Este foi o último! Quem é que já não disse esta frase com o coração encolhido por ter perdido a sua querida bola de pelos? Aquele momento é bem do tipo que ninguém quer vivenciar de novo, mas dentro de algumas semanas um outro filhote nos chama a atenção e tudo começa de novo. Quando as pessoas que nunca tiveram um cão notam seus amigos chorando pela perda de um, normalmente pensam que estão exagerando um pouco, já que "só é um cão". No entanto, os que amam os cães sabem a verdade: um cão não é "só um cão". |
Hoje um amigo me confessou estar se sentindo culpado por ter chorado mais a perda de um cão que a de seus familiares ou amigos. No entanto, um estudo confirmou que, para a maioria das pessoas, a perda de seu cão é, em quase todos os casos, comparável à perda de um ser querido.
Lamentavelmente, em nossa cultura não fazemos cerimônias, não existe um ritual ou o que valha para a perda de nossos mascotes e talvez por isso nos sentimos um pouco mais envergonhados por demonstrar em público que lamentamos sua morte.
Talvez, se fôssemos conscientes do quão forte e intenso é o vínculo entre um humano e seu cão, aceitaríamos muito melhor essa dor. Isso ajudaria os donos de cães a aceitar sua morte e a superá-la.
Uma união única entre espécies
Que têm os cães para que seu vínculo com os humanos seja tão especial? Isso não começou recentemente. Os humanos já convivemos com eles por ao menos 30 mil anos. São os únicos animais que evoluíram e se transformaram em verdadeiros amigos. O antropólogo Brian Hare, que escreveu "The domestication hypothesis for dogs", explica que os cães deixaram de ser lobos cinzas a animais com habilidades sociais com as quais interagimos como fazemos com outras pessoas.
Um dos motivos pelos quais nossa relação com os cães é mais satisfatória do que com os humanos é que os cães nos dão um amor incondicional, sem críticas e positivo. Já diz um famoso meme: "Vou ser o tipo de pessoa que meu cão acha que sou".
Não é casualidade. Foram criados de maneira seletiva para que estejam pendentes das pessoas. Um pesquisa com ressonância magnética mostrou como o cérebro do cão reage com o mesmo entusiasmo mais com seus donos do que com a comida.
Os cães reconhecem as pessoas e aprendem a interpretar as emoções dos humanos e suas expressões faciais. Estudos científicos indicaram também que os cães advertem as intenções dos humanos, tentam ajudar seus donos e inclusive evitam as pessoas que não colaboram com seus donos ou que não os tratam bem.
Não é de estranhar que os humanos respondam positivamente a este afeto, a esta ajuda e a esta lealdade. O simples fato de olhar um cão pode despertar o sorriso nas pessoas. Os donos de cães têm maior bem-estar e são mais felizes, em média, que as pessoas que têm gatos ou que não têm nenhum animal de estimação.
Como um membro da família
"Agora só preciso descobrir uma forma de mijar em tudo isso"
Nosso grande carinho com os cães foi mencionado em um estudo recente sobre "equívocos de nome", isto é, quando chamamos alguém por outro nome. Como quando os pais se equivocam chamando um de seus filhos pelo nome de outro. Acontece o mesmo quando confundimos o nome do animal com um dos membros da família, o que indica que o nome do cão está associado com o mesmo grupo cognitivo que contém o restante de parentes. Curiosamente, com os gatos rara vez isto acontece.
A psicóloga Julie Axelrod afirmou que a perda de um cão é tão dolorosa porque os donos não estão perdendo só um animal de estimação. Pode significar a perda de um amor incondicional, de um colega que nos dá segurança e comodidade, e que muitas vezes protegemos esse ser como um filho.
Eu notei claramente isso quando recentemente minha cadelinha quase morreu e saí com ela de madrugada à procura de assistência médica. Foi quando também descobri a máfia dos veterinários, com preços de práticas que muitas vezes custam mais que a de um ser humano. Gastei pouco mais de 1000 reais e meus amigos disseram que sou louco por dispor esta quantia com uma vira-lata. Valeu cada centavo, sobretudo porque ela esta feliz e espevitada de novo como sempre foi.
A perda de um cão pode alterar também gravemente a rotina do dono, bem mais do que se tivesse perdido um parente ou a um amigo. Para os donos, seus horários diários, inclusive nas férias, podem girar em torno das necessidades de seu mascote. As mudanças no estilo de vida e na rotina diária são uns dos principais causadores do estresse.
Segundo uma pesquisa recente, muitos daqueles que perderam seus animais de estimação acreditam ver ou escutar o movimento, a respiração ou o ganido (pranto) de seu animal que se foi. Isto costuma acontecer pouco depois do falecimento, sobretudo os donos que estavam muito ligados as suas bolas de pelo. É verdade que a morte de um cão é terrível, mas os donos estão tão acostumados à presença reconfortante e sem críticas de seus amigos caninos que, muito frequentemente, acabam adotando um novo.
Quando minha cadela estava na maca sendo medicada, olhou-me com uma adorável mistura de confusão e confirmação de que tudo estava bem porque estava ali com ela. Sim, estou feliz que ela tenha se recuperado, mas, como está velhinha, estou seguro de que voltarei a passar por este momento desconfortável de novo dentro de poucos anos. Mas agora já me decidi, "este foi o último!", ou talvez não.
O MDig precisa de sua ajuda.
Por favor, apóie o MDig com o valor que você puder e isso leva apenas um minuto. Obrigado!
Meios de fazer a sua contribuição:
- Faça um doação pelo Paypal clicando no seguinte link: Apoiar o MDig.
- Seja nosso patrão no Patreon clicando no seguinte link: Patreon do MDig.
- Pix MDig ID: c048e5ac-0172-45ed-b26a-910f9f4b1d0a
- Depósito direto em conta corrente do Banco do Brasil: Agência: 3543-2 / Conta corrente: 17364-9
- Depósito direto em conta corrente da Caixa Econômica: Agência: 1637 / Conta corrente: 000835148057-4 / Operação: 1288
Faça o seu comentário
Comentários
Em 46 anos de vida, já tive muitos cães. Pessoalmente, já enterrei nove deles e é muito, muito triste para mim/nós quando algum deles se vai. Sempre foram como família. Mas acredito que os cães tem uma vida tão curta para nos ensinar alguma coisa e é nisso que me seguro. Mesmo não querendo...sempre acabamos adotando outro e o ciclo segue. Cães são os melhores "humanos" deste planeta!
Êita! Que post emocionante!!!
Achei que nunca gastaria dinheiro com veterinários, até que meu amigo canino passou por dificuldades. Desembolsei alguma grana na esperança de que se recuperasse, mas não deu. Como foi triste aquilo (não pelo dinheiro, obviamente)! Aliás, muito mais do que imaginei. O aperto no peito foi grande, e olha que o adotamos apenas quatro anos antes seu sua morte.
Texto interessantíssimo!