Ecce homo: a pintura maltratada que salvou uma cidade

A artista amadora de oitenta e três anos, Dona Cecília Giménez, não teve nada além de boas intenções quando voltou sua atenção para um afresco deteriorado de Jesus Cristo pintado nas paredes da igreja do Santuário da Misericórdia, na pequena cidade espanhola de Borja. O afresco intitulado Ecce Homo foi feito pelo artista espanhol Elías García Martínez em 1930, e pese que a dona Cecília não tenha nenhum treinamento artístico formal, tomou para si o trabalho de restaurar a obra de arte quando a pintura original do afresco começou a descascar.

Embora a obra fosse de "pouca importância artística", segundo a opinião geral da imprensa, porque "Martínez não era um grande artista e sua pintura Ecce Homo não é uma obra-prima", o afresco no entanto tinha algum valor sentimental dentro da comunidade local.

Dona Cecília começou a retocar o retrato, uma pincelada ao longo de vários anos, com o conhecimento do pároco e dos cuidadores da igreja, até um dia, no verão de 2012, quando decidiu que o trabalho precisava de uma grande reforma. No meio de sua "restauração", Dona Cecília saiu de férias, pois o trabalho demorou mais do que ela esperava. Ela pretendia completá-lo quando voltasse, mas para o bem ou para o mal, ela nunca teve a chance.

Quando ela voltou, seus esforços desastrosos haviam sido descobertos e Dona Cecília tornou-se motivo de riso global. O esforço frustrado tornou-se a conversa preferida da internet, inspirando uma série de memes e piadas.

Dona Cecília sentiu-se tão humilhada que chorou durante dias (tadinha!) e se recusou a comer, disseram seus parentes. Eventualmente, ela foi a um psiquiatra e acabou tendo que tomar remédios controlados. Para piorar a situação, os herdeiros de García Martínez ameaçaram processar a pobre senhora por destruir a pintura, mas felizmente para ela, não cumpriram a promessa.

A pintura original, intacta (à esquerda), a pintura danificada (meio) e a restaurada por Dona Cecília (à direita).

Agora, por um estranho toque do destino, a pequena e obscura cidade de Borja de repente entrou na trilha turística internacional. Todos os anos, dezenas de milhares de visitantes curiosos com um grotesco senso de humor vêm dos cantos mais distantes do mundo para ver com seus próprios olhos o trágico fiasco, e saem com lembranças, como canecas e camisetas impressas com o novo e melhorado "Ecce Homo.

Dona Cecília, que na tentativa de restauração foi uma vez ridicularizada e zombada, é agora uma celebridade local. Ela entrega prêmios para uma competição de jovens artistas, que pintam seus próprios retratos "Ecce Homo". As pessoas a reconhecem nas ruas e gritam seu nome com euforia. Ela ainda tem direito a 49% dos rendimentos que resultam das vendas de lembrancinhas. O resto vai para a família Martinez.

A própria

Cecília Giménez poderia ter falhado em restaurar a pintura, mas ela conseguiu restaurar uma cidade que estava falida. O afluxo de turistas ajudou a estabilizar a economia de Borja, que estava cambaleando sob a devastadora recessão que o resto da Espanha vem sofrendo ao longo dos últimos anos.

- "Para mim, é uma história de fé", disse Andrew Flack, um autor de livretos que está escrevendo uma ópera cômica sobre como uma mulher arruinou um afresco e salvou uma cidade. - "É um milagre como ela impulsionou o turismo."

- "Por que as pessoas vêm para vê-lo se é uma obra de arte tão terrível?", perguntou ele. - "É uma espécie de peregrinação, impulsionada pela mídia como um fenômeno. Deus trabalha de maneiras misteriosas. Seu desastre pode ser meu milagre."

Fonte: Amusing Planet.