"Cocô" pode ser um assunto de humor excêntrico ou de vergonha no Ocidente, mas para milhões de pessoas em países subdesenvolvidos ao redor do mundo, o saneamento não é brincadeira. De acordo com as Nações Unidas, 2,5 bilhões de pessoas não têm acesso a um saneamento adequado, e quase 1,2 bilhões praticam a defecação a céu aberto, a prática sanitária mais arriscada de todas, com consequências dramáticas para a sua saúde, dignidade e segurança além de prejuízos para o meio ambiente e desenvolvimento social e econômico. |
A nível mundial, 526 milhões de mulheres são obrigadas a ir ao banheiro a céu aberto. Como não têm acesso a um banheiro que ofereça privacidade, elas são forçadas a esperar até a noitinha antes de sair de suas casas, quando podem ser submetidas a ameaças físicas e violência sexual. Para destacar essas questões, a World Toilet Organization, uma organização global sem fins lucrativos, criou o "Dia Mundial do Banheiro", celebrado a cada dia 19 de novembro de cada ano.
Para marcar a celebração de 2018, fotógrafos da Panos Pictures trabalharam para produzir uma exposição que documentasse as mulheres e meninas em seus banheiros, mostrando o efeito que isso tem sobre suas vidas.
O "Dia Mundial do Banheiro", quer criar consciência ao colocar um holofote sobre a ameaça da violência sexual que as mulheres e meninas enfrentam devido à perda de privacidade, bem como as desigualdades que estão presentes na usabilidade.
Os banheiros geralmente continuam a ser insuficientes para populações com necessidades especiais, deficientes e idosos tanto quanto para mulheres e meninas que requerem instalações adequadas para gerir a sua higiene menstrual. Sem banheiros acessíveis para essas populações, elas permanecem na faixa de exclusão de oportunidades para frequentar a escola e conseguir um bom emprego.
Eu sei que, à princípio, pode parecer um assunto escatológico para um post no MDig, mas as dificuldades de algumas pessoas para usar um simples banheiro são reais, o conteúdo é sério. Ademais é uma "necessidade" que todos fazemos e não há porque evitar falar sobre o assunto por simples convenções sociais.
Madagascar. Vanessa, 17 anos, é uma estudante que vive em Antananarivo. Ela diz que se preocupa quando está em seu período na escola. Pois em casa, ela tem um chuveirinho e pode manter-se asseada quando necessita, mas quando está na escola, ela se sente envergonhada, pois não há espaço para se trocar ou lavar-se. Ela fica preocupada que seu absorvente possa vazar.
Romênia. Ghita, 48 anos, da aldeia de Bosco, ela diz que é a dona de um dos maiores banheiros na aldeia, com 20 metros quadrados. 35% da população da aldeia de Bosco são ciganos, que são prósperos. No entanto, não há água corrente ou saneamento básico no local.
Brasil. Lorena, 16 anos, é uma estudante que mora em uma das favelas do Rio de Janeiro. Ela conta que sua casa não tem banheiro, mas que está trabalhando muito para tentar construir um. Por enquanto ela está usando as instalações da casa de sua mãe. Para piorar a situação, só nas quintas-feiras e domingos a água chega na favela. Por isso seu sonho seria ter um banheiro com água corrente abundante.
Índia. Saritadevi vive na aldeia Ittava em Uttar Pradesh. Ela não tem banheiro em sua casa e por isso evacua no mato. Ela diz que se sente indigna e sem privacidade quando necessita fazer suas necessidades: é humilhada por homens e alguém já atirou pedras contra ela, fazendo gestos vulgares.
Bangladesh. Rubina, 38 anos, vive em Mollar Bosti, uma favela em Dhaka, por 3 anos. Ela se mudou do campo quando o marido conseguiu um emprego na cidade. O banheiro que ela usa é conhecido como "casinha compartilhada" e está situado a 20 metros da casa dela. Rubina diz que, uma vez, no meio da noite, foi ao banheiro e alguém bateu na porta com tanta força que pensou que estavam tentando arrombar. Ela ficou muito assustada e, desde então, tem medo de usar o banheiro depois das nove da noite,
Bélgica. Rosalie, 9 anos, estuda em uma escola, em Bruxelas. onde há banheiros separados para meninos e meninas em cada andar. Sua sala de aula fica no 3º andar, onde os alunos têm 22 banheiros, que são compartilhados entre 230 alunos e 20 adultos.
Moçambique. Assucena, 14 anos, é uma estudante da 8ª série que gosta de estudar e jogar futebol. Ela vive com sua mãe, avó, irmã e dois primos. Sua avó vende cerveja para sustentar sua família. Assucena compartilha um banheiro com mais de 30 outras pessoas de famílias diferentes. Ela reclama que quando chove, as inundações cheiram muito mal.
Tailândia. Sineha, 71 anos, usa um banheiro público que fica dentro do templo que ela visita. Eles são convenientes e limpos diariamente por uma faxineira. É um lugar seguro, porque há seguranças ali 24 horas por dia. E os banheiros são separados para homens e mulheres.
Inglaterra. June trabalha na secretaria de loteamento da estrada de Gordon, em Finchley, norte de Londres. Ela conta que todos estão habituados a usar um banheiro portátil, que deve ser trocado de tempos em tempos por causa do cheiro fétido.
Zâmbia. Susan, 46 anos, é a fundadora de uma escola da comunidade para crianças com deficiências físicas e mentais. Ela foi contagiada pela poliomielite quando tinha dois anos e acha que não é fácil ser deficiente em Lusaka. Usar o banheiro é um desafio, especialmente na estação das chuvas, já que ela deve rastejar para os sanitários comunitários.
EUA. Mary é uma escritora que vive em Nova Iorque. Ela vive com duas companheiras de apartamento e acha importante que cada uma agende seu tempo no banheiro e revezem para limpá-lo. Ela vivia em Pequim, onde costumava usar um banheiro público já que seu apartamento não tinha banheiro privado. Ela conta que odiava ter que colocar um casaco ou roupa de frio apenas para ir dar uma mijada no meio da noite durante o inverno. Essa experiência a fez apreciar a privacidade e conforto de ter um banheiro limpo em casa.
África do Sul. Nombini tem dois porta-cocôs (caixas de isopor), que são usados pelas 12 pessoas que vivem em sua casa. Quando ela se mudou para Khayelitsha, em 2009, ela não tinha banheiro, motivo pelo qual tinha que cagar no mato e ficava envergonhada quando estava lá agachada e de repente um farol de carro denunciava a sua infeliz condição. Quando ela ganhou seu primeiro porta-cocôs em 2012, achou muito melhor do que ir no mato.
Romênia. Pana, 49 anos, vive em Buzescu. Como quase metade da população romena, ela vive no campo, onde não há água corrente ou saneamento básico fornecido pelo município. Pana tem um banheiro dentro de sua casa, mas ele é usado apenas por seus sobrinhos quando eles a visitam. Ela usa o banheiro do lado de fora, até mesmo no inverno.
Moçambique. Flora, 19 anos, é uma estudante do ensino médio. Ela mora em Chamanculo, em Maputo, com sua mãe, irmã e sobrinha. Ela divide um banheiro com várias outras famílias que vivem nas proximidades. Ela conta que odeia usar o banheiro, porque às vezes os homens espreitam por cima da cerca. Não há privacidade nenhuma, segundo ela.
Quênia. Eunice é a co-fundadora da
Escola Kasarani em Naivasha. Anteriormente, a escola só tinha dois banheiros que eram usados por 250 alunos. Os inquilinos que vivem nas proximidades também usavam os banheiros deixando-os em condição de petição de miséria. Devido a isso, Eunice descobriu que as crianças preferiam defecar ao ar livre nos jardins ao redor da escola, o que rapidamente tornou-se um problema de saúde pública. Eunice e seu marido Paul então investiram em instalações sanitárias para crianças: estas minúsculas casinhas impedem o uso pelos adultos da vizinhança já que não conseguem passar através das portas. Ela conta que agora os pais matriculam seus filhos na escola por causa dos banheiros amigáveis da criança.
Japão. Eiko, 61 anos, vive em Tóquio. Como este centro comercial fica perto de sua casa, ela vai até ali fazer compras muitas vezes. Ela lembra que quando era criança, os banheiros públicos não eram tão limpos e cheiravam mal, mas toda vez que usa este banheiro, ela se sente relaxada. Em geral, os banheiros de centros comerciais no Japão são um exemplo extremo de um bom saneamento e tem recursos como música ambiente e assentos aquecidos. No lavabo ao lado dos banheiros, Eiko pode carregar seu celular, ver televisão e massagear os pés, transformando a função diária básica que todos nós temos de fazer em uma experiência prazerosa e multissensorial.
Índia. Sangita, 35 anos, mudou-se para Nova Delhi há 10 anos. Antes ela vivia em uma aldeia onde usava dejetar no meio do mato, e diz que sentia vergonha disso. Isso fez com que ela insistisse que teria seu próprio banheiro em Delhi.
Haiti. Martine, 27 anos de idade, mora perto de um rio em Cayimithe. Ela conta que não tem um banheiro fechado. Seu banheiro, em verdade, é um buraco no chão da sua casa, que está cheio até a boca e tornou-se muito perigoso. Ela só usa o fosso de noite, quando pode ter um pouco de privacidade. De dia, ela vai até um banheiro comunitário, que fica a cerca de 15 minutos de distância da sua casa.
Gana. Ima, 47 anos, é zeladora de um banheiro público em Kumasi, a segunda maior cidade de Gana. Ela mora em um quarto alugado com o marido e os quatro filhos com idades entre 14-22. Ela é uma funcionária muito dedicada e conta com a renda de seu trabalho para pagar a educação de seus filhos. Ela não tem um banheiro em casa. Durante o dia, ela usa o banheiro público onde trabalha, mas à noite ela é forçada a usar sacos de plástico, uma vez que não é seguro caminhar longas distâncias no escuro.
Etiópia. Meseret, uma gerente de restaurante em Adis Abeba, compartilha uma casa do governo de um quarto com seus dois filhos, duas irmãs e mãe. Ela ficou viúva quando o marido foi baleado durante o rescaldo das eleições de 2005. Seu banheiro compartilhado fica muito longe; portanto, à noite, para a segurança, a família usa o pátio lateral ao lado de sua casa.
Equador. Fabiola, de 69 anos, vive em Cumbayá, um vale perto de Quito. Entre os 7 e 21 anos, ela compartilhou um banheiro com 20 outras pessoas, que viviam em seu condomínio. Agora ela vive em um grande apartamento, que tem cinco banheiros. Seu banheiro é o maior deles e ela tem muito orgulho disso já que sua situação atual contrasta vivamente com a de sua infância.
Brasil. Isabela, de 33 anos, vive sozinha em uma cobertura no Rio de Janeiro. Ela tem um MBA em direito ambiental e trabalha como artista plástica. Isabela conta que seu lavabo significa conforto para ela, mas diz saber o que está por trás disso: abastecimento de água, esgoto, poluição de lagos e oceanos. Pese que, como toda brasileira, goste de pelo menos 10 minutos de uma boa chuveirada, antenada com os problemas ambientais ela sabe que é uma privilegiada por ter uma fonte de água limpa e quentinha e um confortável assento no vaso sanitário.
Austrália. Renee é um artista que deixou sua antiga casa nos subúrbios de Sydney densamente povoados para viver uma vida mais calma em uma área rural que fica a uma hora ao norte da cidade. Nos dez hectares de terra ela construiu um galpão que incorpora um lavabo e banheiro na área externa. Ironicamente, Renee pode desfrutar de total privacidade em campo aberto já que sua propriedade é cercada por mata selvagem e floresta, longe de outras casas.
Bangladesh. Sukurbanu, 65 anos, vive na favela de Rupnagar, em Daca, desde a infância. Ela usa um banheiro suspenso -uma plataforma de madeira e bambu construída sobre a água- no qual ela recentemente caiu. Ela diz que muitas vezes sofre de doenças que acredita que são causadas pelo uso desses banheiros. Ela vive com três filhas, que enfrentam longas filas para ir ao banheiro antes de ir para o trabalho de manhã.
Fonte: Independent.
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Comentários
carai, e eu reclamando da vida, seloko...cago de boa em casa e no trampo, ver os perrengues q essas pessoas passam pra fazer sua necessidade básica é foda, poha, até a menina lá falando q uns cara ficam espreitando e não têm paz nem pra isso, pqp...realmente, apesar dos pesares, sou privilegiado
Bom para vermos como somos privilegiados, e não damos valor a coisas que pra nós são corriqueiras.
Vi a tempos atras um filme chamado o banheiro do papa filme argentino fantastico que mostra o quanto muda a vida de uma familia ao usufluir um banheiro com condições de saneamento adequadas.
Veja voces tambem é emocionante,maravilho,ganhou até oscar.
Curioso, heim ???
Bah...
cocozinho,
para algumas, é na balada,
brinks
Post interessante para pensarmos como algumas coisas banais que temos são privilégios para alguns.
Nenhuma mulher merece isso.
É bom olhar outras realidades e ver quanto somo privilegiados.
Que merda de post...