![]() | Confesso que a princípio a reação do jogador brasileiro Daniel Alves em comer uma banana jogada pelo torcedor espanhol me chamou a atenção de forma positiva, inclusive quando começou a viralização da hashtag #somostodosmacacos nas redes sociais. Mas a coisa toda começou a degringolar quando descobri que não foi um gesto espontâneo de indignação, senão uma sacada publicitária de uma agência de marketing. |

Junte-se a isso o oportunismo de Luciano Huck tentando lucrar com um problema bastante delicado e que afeta a vida cotidiana de milhões de brasileiros, mas certamente não a dele, que decidiu vender camisetas da campanha por 69 reais.
Neste caso, o que a gente pode perceber é que os protagonistas estavam mais preocupados com a imagem que queriam projetar deles mesmos do que, necessariamente, a repulsa contra um racismo que provavelmente eles sequer admitam que existe. Dessa forma, não deixa de ser irônico que a lista de pessoas exibindo ou comendo bananas seja na maioria de brancos. Gente que, na minha opinião, faz questão de guardar uma calculada apatia quando o racismo denunciado nas redes sociais se manifesta não contra um abastado jogador de um grande time europeu, mas sim contra anônimos -os que compram seus discos, assistem seus programas, compram seus livros- submetidos diariamente às muitas formas de violência física e simbólica, como, por exemplo, o de ser chamado de macaco no Twitter (já vou falar sobre isso) e não acontecer nada.
O que me parece contrastar com a onda de indignação que ronda ao largo e logo da rede é que na mesma semana que aconteceu este alarido todo, um juiz da 10ª Vara Criminal da Justiça do Estado de São Paulo, inocentou o Danilo Gentili, que estava sendo acusado de racismo por ter chamado um internauta negro de macaco no Twitter, lhe oferecendo quantas bananas quisesse. A justificativa do juiz foi que Danilo, mesmo que tenha tratado o internauta de forma agressiva, não pretendia ofendê-lo, tinha apenas a intenção de fazer rir.
Eu gosto do Danilo, rio da maioria das suas piadas, mas como todos sabemos existe um limite mesmo para as piadas "politicamente incorretas" -está ficando manjada esta desculpa de se esconder atrás do humorismo para ofender as pessoas- e não me pareceu de forma alguma que ele queria fazer graça, ainda que tivesse atenuantes. Não obstante, a absolvição do comediante que estava sendo processado por praticar exatamente o crime que um sem número de internautas e celebridades tanto condenaram sem que nenhum deles tenha manifestado, nem agora nem na ocasião, um esboço de repúdio, pode nos dizer muita coisa.
Esta aparente incoerência revela nos a lógica pervertida de grande parte destes convertidos repentinamente ao ideário anti-racista, assim como a perversão que pode ter sofrido a trajetória de luta contra o racismo no Brasil.
Parece evidente, no entanto, que a iniciativa de Neymar, amigos e publicitários parece válida por fazer com que o assunto seja discutido. O ato falho (ou não) resultou em milhares de tweets e compartilhamentos sobre um comportamento comum dispensado no tratamento aos negros e demais minorias: piadas ofensivas, salários diferenciados, comentários insultuosos, humilhações públicas, olhares tortos, anúncios de emprego pedindo pessoas de boa aparência e toda esta gama de coisas idiotas.
De qualquer forma não posso me furtar de dizer que as celebridades e seus seguidores que preferiram o espetáculo (não deixa de ser coerente) de se imaginarem como macacos exibindo suas bananas, se equivocaram feio em tentar traduzir em um gesto vazio décadas (ou séculos?) de humilhação. Ademais, claro, vendendo camisetas.
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Comentários
Talvez, porque consentizara poucas pessoas, principalmente no futebol.
Já sofri com racismo. Atos aleatórios, sem sentido ou justificativa de pessoas que não querem nada além do ódio.
E o pior é que quando falo que fui vitima de racismo pessoas erguem sobrancelhas, "mas és branco, três de quatro de seus avós sequer são brasileiros e está a me falar de racismo?" como se racismo fosse unidirecional. (Racismo é onidirecional, dizer que é unidirecional está em par com 'mulheres são vitimas, homens agressores' e outros preconceitos aos quais as pessoas se prendem tão firmemente).
E nessa "campanha" há mais um problema, ela não é amigável a pessoas que possuem origens diferentes da negra, o caso da campanha que entendi ser resposta a banana lançada ao jogador negro, o que pode gerar em ainda mais problemas como, citando o mais simples, uma "desilusão" pois a pessoa não apresenta características físicas e/ou culturais de algo que "todo o resto é".
Jogadores de futebol não são exatamente as criaturas mais simpáticas do planeta. Lembro de um atacante que falava em campo aos seus marcadores, zagueiros de times pequenos, que o salários destes sequer pagava a comida do seu cachorro. Também foi um "elogio" semelhante feito por Materazzi à irmã de Zidane que levou à famosa cena da cabeçada da copa de 2006, que virou até estátua na França.
O abismo existente entre o orçamento dos times tidos como grandes e o dos times pequenos é gigantesco, uma verdadeira ofensa aos pobres. Os últimos 9 títulos do campeonato espanhóis foram vencidos ou pelo Barcelona ou pelo Real Madrid. O futebol transformou-se em um embate desproporcional entre muitos Davi's e poucos Golias.
Metade da população jovem da Europa encontra-se desempregada, a "geração perdida". A produção das suas indústrias encontram-se na Ásia; as sedes em paraísos fiscais; e os investimentos em lobbies políticos.
Penso que os recentes acontecimentos de arremessos de bananas seja apenas a ponta de um problema muito maior, que não se relacionam ao racismo ou conflitos étnicos. Assim como a letra da música "É" de Gonzaguinha, trata-se de uma gente que está cansada de ter a bunda exposta na janela prá passar a mão nela...
Quem discordar que coma a primeira banana.
Em 1958:
"por 'complexo de vira-lata' entendo eu a inferioridade em que o brasileiro se coloca, voluntariamente, em face do resto do mundo" - Nelson Rodrigues.
Hoje:
Bananas e somos todos macacos.
Amanhã:
De certo serão pamonhas.
Do resto o celebre Haiduqque expressou o que penso. Nada mais a acrescentar.
Por que houve racismo? Por causa da banana? Então devo supor que os donos de supermercados onde vendem bananas, são racistas? E os feirantes que vendem bananas, são racistas? E as pessoas que compram bananas do supermercado e da feira, são racistas?
Banana é bom, tem potássio, vitaminas do complexo B, magnésio e fibras.
Joguem bananas aqui pra mim, e mamões, maçãs, abacates, caquis, abacaxis, laranjas e limões... Fico feliz.
Quem dera jogassem bananas lá na Etiópia, onde os coitadinhos morrem de fome...
Sabem desde quando existe preconceito no mundo? Desde que o mundo é mundo.
Sabem quando vai acabar o preconceito no mundo? Quando acabarem com a raça humana, aí acaba o preconceito.
Mas hein?
MDIG, MDIG, MDIG... Por isso não passo um único dia sem verificar por novos posts. Agora soa muito óbvio e claro o oportunismo dessa classe de aproveitadores do mérito alheio para si mesmo. Apesar me me achar crítico com relação ás vias que o marketing nos incita á tomar foi necessário ler estas poucas e esclarecedoras palavras:"..senão uma sacada publicitária de uma agência de marketing". Esclarecedora a forma como ficou evidenciada uma forma básica de manipulação em massa: O efeito manada encabeçada pelos formadores de opinião.
Ao ADMIN, meus parabéns pelo excelente texto e minha gratidão por ter aberto mais meus olhos para as mazelas da mídia. Assim nos tornamos menos vítimas...
Eu admirei a atitude do Daniel,sempre que alguém jogava banana pra algum jogar eu pensava nisso, 'porque ele não pega e come', e Daniel teve a brilhante ideia de fazer isso.
Agora essa campanha de que todos somos macacos acho uma tremenda de uma apalhaçada. E fiquei mais indignado ainda, ao saber que era uma jogada de publicidade,se fossem apenas fotos com bananas sem # nenhuma e de espontânea vontade seria perfeito.
Revolt4d4 falou tudo.
Defesa do Gentili www.respostaaacusacao.blogspot.com.br (não acompanhei este caso, então nada a opinar).
Quanto ao caso do Daniel, acho que ele se esquivou bem do que poderia ser uma ofensa, só. Eu não aderi a essa campanha e nem pensei, senti o cheiro de podridão logo.
Todos somos preconceituosos (admitir isso é que deveria estar estampado).
Os dois comentários seguintes ao meu reforçam meu pensamento sobre o ser humano: o preconceito "evoluiu" bastante, ao longo do tempo, pois à medida que novas diferenças entre as pessoas surgem, com elas também nascem discriminações.
Num artigo que indiquei, o autor diz que o gesto de atirar uma banana em campo está mais para um ato de bullying que de racismo (provavelmente, o juiz que inocentou esse Gentili tenha raciocinado de modo parecido). Racismo, tecnicamente, é querer dividir a raça humana em outras subespécies; mas este é um conceito biológico e não vou entrar em detalhes. Em termos de sociologia, o racismo significa a tentativa de uma raça (o termo científico correto é etnia) ser superior a outra(s), utilizando-se, para isso, de expressões de ódio e comportamentos derivados e/ou que reforcem tais atitudes. Nisso, entra a tão conhecida segregação étnica.
Não tenho a mínima intenção de defender uma ou outra etnia e, muito menos, os preconceitos de cada uma, mas vale lembrar um questionamento que muitos fazem, em discussões sobre este assunto: se um ato de bullying de um branco contra o negro (como o sofrido pelo tal jogador) é considerado racismo, então o de um negro contra um branco também é? Alguns dirão que sim, outros dirão que não. Qual seria a interpretação da Lei? Que tipo de atitudes/comportamentos ela considera como racismo? O racismo é válido somente para qualquer etnia? Se um negro pratica bullying contra outro negro, pode ser considerado racismo?
Se qualquer ato de bullying for considerado crime de preconceito/discriminação, então a "lista de opções" não teria fim, pelo motivo que expliquei no meu primeiro parágrafo. O comentário do Haiduqque complementa meu raciocínio.
Essas celebridades...
:D
O racismo está morrendo de medo das selfies com uma banana. ^^
Embananaram tudo.
Já somos a República das Bananas.
O tema do filme de Wood Allen se encaixa direitinho no perfil do país.
Quero ver quais políticos essas celebridades vão apoiar.
Se esses babacas brancos, pretos, mulatos, mestiços, verdes, azuis, (ah, de qualquer cor) exibindo bananas para se promover dependessem de mim para ganhar dinheiro, já teriam morrido de fome. Primeiro porque não suporto suas "músicas" nem seus "programas". Segundo porque quase não assisto tv. Terceiro porque não dou a mínima para suas existências ou inexistências. E, finalmente, quarto porque não sou fã de ninguém, nem ninguém é meu ídolo. Ninguém é melhor do que ninguém, nem com fama, nem sem fama. Portanto, quero mais é que enfiem as bananas lá no fuleco. :twisted: :twisted: :twisted:
Povinho de merda, esse....
:-/
Os preconceitos não desaparecem por decreto nem por campanhas publicitárias bem intencionadas.
Os preconceitos nascem e morrem dentro de cada ser humano alheios à razão e à lei.
A minha razão diz-me que é ridícula toda esta estória do macaco e da banana. Se eu for chamado de macaco é igual a me chamarem de leão ou girafa. Atirarem banana para mim teria o mesmo sentido que atirarem papaia - não faria sentido algum.
Outro lado do problema, é que o preconceito étnico ou o da cor da pele, deviam ser tão intoleráveis quanto outro preconceito qualquer, mas a verdade é que há uma hierarquia nos preconceitos.
Há os preconceitos proibidos e os tolerados. Os preconceitos étnicos, religiosos e os que discriminam as opções sexuais são crime. Os preconceitos que discriminam a beleza física, a inteligência ou a pobreza são socialmente aceites e não são crime.
Assim, por exemplo, um judeu homossexual pode discriminar um feio pouco inteligente, alegando que ele "não reúne as condições necessárias" para lhe dar emprego, ou simplesmente para conviver com ele. O inverso será crime.
Quantos negros, vítimas de preconceito, não são eles também preconceituosos contra homossexuais? E o inverso?
pensado ou não, o gesto do Daniel Alves foi fantástico. O que não é fantástico é um bando de outdoors ambulantes (celebridades e subcelebridades) querendo aparecer com isso. acho q depende de cada cidadão separar o joio do trigo.. fod*sse esses "artistas" q só aparecem na costa dos outros, e não por seus próprios atos. sim para a campanha #somostodoshomosapiens
Se for pra julgar os modos dessa sociedade, tal campanha já se mostra totalmente inefetiva, tanto que a maior parte dos "apoiadores" que são famosos, estão aderindo, mas superficialmente...
Sinceramente essa campanha vai ser esquecida em uma ou duas semanas no máximo,isso ta mais para uma jogada para as celebridades ganharem alguns fãs e quando surgir outro assunto de que de para eles se aproveitarem nem vai se falar mais nisso . Como politico honesto disse "Algo que existe há vários anos não será contornado com uma mera campanha – oportunista, ainda por cima".(perdoem os erros de portugues, meu teclado esta ruim e eu estou digitando no teclado virtual do google :P)
Pessoa acima do peso = Baleia
Pessoa muito alta = Girafa
Pessoa falsa = Cobra
Pessoa sem higiene = Porco
Pessoa fácil de enganar = Pombo
Pessoa com nariz grade = Tucano
Pessoa com orelha grande = Dumbo
Pessoa com pernas compridas = Garça
Pessoa que ri engraçado = Hiena
Homem Homossexual = Veado
Homem safado = Cachorro
Mulher safada = Vaca / Galinha / Piranha
O correto seria #SomosTodosHumanos
Tenho uma tese de psicologia que explica a não evolução do ser humano. O ser humano não evoluiu em nada em seu caráter, sua inidoneidade ou seu espírito. Somos enganados pela evolução das coisas (objetos) que usamos em nosso dia a dia. E uma das provas dessa teoria é o preconceito, o racismo.
Foi como o 'Politico Honesto' disse: "Algo que existe há vários anos não será contornado com uma mera campanha...". Não criticando, mas ele ainda foi bem discreto em seu comentário usando a palavra "anos", pois para mim já são milênios!
Permita-me fazer um comentário: A idiossincrasia brasileira em relação à temática chega ser patética comparada às outras nações, que trataram o assunto de maneira, digamos, mais profunda ! (EUA, África do Sul, etc)
Algo que existe há vários anos não será contornado com uma mera campanha – oportunista, ainda por cima.