Não podemos deixar de considerar que nossa memória individual seja nosso fantasma por toda uma vida. Para o bem e para o mal, nunca vai deixar de nos espreitar. Não vai nos poupar nenhum momento incômodo, doloroso, nostálgico, por mais que tentemos dissuadi-lo. Nos fará reviver uma e outra vez isso que preferiríamos enlutar sob o chumbo do passado, mas como bom fantasma, também é uma doce companhia. Às vezes, inclusive, mais doce que o acontecimento que reconta. |
Lembrar-se de detalhes de uma noite prazerosa, por exemplo, pode transformar em delícia essa mesma noite, mas há algo que devemos saber antes de nos comovermos profundamente com a tristeza ou o prazer a partir de uma lembrança: quando recordamos de um episódio passado, estamos realmente recordando a última vez que o lembramos.
Dito de outra forma, o passado não existe; ficou em seu lugar, em seu presente. Quando recordamos algo, nossa lembrança pouco tem a ver com o evento -uma foto das flores não é as flores-; é uma cópia da cópia da cópia das vezes que já lembramos, e cada cópia se distorce um pouco.
O Passado não existe
Você tem uma lembrança extraordinária? Pense duas vezes se quer recordá-la agora, por que a próxima vez não será a mesma, e ademais, cada vez que percorra esta recordação mais irá desvanecendo. É como se a gente gastasse com o uso. Por outro lado, se a gente tem uma lembrança traumática, invoque-a o quanto antes para que perca força e não possa causar mais dano. Evadir lembranças é conferir-lhes força.
Nunca voltaremos a um momento vivido, como nunca pisaremos a mesma onda. Este fascinante estudo, que foi publicado no Journal of Neuroscience, muda tudo o que pensávamos de nossa aparente realidade. É como a tradicional e popular brincadeira de "telefone sem fio", os pequenos erros que vão se acumulando acabam por alterar a mensagem original, inclusive no ponto de se converter em algo totalmente falso ou fictício.
Nada do que vivemos volta
Em outras palavras, as ocasiões em que ruminamos uma lembrança uma e outra vez estamos criando um monstro que nada tem a ver com seu ponto de partida. Nada do que tivemos regressa. Temos o nosso fantasma, a memória, que é uma máquina de fazer quimeras; bestiários formosos ou terríveis, mas desapegados por completo de seu manuscrito original.
Talvez assim funcione o passado: quando se vai deixa em seu lugar um fantasma e nós conferimos diligência a esse fantasma como se fosse o próprio evento, diligência sobre nossa realidade e nossas emoções. Mas ao invocar esse fantasma, ao recordá-lo, estamos mudando-o, criando outro parecido a ele, mas diferente, e assim até que não seja mais que uma pequena dor ou uma pequena alegria. Uma nostalgia. Assim é bom considerar e escolher que lembranças recordar e quando.
Fonte: Medical Xpress.
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Comentários
Alguém desenha ai para o Brenno. ^^
Texto totalmente sem sentido.
Muito bom saber que algumas memórias irão cair no esquecimento.