No mesmo ano que Elizabeth Tudor era coroada rainha da Inglaterra e chegava ao Brasil o primeiro "carregamento" de tráfico negreiro, o pintor holandês Pieter Brueghel, o Velho, fez algo novo: um quadro de um metro e meio de largura composto por mais de uma centena de representações literais das expressões e os provérbios da época. O quadro se chama "Nederlandse Spreekwoorden", "Os provérbios flamencos", mas originalmente foi intitulado A capa azul ou a loucura do mundo". |
Este outro nome fazia referência, por um lado, à personagem do centro da pintura e, por outro, às debilidades e as loucuras humanas, temas centrais da obra de Brueghel junto com o absurdo. O quadro em questão é uma mistura dos três temas.
E se falamos que há "mais de cem" provérbios é porque ninguém sabe ao certo quantos são. O Museu Estatal de Berlim identificou a grande maioria, mas a pintura transborda de referências e poderia ter provérbios ocultos que não chegamos a entender. Outros são expressões que ainda são usadas, inclusive em português:
- Nadar contra a corrente: Opor-se a opinião generalizada.
- Colocar um sino (guizo) no gato: Atrever-se a fazer algo difícil ou perigoso.
- O dado foi lançado: A decisão foi tomada
- Pôr paus nas rodas: Colocar obstáculos nos planos de outro.
- Armado até os dentes: Estar muito armado.
- Peixe grande come o pequeno: Os poderosos abusam dos débeis.
- Bater a cabeça contra a parede: Tentar conseguir o impossível.
De outros podemos deduzir seu significado com maior ou menor dificuldade:
- Querer matar duas moscas de uma vez: Ser muito ambicioso. Querer matar dois pássaros com um tiro.
- Os tontos conseguem as melhores cartas: A sorte pode triunfar sobre a inteligência. Todos os bobos têm sorte.
- Quem engole fogo, caga faíscas: As más ações acarretam piores consequências. Quem semeia vento, colhe tempestades
- Ser um mordedor de pilares: Ser um religioso hipócrita. Santo do pau oco.
- Estender a vela segundo sopra o vento: Agir segundo o que mais convenha pessoalmente. Inclinar-se segundo sopra o vento.
- Onde míngua o trigo, abundam os porcos: Se uma pessoa ganha, outra tem que perder.
E os demais são tão estranhos que se tornam impossíveis de entender para quem fala o português, ainda que tenham seu equivalente:
- Ter o telhado cheio de tortas: Viver luxuosamente. Amarrar o cão com linguiça.
- Limpar o cu na porta: Tratar algo despreocupadamente.
- Cagar pelo mesmo buraco: Ser inseparável. Ser unha e carne.
- Casar sob o pau da vassoura: Viver juntos sem estar casados. Ajuntados.
- Pôr a capa azul no marido: Trair o marido. Bota chifre.
- Ser capaz de amarrar até o diabo a um travesseiro: A obstinação supera tudo. Quem acredita sempre alcança
Se você quiser ver o quadro e explorar os provérbios de perto, ele é exibido na Gemäldegalerie de Berlim.
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Comentários
Muito criativo.
Curti !!!