O fenômeno conhecido como filhas alugadas de Taiwan surgiu durante a década de 70, quando filhos e filhas deixaram suas famílias para trabalhar na cidade. Como o sistema de transporte era bastante limitado, não tinham como viajar até sua casa para acompanhar o funeral dos pais, assim contratavam uma filha para tomar seu lugar e acompanhar a família em luto.
Para alguns de Taiwan e também da China, mostrar dor de uma forma dramática é a maior reverência para os parentes que já faleceram, porque funerais são considerados os momentos mais importantes para honrar a família. Mas seu caráter introspectivo resulta em que nem todo mundo consiga derramar lágrimas e mostrar a sua dor em público, de modo a ajudar a criar uma atmosfera de luto, assim eles contratam filhas profissionais de luto. Elas dançam, cantam e lamentam, aquecendo os corações do público e ajudando-os a liberar suas emoções.
Chorar sem ter vontade não é anda fácil, mas as carpideiras profissionais, como Liu Jun Lin, de 30 anos, dizem que ajuda realmente quando se envolvem no caso e passam a considera como sua a família que contratou seus serviços.
- "Eu só imagino que sou parte da família e me fundo com eles nesta ocasião tão dolorosa", diz ela.
Os rituais de luto em geral começam com o grupo de artistas alinhadas fora da funerária, rastejando lentamente para dentro, para simbolizar as filhas casadas voltando para casa para a morte do seu pai. Chorando e cantando em um microfone, elas seguem o seu caminho até o caixão para sua despedida final. Os enlutados usam capuzes brancos tradicionais e roupões para esconder seus rostos e lágrimas. Mesmo que seja considerada uma ótima atriz, a jovem Liu Jun Lin diz que cada lágrima lançada é real. Ela conta que não precisa forçar o choro, basta naturalmente ver os membros tristes da família de luto para começar a chorar. Ela já trabalha na profissão de chorar por estranhos há 19 anos e agora é a filha de aluguel mais famosa de Taiwan.
A tradição de contratar carpideiras profissionais está morrendo lentamente em Taiwan. Enquanto as gerações mais velhas ainda apreciam o seu papel na realização de um funeral dramático, os mais jovens de Taiwan começaram a optar por eventos mais reservados, e só contratam filhas de aluguel por insistência de parentes mais velhos. As autoridades públicas também proibiram este tipo de atuações em algumas partes do país para acabar com a poluição sonora. A menos que elas possam reinventar a sua profissão, as enlutadas de aluguel já lidam com a idéia de que estarão fora do mercado de trabalho em poucos anos.
Apesar de praticamente inexistirem na atualidade, a profissão existe há mais de 2 mil anos e inclusive já foram bastante populares no Brasil Colônia, quando o pagamento não era feito em dinheiro, mas com bens da família do defunto, mas nada parecido ao show protagonizado pelas carpideiras de Taiwan. E caso você esteja se perguntando, esta não é a única tradição funeral bizarra no país asiático. Em algumas partes do país, dançarinas exóticas são contratadas para atrair mais enlutados para honrar os mortos.
Pois é, talvez uma stripper não seja a primeira coisa que vem à sua cabeça quando pensa em um funeral, mas aparentemente, em Taiwan, levar uma stripper para o préstito fúnebre é uma parte importante do processo de luto.
As strippers de enterro de Taiwan provavelmente permaneceriam um mistério para o mundo ocidental, se não fosse os esforços do antropólogo Mark L. Moskowitz, que queria mostrar ao público a diversidade cultural. Seu documentário de 40 minutos, Dancing for the Dead: Funeral Strippers in Taiwan, lança luz sobre a prática bizarra através de entrevistas com strippers, funcionários públicos e pessoas comuns.
Strippers de funeral são aparentemente uma parte muito grande da cultura de Taiwan, especialmente em áreas rurais. Até meados de 1980, este tipo de performances obscenas ocorria em toda a ilha, mesmo na capital de Taipei, mas depois que as autoridades aprovaram leis contrárias, desapareceu de assentamentos urbanos e se mudou para o país. As leis não são tão fáceis de serem aplicadas por lá e as pessoas parecem gostar de ir a um funeral sabendo que vai ter algum entretenimento adulto (imagina se não!).
As strippers chegam geralmente na parte de trás de caminhões a diesel conhecido como electric flower cars (trio elétrico florido), e executam na frente dos mortos e seus enlutados. As meninas vestidas sumariamente fazem o pole dance, cantam e algumas até mesmo descem do palco para interagir com a platéia: sentar no colo, dar bundada na cara, puxar a cabeça contra seus seios, etc.
De acordo com um historiador, este tipo de enterro surgiu por volta de 25 anos atrás, quando a máfia taiwanesa dominava o país e adquiriu grande parte das boates noturnas, também acabou abocanhando boa parte do rentável serviço de necrotério. Em certo ponto, os chefes da máfia decidiram de alguma forma combinar os dois negócios e aumentar os seus rendimentos. A partir de então, qualquer funeral reservado através de uma de suas salas de estar também podia contar com os serviços de uma stripper com um belo desconto. No começo, as pessoas ficaram um pouco confusas, mas depois que foram informadas que isso atraia mais carpideiras para o funeral, para assim honrar os mortos ainda mais, logo aceitaram.
A pesquisa de Moskowitz revelou várias razões para que as pessoas contratem strippers para funerais. Os mais plausíveis são: a) o falecido simplesmente gostava de ver mulher pelada; b) strippers de funeral são uma espécie de suborno para os enlutados comparecerem ao funeral. Acredita-se que quanto mais pessoas vão a um enterro, maior é a honra dada ao falecido. Mas há outras explicações mais religiosos, também. Alguns acreditam que os deuses inferiores, que antes eram humanos, mas eram adorados por muitos, ainda desfrutam de coisas como jogos e mulher pelada, por isso esses programas são um presente para eles.
A importância da emoção no evento público na China e Taiwan também tem algo a ver com o funeral com strippers ou carpideiras, porque lá, tudo, tudo mesmo, desde concertos a funerais deve ser quente e barulhento, a fim de ser considerado um sucesso.
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Comentários
Se isso faz com que os parentes se sintam melhor... [2]
Mas que é exagerado, é. Os mortos são bem na deles... Tem um cemitério na frente de casa e nunca tive problemas com estes vizinhos... ^^
Sei lá, se a família precisa pagar para ter pessoas no funeral, o defunto não era assim muito querido, ne?
Cada costume estranho...
Se a moda pega aqui vai ser uma trupe de funkeiras / mulheres-fruta fazendo seus números....
Tremenda falta de respeito, na minha opinião...
Strippers o.o
Se a moda pega...
Queria ver no Brasil.
Se isso faz com que os parentes se sintam melhor...
As encenações são bem realistas mesmo, até convencem ser da família.
rsrsrsrs
Apenas achei estranho as stripers.
"Pois é, talvez uma stripper não seja a primeira coisa que vem à sua cabeça quando pensa em um funeral, mas aparentemente, em Taiwan, levar uma stripper para o préstito fúnebre é uma parte importante do processo de luto."
Não é com o objetivo de levantar o defunto.
Eu prefiro tacar fogo em tudo, mas as strippers não são uma má ideia.
Strippers no meu funeral.... :roll: como nunca pensei nisso???
já vai pro testamento hoje.... :lol:
Mas hein?