Quando o monitor é o quadro negro, o cursor um giz e o mouse uma pedra

Fotos de uma escola de Gana viralizaram nas redes sociais semanas atrás. Não era uma obra de teatro ou de um filme. O sistema educacional do país africano vai adiante inclusive dos recursos necessários para executá-lo. Usam o quadro negro como monitor e os alunos praticam com mouses de pedra. Apesar da informática ser uma matéria obrigatória no segundo grau de um colégio de Kumasi, na República de Gana, assim estudam informática em muitas escolas.

Algumas escolas devem resolver a falta de recursos com talento, pois uma grande quantidade de alunos não viram e possivelmente nem verão um computador em sua vida, mas os professores dão o seu jeito para ensinar a matéria.

As fotos foram publicada pelo jornal digital Pulse.ng e vários meios locais depois que se tornaram viral no Facebook. O professor chamado Owura Kwadwo e com grande destreza anima-se a desenhar com fiz a "interface" do que parece um processador de textos. Tudo para poder explicar os comandos básicos a seus alunos.

- "Ele está copiando uma imagem impressa. Isto é muito normal no ensino de informática de grande parte da África rural, e sim, é deprimente e uma realidade muito frustrante que as crianças tenham que aprender informática sem eletricidade nem computadores", comentou no Reddit uma professora dos Peace Corps com experiência em aldeias rurais africanas.

Não é a primeira vez que fotos deste tipo se tornam virais e ocasionam um reboliço mediático. Faz alguns meses publicaram imagens de alunos da escola primária de Daaman, praticando o clique do mouse com pedras por falta de material.

As notícias foram tão comentadas pelo mundo, que, como contou o amigo Japa Neves no Facebook, obrigou às autoridades a tomarem vergonha na cara e a se mobilizarem para esconder as penúrias em uma manobra mediática que tentou mitigar o viral. Mas isto não costuma funcionar, não a médio prazo.

A primeira dama da república, Rebecca Akufo-Addo, junto com o vice-ministro de Comunicação, Vincent Odotei Sowah, encarregaram-se pessoalmente de comprar 22 computadores para a escola e enviar uns tantos jornalistas a cobrir a notícia e assim lavar um pouco a imagem do país.

Ademais, o caso levou a própria Microsoft a declarar que iria fornecer equipamentos para o Prof. Owura Kwadwo e, cumprindo parte de sua promessa, levou o homem até Cingapura para participar de um evento educacional chamado Microsoft Education Exchange onde ganhou um notebook para ajudá-lo nas aulas.

Outras doações também foram feitas para o professor e parta seus alunos, como laptops e desktops foram doados por diversas entidades. O professor está sendo cotado também para receber o prêmio de "Melhor Professor Nacional" do ano, que lhe daria uma casa de três quartos em qualquer lugar de sua escolha. mas é bom lembrar que todo este reconhecimento é pontual. Assim que a mídia mundial virar os olhos para outro lugar tudo deve voltar ao que era antes no quartel...

Isso sem contar com a falta de experiência real com computadores, a maioria das vezes por ausência de coisas mínimas (como a falta de eletricidade), que provoca situações dantescas quando chega algum aparelho à escola. A ansiedade de levar meses trabalhando com um ente abstrato dificulta a adaptação à realidade e favorecem os medos.

Veja só como reagiu uma aluna quando foi convidada a tocar o mouse de seu primeiro computador. O seguinte vídeo foi publicado no Instagram alguns meses atrás e é um exemplo de como a prática é imprescindível para materializar o conhecimento.

O terror da estudante estava condicionado unicamente e exclusivamente pelo nome do periférico. O medo dos ratos condicionou o encontro a tal ponto de provocar um pânico irracional. Os risos de seus colegas e a sua total descrença, vendo isso nesse exato momento, já são outra história.