Os cães são animais extraordinariamente inteligentes, mas às vezes têm comportamentos que nos fazem duvidar de sua capacidade. Se você tem um cão, talvez tenha observado esta cena: o animal espera no umbral da porta pensando que há um vidro que lhe impede de passar ao outro lado, uma espécie de obstáculo invisível que não pode superar. Se não presenciou ao vivo, há dezenas de vídeos no YouTube em que vemos cães esperando ante uma porta aberta e não se atreve à cruzar até que o dono faça o gesto de abrir uma porta imaginária. Que diabos está passando por sua cabeça para não passar? |
Na opinião de especialistas em comportamento animal, a chave deste pequeno mistério poderia estar na grande dependência que os cães têm de nossa presença e, por outro lado, porque tem dificuldade de entender como funciona a interação entre objetos.
Desde a década de 1980, há um debate entre os especialistas sobre a possibilidade de que a domesticação destes animais fez com que perdessem certa habilidade para entender as conexões físicas entre os objetos. De fato, fizeram experimentos com cães e lobos para comprovar que estes últimos superam melhor este tipo de tarefas como transpor obstáculos ou encontrar saídas.
A resposta, ao que parece, está na dependência que estes animais têm dos humanos após tantos milhares de anos de convivência. Por exemplo, quando passeamos com o cão e encontramos alguém, os cães nos olham antes de tomar uma decisão, porque enfrentam uma espécie de enigma que não podem resolver. Sabem quando sabemos algo e quando não e inclusive preferem receber um reforço positivo em forma de carinho do que de comida após superar um teste.
Esta absoluta dependência chega ao extremo de que quando há um humano diante não é estranho que o cão prefira confiar no humano do que em seus próprios sentidos, o que poderia explicar em parte o que acontece nos vídeos.
Paralelamente, há bastantes experimentos que demonstram que os cães são um pouco torpes à hora de entender a física que domina o mundo. Eles são capazes de resolver problemas complexíssimos, mas precisam do componente social para fazê-lo, sem ele ficam cognitivamente perdidos e devem resolver por métodos pouco complexos.
Se os cães não têm a vista necessária para poder distinguir bem um vidro, provavelmente se baseiem em truques singelos para saber se está aberto ou não. O truque neste caso é ver o movimento da mão humana puxando a porta, mas como atalho que é, não podem substituir por ver os humanos cruzando o vidro magicamente.
De alguma maneira, no processo evolutivo que aconteceu durante a domesticação, os cães ganharam algumas habilidades e perderam outras. Crê-se por exemplo, que esta pressão evolutiva pode lhes ter ajudado a entender melhor a entonação e a linguagem humana, e inclusive nossas olhares, e em geral sua habilidade para interpretar nosso pensamento se reforçou.
Ao aumentar esta confiança nos humanos, bem poderia ter resultado que sua capacidade para interpretar a realidade física ficasse com algumas lacunas e que em alguns contextos prefiram confiar em um gesto de seu dono que do que em seus próprios sentidos.
Se estão acostumados a atravessar a porta quando o humano a abre, e sua capacidade de distinguir o vidro também não é muito boa, é possível que prefiram esperar e não queiram passar essa ombreira até que o sinal esteja claro, o que explicaria esse curioso comportamento ante as portas invisíveis.
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Comentários
Este comportamento dos cães é simples de entender. Os cães deixaram-se domesticar pelos humanos há milhares de anos porque compreenderam rápido que a relação era de benefício para eles (e para nós). Aprenderam a respeitar e a sempre olhar para o ser humano simplesmente porque somos os líderes para eles. Como toda boa relação, cederam para ter os benefícios da nossa companhia e vice-versa. Quem nunca falou um "não!" para o cão entrando em casa alguma vez? Ou saindo? Isto está embutido profundamente no DNA deles e é natural que respeitem, ainda que inconscientemente, as barreiras físicas por menores que sejam, do ambiente em que convivem conosco.