No caso das chamadas princesas, tomadas ademais em vários casos de histórias reconhecidamente folclóricas, estas serviram para difundir e assentar determinadas ideias do que supostamente significa ser mulher, uma feminilidade sumamente estreita, submissa, limitada às necessidades de um modelo patriarcal de pensamento. A mulher deve ser bela, delicada, cortesã, serviçal e ter outras qualidades afins para merecer eventualmente a condescendência de um príncipe azul de cavalo branco sem o qual sua vida não teria sentido.
Em um exercício fotográfico que retoma estas e outras críticas tanto às "princesas Disney" quanto ao estilo de vida contemporâneo que evidentemente entra em contradição com ditas ilusões, Dina Goldstein apresentou sua série Fallen Princesses, Princesas caídas, onde toma a característica mais assinalada de cada uma destas personagens e, não sem certa perversidade intelectual, a converte na própria razão de sua queda em função da renovação conflituosa (porque não pode ser de outro modo) nas circunstâncias do mundo contemporâneo.
Assim, a falsa demanda da beleza que dá sentido à cirurgia plástica, o ciclo de produção, consumo e eliminação que atinge inclusive as relações pessoais, a prática de não ser capaz de admirar algo belo no mundo se não estiver preso em uma galeria ou um zoológico, são algumas destas situações que a fotógrafa combina com ditos ícones culturais imediatamente reconhecíveis.
Fallen Princesses é, em suma, uma boa oportunidade para refletir sobre aquelas ideias e hábitos que, pese não sejam de todo nossos, não nos beneficiam nem nos fazem crescer, ainda assim, quase sempre inconsciente e involuntariamente, terminamos tornando-os próprios, reproduzindo e contribuindo em sua persistência no mundo.
Bela Adormecida: Dormiu e dormiu e nunca acordou, e o príncipe também não deixou de esperar, até que ambos envelheceram e terminaram em um asilo.
Gata Borralheira: cansada de esperar a madrinha e a carruagem para ir ao baile, entrou em um boteco e tomou todas. Hoje em dia não consegue largar a bebida.
Branca de Neve: perdeu seu reino. Casou-se com um príncipe desempregado e vadio e voltou a morar no subúrbio. Ademais tem que cuidar de uma montoeira de filhos e trabalhar tanto quanto em sua infância.
Bela: a passagem do tempo deu um susto danado em Bela e com medo de ficar parecida com a Fera, decidiu não permitir que a natureza dos anos tomasse seu curso. Bela é viciada em Botox.
Ariel: tão única e linda que foi capturada e colocada em um famoso aquário. Seus amigos Sebastião e Linguado trabalham em um restaurante de frutos do mar.
Chapeuzinho Vermelho: a coitada passou tanto tempo de sua vida cuidando da mãe e da avó que nunca teve tempo para cuidar dela mesma. Quando se deu conta do que estava fazendo, chegou a conclusão de que mais nada adiantava. Sua fuga é a comida, muita comida
A Princesa e a Ervilha: foi dispensada na lixeira com seus colchões, uma grande ironia hoje que tantas pessoas se desfazem das outros tão facilmente.
Rapunzel: A lendária melena da Rapunzel foi arrasada por um tratamento de quimioterapia.
Pocahontas: uma agorafóbica rodeada de gatos, um cão, e uma profunda depressão por seu amor perdido.
Yasmin: Dina Goldstein diz que se inspirou nas mulheres combatentes do Iraque.
Fonte: The Daily Beast.
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Comentários
Está ótimo. Abaixo a hipocrisia!
Só gostei da Branca de Neve (por conta da situação e da expressão bovina dela) e da Ariel (por ser a Ariel). O resto, achei estranho e sem graça.
Gostei da Ysamin, ficou melhor que antes.
Adultos precisam de estoria tambem, porque a realidade é uma droga. Videogame serve tambem. Alguns apelam para a bebida, drogas e o pior, religião. O ser humano precisa mesmo de um catarse.
Chapéuzinho Vermelho tá muito gata *-*
O texto do Admin ficou muito bom, mas estas fotos estão uma merda.
Mesmo achando divertidas as comparações feitas as princesas num mundo mais real, não vejo esse propósito de lavagem cerebral para meninas que falam, como a Barbie também. Na infância brinquei de Barbie, assisti Branca de Neve milhares de vezes, mas também joguei bola, empinei pipa, brinquei de bola de gude e dominó, bicicleta e patins, skate e joguei muito videogame, perdi as contas que quantas vezes ralei os joelhos e nem por isso deixei de ter muitos namorados. Nunca fiquei presa a ideais de beleza e feminilidade, muito pelo contrário, gosto de estar bonita sim, mas isso não me impede de ser feminista. Mas acho que isso é para pessoas que tem a mente boa, quem não tem procura algo para ficar obcecado, seja com o que for.
Cultuei esse Mundo Mágico, e por ser fantasia, acho que não devemos
ser sérios com fantasia. Só sei que era muito gostoso o meu Habitat com esses habitantes. Inocência hoje é sinônimo de Idiotice, rola aí um Funk, que vamos fazer um quadrado de 24 rsrsrrsrrs
Muito legal.
Já descobri dessas ''mensagens'' que esses desenhos passam.
Que isso....
Então, não sei o que comentar vendo isso e ouvindo A Great Day for Freedom. Me senti louco de dorgas... hehe...
Se é de mal gosto não sei. Às vezes a vida é meio de mal gosto, né? :wink:
Sinceramente achei de mau gosto! Sempre fui acostumada a contar histórias para os meus filhos, essas, e tantas outras que inventei. A gente tem que separar as coisas: criança tem que ser criança enquanto é criança. Com o passar do tempo as opiniões vão se formando, com ajuda dos pais, professores e sociedade em geral. Não é a Cinderela ou a Branca de Neve que vai ensinar conduta às nossas filhas, e sim nós, os pais.
Interessante.