Em julho de 2009 eu já havia falado sobre o assunto que volta às manchetes agora porque segundo denúncia da ativista de direitos das mulheres Mint Ely para o The Guardian, meninas de até cinco anos são submetidos a uma tradição conhecida como Leblouh a cada ano.
O Leblouh está estreitamente relacionado aos casamentos precoces, envolvendo o consumo de quantidades titânicas de alimentos, até que as garotas vomitem. Ely diz que na Mauritânia, o tamanho de uma mulher indica o espaço que ela ocupa no coração do seu marido. Então, para ter certeza de que nenhuma outra mulher jamais terá espaço, as meninas são enviadas para estes spas de Leblouh, onde as mulheres mais velhas administram a dieta necessária e também desnecessária. É um pouco assustador saber que garotas de 5, 7 e 9 anos de idade devem consumir uma dieta diária de dois quilos angu batido com dois copos de manteiga e 20 litros de leite de camelo. Seu consumo diário chega a um valor colossal de 16.000 calorias.
Este processo geralmente é feito durante as férias escolares ou na estação chuvosa quando o leite é abundante. Métodos de tortura são empregados no caso das meninas não "comerem direitinho". Fátima M'baye, advogada de direitos da criança, diz que algumas meninas são mandadas embora de casa sem entender o porquê:
- "Ela sofre, mas dizem que ser gordo vai trazer a sua felicidade. Matronas usam cipós e varas enroladas nas coxas das meninas, para romper o tecido e acelerar o processo."
Alguns outros métodos de tortura incluem o 'zayar', duas varetas que servem para apertar os dedos da criança se ela se recusar a comer ou beber, e que causam muita dor. Se for bem sucedido, o processo de engorda leva uma garota de 12 anos de idade a pesar 80kg.
- "Se a menina vomitar, ela deve engolir o vômito", diz M'baye. - "Com a idade de 15 anos, ela vai parecer ter 30".
Por mais estranho que pareça, a prática do Leblouh é uma tradição antiga muito respeitada na Mauritânia. Supostamente remonta a tempos pré-coloniais, quando os árabes Moor eram todos nômades na região. Quanto mais rico o marido, menos sua esposa teria o que fazer em casa. As esposas ricas podiam sentar-se ao redor da casa durante todo o dia, enquanto os escravos tomavam conta de todas as tarefas domésticas. Invariavelmente, elas acabavam engordando lindamente por não fazer absolutamente nada, e assim os corpos redondos tornaram-se um sinal de riqueza e de bons maridos.
A estrias tão odiadas pelas ocidentais, conhecidas como "tebtath" eram vistas como as melhores jóias de uma mulher. 'Lekhwassar', o famoso pneuzinho ou pneuzão ao redor da cintura era considerado com um orgulho lírico. Nos últimos tempos, porém, as coisas foram lentamente começando a melhorar para as mulheres da Mauritânia.
- "Nós tivemos pela primeira vez um Ministério de Assuntos da Mulher. Conseguimos uma quota parlamentar de assentos de 20%. Temos diplomatas e governadores do sexo feminino. Podemos novamente seguir a carreira militar", conta Mint Ely. - "Tínhamos vivenciado grandes progressos. Há dez anos, inclusive, fizeram campanhas de conscientização sobre os perigos de doenças cardiovasculares e diabetes. O governo até condenou as fazendas de engorda. Mas as coisas voltaram ao que eram antigamente desde que o general Mohamed Ould Abdelaziz tomou o poder depois que o presidente eleito tentou demiti-lo."
Enquanto a maior parte da classe média de mauritanos afirma que abandonou a prática da alimentação forçada. O Leblouh galopa livremente nas áreas rurais. Apesar de já não ser tão popular como era antes, ainda existem áreas da Mauritânia hoje as mães contam para suas filhas maravilhadas de um lugar mágico onde elas vão nas férias para o deserto para encontrar outras meninas e comer alimentos doces, e retornar para casa uma linda mulher gorda. O Leblouh, infelizmente, não é tão excitante e mágico quanto as mães contam e até as crianças já sabem disso, como Tijanniya, uma garota de sorriso lindo de 1o anos que diz,
- "Eu não acho que a gordura seja é bonita. Adoro esportes e estou com medo de não conseguir correr rápido quando estiver gorda."
Fonte: Marie Claire.
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Comentários
Vixe, esse post me escapou... Eu acho que ninguém deve ser forçado a nada nessa vida... Todo mundo deveria ser livre para escolher o que quer, como quer e quando quer.
bem, essa tradição é meia estranha, onde as mocinha antes do casamento tem que engodar que loucura é essa.
pela pesquisa que foi feita por mim mesmo, a mocinha tem engodar pelos menos 80 kilos a mais do seu peso atual.
imagine essa moça gorda desse jeito. que barbaridade.
é essas coisas só acontece, nesses países da áfrica afora mesmo
Prás passarelas, nem pensar.
Isso seria muito esquisito se fosse num país onde se cultua a beleza da magreza.
que loucura
...
Para o nosso padrão é deprimente, mas para os costumes deles é normal.
:fool:
Meio... triste... ainda mais se formos considerar o que sofrem algumas mulheres obcecadas por emagrecer.
O dia que eu encontrar algum homem preocupado só com minha beleza, vou saber que, assim que eu estiver mais velha, serei trocada por alguém mais jovem e bela. Então, pra que?
Cuidados com o corpo precisam ter em vista a saúde, e não a beleza. O resto é consequência.
ahhhhhh!!!!! e eu de dieta do biquini .....socorroooooo!!!!! 8O
Não sei os mauritanianos, mas isso parece um pouco esquisito ao meu ver.
Lembro do post antigo e do absurdo que é.
Tradição é, por definição, autoritária. Ou impedimos que esta atenda aos pedidos de seus representantes, ou teremos que nos apossar dela e colocá-la em seu lugar. Já mencionei a força dos arquétipos e a grandeza de sua sabedoria em outros posts. Pena que por vezes, eles são esquecidos ou subvertidos. Se permitem um causo (tentando não ser tão enfadonho quanto costumo ser), era uma vez um Deus, Senhor da Ordem e do Equilíbrio do Universo, chamado Zeus. Este casou-se com sua irmã, Juno, Senhora da Tradição e das Instituições. Ambos tentavam controlarem-se mutuamente, zelando assim por um equilíbrio de forças. Quando Juno era por demais terrível e dura, Zeus a amarrava com cordas mágicas no teto do Olimpo, virada de ponta cabeça, invertendo-a até que tomasse jeito. Eis uma poderosa alegoria, não?
"Ely diz que na Mauritânia, o tamanho de uma mulher indica o espaço que ela ocupa no coração do seu marido. Então, para ter certeza de que nenhuma outra mulher jamais terá espaço, as meninas são enviadas para estes spas de Leblouh"
Que raciocínio brilhante.
Aff, cada tradição absurda.