Agências suecas de modelos recrutam garotas em clínica de tratamento da anorexia

Uma imagem distorcida do próprio corpo relacionada a uma boa oferta trabalhista pode colocar em risco a saúde de pacientes em tratamento por desordens alimentares, ao mesmo tempo que o sistema segue mastigando-as. Caçadores de modelos em todo mundo buscam novas modelos em festas, eventos da moda e inclusive shoppings, mas um lugar sinistramente óbvio para encontrar garotas magrelas poderiam ser clínicas para tratamento de anorexia, por exemplo.

Ao menos é o que ocorre no Centro de Tratamento de Transtornos Alimentares de Estocolmo, na capital sueca, onde caça-talentos da indústria da moda recrutam garotas extremamente magras, que em certas ocasiões são incapazes de levantar de sua cadeira de rodas, muito menos desfilar por uma passarela.

Segundo os meios locais, esta prática aumentou muito desde o ano passado nas imediações do centro. As garotas procuradas por estes recrutadores profissionais pelo geral são adolescentes que têm um índice de massa corporal que não supere o 14. Só para comparação, um índice de massa corporal saudável está entre 18,5 e 24,9 para uma mulher adulta. Se quiser saber o seu basta consultar o Cálculo do Índice de Massa Corporal.

O mais preocupante do caso segundo Christina Lillman-Ring, coordenadora de cuidados da clínica, é que as garotas estão recebendo a mensagem equivocada:

- "É terrível. Parte da doença [anorexia] é que elas já tem uma imagem distorcida do próprio corpo, e de repente recebe elogios e uma oferta de trabalho. Não facilita em absoluto o tratamento da doença".

A justificativa legal dos recrutadores é que só oferecem às garotas uma oportunidade para entrar no concorrido e glamouroso mundo da modelagem profissional, mas que não obrigam ninguém a perder peso, motivo pelo qual as ações -por pouco éticas que possam parecer- se encontram em uma zona legal nublada.

O que segue sendo evidente é que o star system precisa de carne fresca para reciclar, pelo que milhares de jovens ingressam em clínicas deste tipo pelo dano que seus corpos sofrem ao tratar de atingir um efêmero ideal de beleza física, que em ocasiões termina em tragédias como a da modelo Ana Carolina Reston, que faleceu em 2006 por complicações relacionadas com a anorexia.

A popularização da anorexia, bulimia e outras transtornos alimentares é uma das tendências sociais mais nocivas dos últimos anos, e afetou particularmente o setor feminino entre os jovens. Fomentadas pela imagem projetada através do mundo fashion, e os novos paradigmas de beleza feminina, milhões de garotas ao redor do mundo enfrentam graves problemas de saúde dentro de seu desejo de ficarem mais magras.

Há que se ressaltar especialmente o fato de que o mundo da moda se apóia na força trabalhista infantil, obcecado pelo padrão corporal adolescente e a juventude extrema. Já notaram como as críticas pululam em relação ao trabalho infantil em qualquer outro âmbito trabalhista, exclusive o da moda, onde parecem privilegiar conceitos como a inexperiência e a vulnerabilidade e que impõe dietas severas a quem começa a mostrar os sinais próprios do desenvolvimento corporal?

Apesar da suposta consciência que agora se tem em torno dos perigos que podem implicar este tipo de transtorno, há muitos sites que promovem o conteúdo Ana e Mia, alguns de forma velada e outros diretamente. Há um par de anos, por exemplo, um grupo anônimo que inclusive foi etiquetado como uma sociedade secreta, denominado On-line Negative Enabling Support Group, fomentava práticas anoréxicas através de blogs e fóruns na Rede e percebia esta doença psico-alimentícia como uma oportunidade de exercer a individualidade. Um claro exemplo de que há muitas pessoas que se recusam a abrir a boca para comer, mas que não resistem em manter o bocão aberto para falar bobagem.

Fonte: IBTimes.