Diz um famoso meme que ronda as redes sociais que se as autoridades regulamentassem as profissões de youtuber, DJ e cientista político de rede sociais, estaria resolvido o problema do desemprego no Brasil. Afinal, "nunca na história desse país" tantas pessoas souberam tanto sobre qualquer coisa, principalmente sobre a realidade socioeconômica e política brasileira. Se por um lado é bom, pois leva o jovem a ter contato cada vez mais cedo com os problemas sociais e financeiros da nação, por outro temos uma geração de sabichões que não sabem nada. |
As redes sociais estão transbordando de sabe-tudo, aqueles tipos que opinam sobre qualquer coisa crendo saber mais que os demais, quando em realidade sabem bem menos que todo mundo.
É alguém que costuma dar lições quando opina. Não se limita a sugerir, senão a impor, a falar com se estivesse no balcão de um bar conversando com seus amigos bêbados. Falam aos outros como se ninguém tivesse ideia de nada e eles fossem os únicos suficientemente perspicazes para descobrir as verdades absolutas e inquestionáveis. E isso tem raízes psicológicas muito profundas.
A mania de sabichão é um mal endêmico, e ademais todos podemos ser vítimas dele, porque se apóia em um efeito colateral do funcionamento de nosso cérebro. E não necessariamente afeta apenas pessoas ignorantes.
De fato, o efeito pode ser bem mais poderoso em pessoas formadas e cultas, porque dispõem de melhores argumentos para defender suas condutas. Ademais, repete-se muito a circunstância de que se alguém é muito competente em um campo do conhecimento, tem o costume de achar que é também relativamente competente em outros.
O ultracrepidarianismo
Isso é denominado ultracrepidarianismo: o hábito de dar opiniões ou conselhos sobre questões alheias ao próprio conhecimento, palavra originada na expressão latina "Sutor, ne ultra crepidam" de Plínio, o Velho, e que significa "Sapateiro, não vá para além da sandália, e que pode ser extrapolada para o adágio português "Não fale mais do que você sabe".
Dizer simplesmente "não sei" parece um tema fútil, mas fingir que sabe algo que não sabe em realidade acarreta alguns custos sociais enormes. Sobretudo se alguém tem um posto de relevância social. Tal e qual abunda no assunto Dean Burnett em seu livro "The Idiot Brain":
"O debate público moderno está desastrosamente enviesado por culpa disso. Há áreas temáticas importantes, como a vacinação ou a mudança climática, que são monopolizadas pelas críticas severas e mordazes de indivíduos (geralmente tontos) com opiniões pessoais infundadas, em vez das considerações mais impassíveis e razoadas dos especialistas bem informados, e tudo isso por culpa de umas tantas raridades do funcionamento cerebral.
Síndrome de Dunning Kruger
As pessoas ignorantes não estão a salvo da crença de que são "crânios" ainda que não disponham de ferramentas intelectuais para argumentar corretamente; o que não importa muito, porque debater um tema objeto de interpretação com alguém que o ignora, mas que acha que não o ignora, costuma menoscabar os argumentos de quem sabe, resultando no velho e sempre sábio conselho de que: "não se deve discutir com um idiota, porque aos olhos dos demais não há como diferir quem é quem", ou melhor ainda: "nunca se deve discutir com um idiota, porque ele te arrasta até seu nível, e depois o vence devido a sua experiência".
Isso é chamado de efeito ou síndrome Dunning-Kruger, uma distorção cognitiva que é definida pelo fato de que indivíduos com escassa habilidade ou conhecimentos sofrem de um sentimento de superioridade ilusório, se considerando mais inteligentes que outras pessoas mais preparadas, medindo incorretamente sua habilidade acima do real.
Todos somos vítimas, em maior ou menor medida, destas distorções. Absolutamente todos. Ser conscientes disso talvez nos ajude a não nos propormos a falar bobagem achando que fomos selecionados por um dedo divino.
Provérbio Árabe:
Não diga tudo o que você sabe,Não faça tudo o que pode
Não acredite em tudo que ouve
Nem gaste tudo o que tens.
Porque:
Quem diz tudo o que sabe,
Quem faz tudo o que pode,
Quem acredita em tudo o que ouve,
Quem gasta tudo o que tem;
Muitas vezes diz o que não convém,
Faz o que não deve,
Julga o que não vê,
Gasta o que não pode.
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