de ambiente dos simios, melhorava também a sua conduta. Mas os comportamentos anormais são inerentes ao confinamento em zoológicos.

Ademais, os chimpanzés em cativeiro empregam apenas a metade de gestos para comunicar-se entre eles que seus congêneres em liberdade. Os primatas em estado selvagem empregam até 66 gestos em sua vida cotidiana enquanto os cativos não usam nem 30.

Creio que muitos devem estar compartilhando o mesmo gosto amargo na boca: aquele animal balançando de forma repetitiva o corpo e a cabeça, não está fazendo "macaquices", muito provavelmente está exibindo os sintomas de uma loucura que é resultado da sua exploração pelo ser humano. Tarde cinzenta não?

Fonte: Science Daily.