Parece um conto de fada da vida real: "Era uma vez os pais que se viram obrigados a se separar de sua filha, anos se passam, a criança vira um bela mulher e então a sorte ou o destino os reúne. Felizes para sempre. Fim." Isso, no entanto, não é um conto de fadas, mas muito real e conta a história de um casal chinês que teve de abrir mão de sua filha para garantir sua sobrevivência e para que ela tivesse um futuro melhor, ou melhor dizendo: um futuro. E, como acontece na vida real, as coisas nem sempre funcionam sem problemas. |
Kati e os pai biológicos. Via: Simon Song
Qian Fenxiang e seu marido, Xu Lida, finalmente conheceram sua filha Jingzhi, 22 anos depois de deixá-la ainda como um bebê recém nascido em uma quitanda. A menina foi adotada por uma família americana e cresceu como Catherine Su Pohler, ou Kati, como é conhecida por todos.
A reunião só foi possível graças ao bilhete que Qian deixou junto com a menina. Os pais adotivos de Kati, Ken e Ruth Pohler, de Hudsonville, Michigan, ficaram profundamente emocionados com o conteúdo e decidiram que diriam a garota um dia se ela quisesse saber. Quando o dia da revelação veio em 2016, Kati tinha 21 anos. Demorou mais um ano antes de conhecer seus pais biológicos na famosa Broken Bridge, em Hangzhou.
Esta separação de pais e filhos foi mais uma das inúmeras tragédias familiares provocadas pela política brutal de filho único da China. Foi aplicado em 1979 e sua eliminação formal começou apenas em 2015. Kati nasceu em 1995 e era a segunda filha de Qian e Xu. A mãe, com 24 anos na época, se escondeu por um tempo antes da hora de dar à luz. Cinco dias após o parto, levou a criança ao mercado e a deixou ali, juntamente com o seguinte bilhete:
Kati quando era criança e sua família adotiva.
- "Nossa filha, Jingzhi, nasceu às 10 horas do dia 24 do sétimo mês do calendário lunar, 1995. Nós fomos forçados pela pobreza e as leis do mundo a abandoná-la. Oh, tenha pena dos corações dos pais e das mães longe e perto! Obrigado por salvar nossa pequena filha e levá-la aos seus cuidados. Se os céus tiverem sentimentos, se nós formos reunidos pelo destino, então vamos nos encontrar de novo na Ponte Broken em Hangzhou na manhã do Festival de Qixi em 10 ou 20 anos a partir de agora."
A criança acabou sendo recolhida pelo instituto de bem-estar infantil da cidade de Suzhou. Isto aconteceu bem na época que Ken e Ruth Pohler decidiram adotar uma criança. Eles já tinham dois meninos, mas queriam outro filho e ganharam a guarda de Jingzhi em 1996. A família americana também viu o bilhete da mãe biológica e pediu que alguém traduzisse.
- "Ela ficou tão emocionada com isso, que também acabou chorando enquanto lia para nós. Foi uma mensagem tão sincera", lembra Ken. No entanto, os pais adotivos decidiram que a menina não saberia a verdade até os 18 anos e não revelariam nada a menos que quisesse saber sobre o passado.
Em 2005, quando Kati tinha 10 anos, Qian e Xu mantiveram sua promessa e foram à Ponte Quebrada no Festival Qixi.
- "Chegamos cedo e levamos um grande cartaz com o nome da nossa filha e palavras semelhantes às que usamos na nota original. Nós sentíamos vontade de correr para cada garota que víamos na ponte, foi horrível", lembra Xu.
A youtuber Kati. Via: Youtube
Os Pohlers não estavam lá, mas pediram a um conhecido para visitar a ponte e ver se poderia encontrar os pais biológicos. A mulher, Wu, chegou logo após o Qian e Xu terem ido embora, mas, quando também já abandonava o local, viu alguém com uma câmera e perguntou se podia verificar a gravação. Ela viu o cartaz que claramente dizia "Jingzhi" e imediatamente avisou os Pohlers.
Infelizmente, o envolvimento subseqüente da mídia chinesa, que transmitiu a história a nível nacional, levou os Pohlers a reconsiderar e cortar todos os laços com Wu e os pais. Mas não antes de enviar uma carta e algumas fotos de Kati para Qian e Xu, assegurando-lhes que um dia entrariam em contato. Isso só tornou as coisas mais difíceis para o casal chinês, mas os Pohlers achavam que a filha era muito jovem para ser exposta ao circo da mídia e queria que ela crescesse antes de decidir se queria conhecer seus pais biológicos ou não.
Devastados pelo corte repentino das comunicações dos Pohlers, Qian e Xu continuaram visitando a Ponte Quebrada a cada Festival de Qixi. Eles provavelmente continuariam até o final de seus dias, se não fosse pelo documentarista Chang Changfu, que ao ouvir sua trágica história um dia, decidiu contatá-los. Impressionado pelo desejo de encontrar Jingzhi, ele concentrou seus esforços no rastreamento dos Pohlers, e conseguiu depois de verificar um quadro de mensagens on-line para pais que adotaram crianças do único orfanato de Suzhou.
A Ponte Quebrada de Hangzhou. Via: Simon Song
Infelizmente, os pais adotivos da menina disseram a Chang que se negavam veemente a mexer no passado e que não fariam contato com os pais de Kati até que ela quisesse ou completasse 20 anos. Mas, ao que parece, eles desistiram de fazer isso com a passagem dos anos.
No entanto, o destino tinha outros planos, e no ano passado, quando Kati Pohler, com 21 anos estava se preparando para fazer um intercâmbio na Espanha, ela perguntou a seus pais sobre seu passado. Considerando que ela tinha idade suficiente para saber a verdade, Ruth Pohler disse à menina que conhecia seus pais biológicos.
- "Eu pensei que as pessoas lá teriam dúvidas sobre eu ser chinesa e americana. Então eu pedi a minha mãe para me contar sobre o meu passado novamente e ela disse: 'Bem, devemos dizer-lhe que realmente sabemos quem são seus pais biológicos.' Fiquei tão chocada que não sabia o que dizer", disse Kati/Jinghzhi.
O encontro no Festival de Qixi. Via: Chang Changfu
Foi quando Kati conheceu Chang e concordou em fazer parte de seu documentário sobre este milagroso encontro. Eles até marcaram a hora e o lugar do grande evento: a Ponte Quebrada em Hangzhou, no Festival de Qixi 2017. Por causa do efeito dramático que suscitaria a gravação do encontro, Qian e Xu foram impedidos de conhecer sua filha perdida antes do festival, que foi em agosto; embora a jovem insista que era na verdade foi porque ela estava se sentindo sobrecarregada com a experiência.
A reunião ocorreu de acordo com o cronograma definido, e apesar de inegavelmente comovente e emocional, também foi um pouco estranho para ambas as partes.
- "Foi muito bom vê-los. Fiquei surpreso com a emoção da minha mãe chinesa", disse Kati. - "Eu quero ter algum tipo de relacionamento com eles. Quero vê-los novamente. Mas a grande questão é, o que eles são para mim? Eu nem sei como chamá-los."
Também é difícil para seus pais biológicos, que sofreram muitas dificuldades ao longo dos anos e viveram com um remorso de cortar o coração.
- "Ainda sentimos muita culpa. Se não tivéssemos abandonada a, ela não teria que sofrer assim", disse Qian.
O encontro no Festival de Qixi. Via: Simon Song
A felicidade perfeita com final feliz é altamente improvável para quaisquer dos lados, mas provavelmente seja pior para os pais biológicos, porque eles não poderão ver Kati como sempre desejaram. Há também barreiras linguísticas e culturais para transpor.
- "Ficamos desapontados por ela não nos chamar de mãe e pai. Pedimos, mas ela disse que não fazia isso na América onde chamam seus pais pelos nomes", disse Xu. Qian acrescentou:
- "Não conseguimos nos comunicar de forma significativa, já que não falamos inglês e ela não fala mandarim, mas podemos dizer que ela é uma garota muito legal. Mas agora que a conhecemos, sentimos a falta dela ainda mais do que antes."
A BBC estará exibindo o documentário realizado por Chang Changfu desta incrível história, esta semana. Mas este não é sobre um conto de fadas, lembra?
Fonte: Mail Online.
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