Durante séculos, a agricultura foi a principal fonte de renda para o povo de Asola-Fatehpur Beri, aldeia no norte da Índia. Mas nos últimos tempos, os homens de Asola conseguiram reinventar completamente a si mesmos: de agricultores pobres se transformaram em guarda-costas e leões de chácara fortes e bem malhados. Hoje, quase 90% dos homens da aldeia estão empregados como seguranças em casas noturnas em cidades próximas como a capital Nova Delhi. |
- "Nesta aldeia, não há um único menino que não vá à academia", disse Vijay Pahelwan, principal treinador da "akhada" (academia) local. - "Todos os meninos se exercitam. Eles são muito cuidadosos com seu corpo. Ninguém bebe e nem consome tabaco". A maioria dos meninos começam a lutar em uma idade muito precoce, na esperança de ir para as Olimpíadas. Mas eles sempre têm a opção de se tornarem um segurança ou guarda-costas.
O jovem aluno de wrestling Keshav Tewar, por exemplo, passa a maior parte de seu tempo no ginásio treinando.
- "Não importa o que vou ter quando eu crescer, eu quero ser um leão-de-chácara", disse ele. - "Seguranças têm corpos malhados e quero deixar o meu corpo em forma também".
- "Eu frequento a academia desde que tinha 15 anos. E o meu desejo era trabalhar com segurança pessoal e hoje eu faço isso", disse Viju Tewar, pai do jovem Keshav. - "Agora quero que meu filho também se torne um segurança e tenha um físico saudável".
Tornar-se um leão-de-chácara, é claro, não é um tarefa muito fácil. Os rapazes são submetidos a sessões de treino esgotantes que duram de duas a três horas por dia. Como parte de seu treinamento, os rapazes levantam motocicletas e tratores, e também praticam ioga. Sendo principalmente vegetarianos, os alunos também precisam seguir uma dieta específica para ajudá-los a ganhar massa muscular.
- "Minha sugestão é que bebam pelo menos três a quatro litros de leite por dia", disse Vijay. - "Mais uma dúzia de bananas e cerca de meio quilo de fruta. Durante o almoço, eles também consomem uns 2 quilos de iogurte com três a quatro pedaços de pão sírio. À noite, eles devem comer apenas dois pedaços de pão sírio e 1,5 litros de leite com infusão de amêndoa".
O equivalente não vegetariano da dieta inclui um frango inteiro cozido, 10 claras de ovos, uma dúzia de bananas, e 10 litros de leite em um dia.
Dominado pela comunidade Gujjar, Asola está lentamente começando a aceitar os "leões-de-chácara" como uma profissão legítima. É difícil dizer como a ocupação foi introduzida pela primeira vez em Asola. De acordo com Vijay, tudo começou quando ele estava trabalhando na akhada da aldeia uma manhã, há 15 anos, quando foi abordado por um dono de pub, que lhe ofereceu 10 mil rúpias (uns 400 reais) para proteger cinco meninos em um casamento em Nova Delhi. O dinheiro era mais do que todos os rapazes da aldeia já tinham visto antes, então ele agarrou a oportunidade.
Agora, os seguranças de Asola recebem em torno de 1.500 rúpias (75 dólares) por noite e ganham entre 2.000 a 2.500 reais por mês. Eles são contratados, desde que tenham um físico invejável e sem antecedentes criminais. Mas Vijay insiste que os meninos terminam o ensino médio antes de começar a trabalhar.
- "As pessoas às vezes olham para nós de maneira errada", disse Vijay. - "Eles acham que nós somos criminosos. Mas qualquer garoto que pega duro na academia de dia e à noite vai para o trabalho não está cometendo nenhum crime. Na verdade, nós incentivamos o bom comportamento para com outras pessoas".
Dado o boom imobiliário na região, que quase triplicou os preços dos terrenos nos últimos cinco anos, a maioria dos moradores optaram por vender suas propriedades para os empreendedores e ocupar postos de trabalho em vez disso. As mulheres da aldeia também estão muito felizes com a evolução.
- "Estou muito orgulhosa deles. Eles ajudaram nossos filhos a ficar longe de cigarros, drogas e todos os tipos de bebidas alcoólicas", disse Rekha Tanwar, a esposa de Vijay.
- "Pense em nós como protetores sem os quais você não pode tocar seu negócio", acrescentou Vijay. - "Estamos provavelmente na vila mais saudável em Delhi. Nossos meninos não fumam, não bebem nem assistem filmes de pornografia".
- "Nossos rapazes são a melhor coisa de Delhi", insiste Raj Tanwar, o dono da akhada da aldeia. - "Quando você vê alguém que tem duas vezes o seu tamanho, vai pensar duas vezes antes de arrumar encrenca".
Embora a maioria dos homens de Asola estejam felizes com sua escolha de carreira, alguns não estão assim tão animados. Kuldeep Tanwar, 27 anos, que trabalha como segurança em uma faculdade privada perto da aldeia, disse:
- "Nós ganhamos dinheiro para ficar em pé o dia todo, não é uma situação muito feliz. Esperemos que a próxima geração seja melhor. Eu não quero isso para os meus filhos. Tomara que tenhamos médicos, advogados, engenheiros".
Fonte: Telegraph India e India Today.
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Comentários
Interessante, heim ???
Curioso isso....
:-/
Orra, que caras parrudos... 8O
Não vejo como pobreza de espírito, é o que a situação deles permite.
Minha família tem suas gerações meio descontroladas, porque meus bisavós passaram dos cem anos, e meus avós estão quase passando. Então esse contato com eles me serve de experiência no sentido de dizer que é difícil desapegar de certos costumes e fatores culturais; imaginem num povoado, então...
Q pobreza de espirito
Gostei.
Esporte, ausência de vícios, estudo.
A mistura é saudável e compreendo que queiram mais. Como a disciplina e constância já faz parte da vida deles acho que vão conseguir formar profissionais como o último rapaz falou.
São invejáveis, sem dúvida. Ainda mais nas condições em que vivem. Fizeram da prática do fisiculturismo algo digno.
Tudo vale à pena se alma não é pequena. Enquanto isto, aqui no Ocidente, gente com todas as condições sociais pra serem cidadãos agem como se cobrassem imposto por sua "admirável" presença. Vi o caso daquele rapaz, modelo, playboy, que vivia de dar pequenos golpes e agredir gente humilde no Paraná. Fiquei revoltado. O cara bateu num senhor taxista pra tomar-lhe o carro e ainda postou na internet. O valor agregado à prática do "culto ao corpo" no país é completamente equivocado. Lamentável.
Na Índia, felizmente, ha sempre a possibilidade de transformar algum comportamento em uma prática louvável. Não é sempre, mas, eles têm sabedoria suficiente pra ter escolhas. Os desta cidade, ao que parece, estão de parabéns.