Há um debate, que cria corpo pouco a pouco, se a Internet arruinou as relações humanas ao destruir nossa habilidade de socializar em pessoa. Muitos jovens que cresceram atrás de uma tela de PC não sabem ao certo como devem tratar, com respeito, uma pessoa. Os insultos gratuitos de trolls, que caem de paraquedas nos sites e fóruns, impregnou o vocabulário de alguns adolescentes, como é o caso desta grosseria desproporcional que me deparei no Facebook e que infelizmente não consegui me conter e também responder. |
Não há de surpreender-se se a garota não tenha percebido a própria ignorância do que fez, pois, ao que parece, acredita mesmo que está certa. Se por um lado muitos não tem o mínimo discernimento do que é o respeito e uma amizade presencial, por outro, não muda muito nas novas relações amorosas; vários jornais americanos publicaram uma série de artigos que declaram que o final da paquera, do cortejo e das relações longas ocorreram devido a conexões emocionais na Internet e através de redes sociais como o Orkut e Facebook.
A questão é que a facilidade com a qual podemos "paquerar" através da Internet e o aumento da mesma afetou o funcionamento do casal moderno. Encontrar uma definição universal para o ato da traição é menos interessante que compreender o que realmente representam para nosso comportamento estes atos de infidelidade on-line. Sabedoria herdada fomenta a noção de que as relações através da Rede não são reais, são fantasias intensas, versões destiladas do desejo, ou um obscuro reflexo de nossos desejos reais. (Acreditem ou não, um amigo pessoal recebeu recentemente um grande pé na bunda porque adquiriu o costume, quase uma mania, de se trancar em um quarto para render homenagem a Onã na frente do computador, enquanto a esposa -uma mulher muito linda por sinal- dormia no quarto ao lado.)
Por exemplo, um homem casado sai de viagem a trabalho e quando está em outra cidade, sai para jantar com uma amiga. Depois, por e-mail, confessa o que sente por ela. Todos sabemos que o álcool desinibe, mas a proteção da tela de um computador também parece causar a mesma sensação. A tela oferece uma espécie de valentia relativa porque muitos sentem que o que fazem ou escrevem desaparece assim que desligam seu computador, motivo pelo qual suas ações poderiam ser inconsequentes em sua vida "real" -se é que tem uma-. Enfim, o homem rapidamente envia e-mails descrevendo suas fantasias a sua amiga, ela trata de dizer que não lhe interessa, mas ele ignora. Ele então enche sua caixa de entrada de e-mails diários. Isto poderia ser considerado como uma relação real? Está enganando a sua esposa? Ou somente joga com fantasias como se estivesse em um sonho?
Evidentemente, as relações através de e-mails e programas de mensagens instantâneas prestam-se mais a projeções do que as relações normais. Quando se manda uma mensagem de texto ou se escreve para alguém que se conhece bem, o meio se presta a interpretações pessoais -ao prazer unilateral da expressão- o recipiente se reduz meramente a uma ideia.
Outro exemplo, um empresário casado, inquieto, com filhos pequenos em casa, envia uma solicitação de amizade no Facebook a uma conhecida virtual. Ela aceita e ele retorna uma mensagem dizendo:
- "Obrigado por aceitar. Estava um pouco nervoso ao enviar o convite". Ela responde:
- "Por que nervoso?", ao que ele responde:
- "As razões psicossexuais do homem casado de sempre". Então em pouco tempo ele começa a ter fantasias com elas, já que nunca se conheceram na vida real apesar de terem amigos em comum. Isto é muito menos daninho à família que o espera em casa do que a relação antes mencionada, no entanto também não é tão inocente como um sonho, já que ainda de maneira abstrata, existe outra pessoa.
Em verdadeiro sentido, é claro como a Internet permite que as pessoas transcendam, experimentem e incursionem sem realmente enganar seus casais. Poderia ser interpretado como uma forma covarde de trair, pouco esforço ou compromisso com o ato, uma espécie de barreira protetora. Seria muito fácil dizer que uma relação on-line não é física já que há níveis muito gráficos que estas relações podem atingir, no entanto seguem sendo adultérios seguros, encerrados.
Existe a interpretação -um tanto ingênua- de que as palavras e fotografias "não contam" da mesma maneira que o contato físico, ou então sentar e compartilhar um jantar a luz de velas. Pessoas que assumem que as palavras não transcendem da mesma maneira que um jantar romântico nunca receberam um e-mail que aproxime o remetente e destinatário mais do que mil jantares românticos. A palavra escrita pode levar uma mensagem tão íntima que poderia representar uma nova vida para o cortejo romântico, não seu fim. Deveríamos redefinir o aspecto "real" de uma pessoa on-line ou em pessoa, já que a mensagem da palavra escrita pode ser bem mais real que horas compartilhando a mesma casa com alguém.
Com nossa ávida e culposa relação com a tecnologia, tendemos a pensar (erroneamente) que a questão de como as palavras, ou a distância, afetam uma relação são problemas novos. No passado, quando se deslocar era mais difícil e escrever cartas era mais comum, existiam muitos casais que viviam grandes e emotivas relações através de cartas. Quando era jovem e duro o bastante para pagar um interurbano -custavam o olho da cara- vivi uma relação fantástica de amor com uma noiva láaaa do interior de Minas, cada carta que recebia com suas palavras gentis equivaliam a um orgasmo de felicidade.
De modo que, ao final, a Internet segue inocente como uma folha de papel em branco. Ela não faz nada e sim propicia o meio para receber novas palavras, criar "novos monstrinhos", revelar taras ocultas e desfazer relacionamentos. O agente ativo continua sendo o homem e sua mania de sobrepujar as boas coisas que é capaz de fazer com as más ou no mínimo duvidosas.
Fonte: Slate.
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Comentários
Não considero não, mas se servir como um trampolim pra encontros reais, aí sim pode ser considerdo traição.
Lembro desse vídeo – gostei da frieza dela.
:D que nada :P
Discordo muito disso, afinal de contas a porcentagem destas relações darem certo são muito baixas, não estou dando uma de Silas Malafaia, claro que tem gente que vai conhecer a outra pessoa e tals... Mas não é assim que a banda toca! Igual nos jogos online minha vizinha casada jogando Ragnarok onde era casada no jogo também... O marido dela liga, liga nada... Até porque isso é uma insegurança da outra pessoa, se você está seguro de si, seu relacionamento fluí que é uma beleza! Não tem essa de romance via internet acabar com relações duradouras com uma frequência imensa, pode acontecer, mas não é comum!
Difícil estabelecer o ponto em que se inicia uma traição: uma noite de sexo sem compromisso, uma troca de carícias, um flerte ou a simples intenção de ter outra pessoa? Cada casal tem um ponto de vista diferente e, num mesmo casal, os envolvidos podem assumir opiniões distintas (uma das razões de muitos relacionamentos não darem certo). É mais simples quando os parceiros estabelecem as regras, no início do relacionamento, mas, mesmo assim, não é nada fácil e não resolve todos os problemas.
É traição.
sei que rola muita mentira..então é traição consigo, com a namoarada e com o parceiro virtual
Não acho que é traição na, pois é algo só virtual.
Só é traição quando a namoh descobre :roll:
Meu namoro é muito real, apesar de passarmos mais tempos juntos no mundo virtual. E acredito que o contato físico é imprescindível - ainda que seja 2 semanas a cada 6 meses.
Sei lá.... ninguem é de ninguem.... :lol:
Traição pode se mostrar não apenas em contato físico. O contato amoroso emocional é também forma de traição, se duvidar pior do que aquele que é só físico.
Huehuehuehua o coiso lá no Facebook pegando fogo e o Luisão vai lá para colocar lenha... O que ele está querendo?
Agora, respondendo a pergunta:
"Uma troca de mensagens pode ser mesmo considerada uma traição?"
Meu amigo, se está rolando uma atração por alguém além daquela pessoa por quem você fez um voto de fidelidade, um simples olhar pode ser considerado traição.
Bah.