A vida de um carregador Sherpa do Nepal

É difícil imaginar que em pleno século XXI exista uma profissão como esta. Os carregadores Sherpas do Nepal são a salvação para estas regiões montanhosas isoladas. Eles levam e trazem produtos necessários a aldeões que nunca chegariam ali de outra forma. Seu Tsewang Dorje, 66 anos, não tem um endereço permanente. Ele é um carregador de ovos, que ele leva em uma estrutura de ferro que suporta uns 840 ovos, pesando mais de 70 kg, mas o peso não é nem de perto o seu maior problema.

A caminhada de Seu Tsewang pode variar entre 120 a 200 quilômetros, com diferença de até 3.500 metros de altitude entre origem e destino... que ele cobre em mais ou menos 2 semanas. Como o forte e resiliente homem é muito cuidadoso, durante toda essa jornada ele quebra não mais que um par de ovos. Se você costuma reclamar de seu emprego, basta pensar que para esta peregrinação pelo Himalaia, Seu Tsewang recebe cerca de 300 reais.

O povo Sherpa é um grupo étnico do Nepal que vive nas altas altitudes do Himalaia há gerações. Há muito que servem como guias e carregadores, cuja experiência local tem sido inestimável para estrangeiros que tentam escalar na área.

Mas embora sejam admirados pela facilidade com que lidam com os desafios físicos de escalar alguns dos maiores picos do mundo, as razões biológicas para a sua capacidade de escalar montanhas permaneceram desconhecidas até 2016. Depois de séculos vivendo em grandes altitudes, a população Sherpa evoluiu para dominar a capacidade de sobreviver nesta atmosfera.

As mitocôndrias dos sherpas são muito mais eficientes no uso de oxigênio. É como se fossem carros com baixo consumo de combustível obtendo mais energia com menos oxigênio. A microcirculação deles também é diferente. Esta forma de circulação sanguínea ocorre nos vasos sanguíneos mais pequenos e determina quão bem o oxigénio chega aos músculos, tecidos e órgãos, portanto, quão bem o seu corpo realmente funciona. Em grandes altitudes, o fluxo sanguíneo de pessoas comuns dentro desses pequenos vasos sanguíneos diminui, mas permanece normal nos sherpas.

Eu já pedalei em duas oportunidades na região e na segunda tive que contratar um Sherpa -que significa "povo do leste"- na complicada região de fronteira entre Siquim e Nepal. Com ele aprendi uma coisa básica: não respirar pela boca nunca e tentar compassar a respiração. Isso evita a dor de cabeça horrível provocada pela hipobaropatia (soroche), mais conhecida como o "mal da montanha, uma condição patológica relacionada com os efeitos da altitude nos humanos, causada pelo ar rarefeito em altas altitudes.