Enquanto estava em missão para o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR), o fotojornalista Brian Sokol desenvolveu este projeto, intitulado "A coisa mais importante", que apresenta retratos de refugiados com seu pertence pessoal mais importante, que nos permite refletir a desigualdade no mundo, onde poucos temos tanto e outros tão pouco. A Agência de Refugiados da ONU explica que: |
- "Mais de 105 mil refugiados cruzaram a fronteira entre os estados do Nilo Azul e do Alto Nilo no sul do Sudão desde novembro de 2011. Os milhares de refugiados são forçados a deixar suas casas, muitas vezes, no meio da noite, e viajar a pé por circunstâncias traiçoeiras e perigosas, às vezes, por semanas sem ter o que comer e contraindo graves doenças".
Interessado em suas histórias, Sokol perguntou às pessoas qual o pertence que eles têm agora em sua nova vida que é o mais importante para eles. Alguns desses relatos comoventes podem molhar olhos mais sensíveis e hão de marcar os corações mais gelados. Muitos destes pertences incluem coisas tão banais como recipientes de água e panelas que são acarinhados não só porque constituem a única e última lembranças de casa, mas também porque serviram como um meio para a sobrevivência. Para ler mais sobre suas viagens, você pode conferir o projeto completo no site da ACNUR.
A coisa mais importante para a garota Maria, de 10 anos de idade, é um galão velho que ela segura orgulhosa nesta fotografia tirada no acampamento Jamam no condado de Maban, Sudão do Sul.
A coisa mais importante para Omar, que não tem certeza de sua idade exata, mas acredita que está entre 60 e 70 anos de idade, é o machado que mostra nesta fotografia. Ele usou a ferramenta para cortar lenha para cozinhar e para fazer pequenas estruturas de madeira onde sua família conseguia dormir à noite, e às vezes para descansar por alguns dias em um momento, durante a sua jornada de fuga.
A coisa mais importante que Magboola, 20, foi capaz de trazer com ela é a panela que sustenta nesta fotografia. Era pequena o suficiente para que pudesse levar com ela, mas grande o suficiente para cozinhar sorgo para si e para suas três filhas durante a dura viagem.
A coisa mais importante que Al Haj, 27 foi capaz de trazer é o chicote que ele segura. Sem isso, diz, não teria sido capaz de manter juntos seu rebanho de 50 cabras, e agora seria apenas um indigente.
A coisa mais importante que Shari, 75, tem no momento é a vara que segura na fotografia: - "Eu já tinha essa vara desde que fiquei cega há seis anos", disse ela. "Meu filho (Osman, 40) me levou ao longo da estrada com ele. Sem ele, e esta simples vara, é bem provável que estivesse morta agora".
O objeto mais importante que Dowla, 22, foi capaz de trazer com ela é a balança de madeira que sustenta sobre o ombro, com a qual carregou seus seis filhos durante a viagem de 10 dias a partir de Gabanit para o Sudão do Sul. Às vezes, as crianças estavam muito cansados de tanto caminhar, obrigando a abnegada mãe a carregar pelo menos dois de cada lado.
A coisa mais importante que Ahmed, 10, foi capaz de trazer com ele é Kako, seu macaquinho de estimação. Kako e Ahmed fizeram a viagem de cinco dias fugindo de Taga na fronteira sul-sudanesa juntos na traseira de um caminhão. Ahmed diz que não pode imaginar a vida sem Kako e que a coisa mais difícil de deixar sua casa em Nilo Azul foi ter que deixar toda a sua família para trás.
O mais importante objeto que Hasan, incerto de sua idade, mas acredita ser algo entre 60 e 70, trouxe de sua terra é a carteira surrada vazia que exibe. Embora seja agora um indigente, deixou Maganza com dinheiro suficiente para comprar comida para sua família durante sua jornada de 25 dias até a fronteira do Sudão do Sul.
O objeto mais importante que Howard, 21 anos, foi capaz de trazer com ele é a longa espada que mostra na foto, conhecida como "shefe", que ele usou para defender a sua esposa e seis filhos, e seu rebanho de 20 bovinos durante a sua travessia de 20 dias fugindo do condado de Bau à fronteira sul-sudanesa.
A coisa mais importante que Haja, 55, trouxe com ela é o xale estampado, conhecido como "taupe", que ela usou para carregar sua neta bebê, Gaze Bal, a única remanescente da família.
As coisas mais importantes que Torjam foi capaz de trazer com ele são garrafas de plástico que ele segura aqui. Em uma carregava água potável e na outra, o óleo de cozinha. - "Tudo que eu podia levar era isso, e um machado. Nós não podíamos trazer muito, e ainda tive infelizmente que abandonar algumas pessoas mais idosas para trás".
A guerra civil sudanesa já dura ao menos 46 anos. Este conflito entre o governo muçulmano e guerrilheiros, baseados no sul do seu território, aliado a períodos prolongados de seca já fizeram mais de 2 milhões de mortos. A introdução da Sharia causou a fuga de mais de 350 mil sudaneses para países vizinhos. Entre outras medidas, a lei islâmica determina a proibição de bebidas alcoólicas e punições que vão desde as chicotadas e mutilação até ao enforcamento.
Estes confrontos não diferenciam militares de civis, na verdade ninguém sabe quem é quem e nem faz questão de saber. As histórias decorrentes não diferem muito das carnificinas protagonizadas nas guerras tribais, como lemos na história da valente Valentina.
Fonte: Peta Pixel.
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Comentários
Escolha seu pertence mais importante. Escolha bem, porque se você é capaz de ler isso agora, são muitos.
e nós aqui, civilizadamente, tomando banho de meia hora de chuveiro muito quente, trocando de celular a cada teclinha nova, esbanjando toneladas de comida (já viram um ceasa?), consumindo, consumindo, consumindo e a porra da coisa importante é um container quebrado e uma vara para que a mãe cega não se perca na estrada. bacaninha!
e o fotógrafo ali. e não tem que falar de governante, não. tem que falar de gentinha que vota de qualquer jeito, aceita qualquer esmolinha de merda em troca e não faz porcaria nenhuma.
sorry, admin. excuse me.
Deixo aqui registrado tambem meu repúdio aos governantes que desencadearam essa situação e aos que a mantêm, bem como faço questão de externar meus sentimentos para com esse povo tão sofrido.
P.S.: Não é só lá que temos essa situação não. Isso existe em muitos outros lugares.
Sem querer menosprezar essas pessoas, mas eu diria que aqui no Brasil tambem temos situações semelhantes, com a única diferença que lá eles vivem uma situação de guerra declarada, e aqui temos visto verdadeiras situações de guerra civil não declarada, quer seja nas favelas, onde traficantes dominam o povo, fazendo o que querem, quer seja em outras situações, onde o próprio estado se encarrega de massacrar seu povo e jogá-los em situações bem semelhantes a essa aí relatada.
Edgar Rocha;
Sofrida sua história, mas faço questão de aplaudi-lo pelo seu ponto de vista e pelo brilhante comentário.
Meus parabéns, amigo.
Novidade. V
Eu não entendi... :?
Há certas coisas que a humanidade não supera. Fica a mensagem que toda esta fartura que nós, diante dos computadores, temos hoje, é passageira e frugal. Nosso mundo nem de perto e nem de longe, é expressão da realidade. E sob a luz terrível da realidade, podemos até morrer antes de vermos nossa derrocada, mas em hipótese nenhuma, podemos ter garantias de que nossa situação se estenderá aos nossos filhos. Estas pessoas da foto não merecem a humilhação de nossa pena. Eles são fortes e obstinados. Receio que, numa situação semelhante aqui no Brasil, só gente assim sobreviveria e deixaria descendentes. A boa vida relaxa, não nos prepara pra nada. É só olhar nosso passado. No meu caso, quando vi estas fotos, veio-me num sopro o cheiro de corpo humano, de sujeira e de roupa sem lavar há dias, que reconheci logo de cara. Nós éramos muito pobres, mas felizmente nunca chegamos a este ponto. Sei desta realidade porque uma das obrigações de minha família era participar de trabalhos nas áreas mais miseráveis da cidade. Meu pai participava da irmandade Vicentina e, desde pequeno olhávamos nossa vida com feijão, arroz e couve como abastada diante da miséria e das dificuldades de favelas, bairros recém-formados... era tudo muito triste e, ao que me consta poucos sobreviveram embora, estejam hoje entre nós, trabalhando, lutando, vencendo. É bom não esquecermos estas experiências. tudo é passageiro, o que é bom e o que é ruim.
Triste.
Hoje meus filhos de 5 e 6 anos estavam chorando que não têm brinquedos sendo que têm um quarto lotado de brinquedos caros que mal usaram....realmente temos que repensar a sociedade que vivemos...
Interessante o tema escolhido, deram boas fotos.
As vidas são o que levam primeiro.
Às vezes, nem isso.