A maioria das criações de galinhas hoje em dia é constituída por instalações semelhantes a galpões, onde as galinhas ficam confinadas aos milhares sem espaço suficiente para se movimentar e, em alguns casos, sem luz solar. Há inclusive granjas que usam a iluminação artificial para simular os dias mais longos do verão, induzindo as galinhas a botar o número máximo de ovos durante o ano inteiro. É triste, mas também é a única maneira pela qual é possível acompanhar a crescente demanda por carne e ovos baratos. |
No entanto, um agricultor no norte da Itália tem um tipo muito diferente de avicultura: ele está criando mais de 2.000 galinhas em uma área de floresta alpina intocada. Massimo Rapella, de 48 anos, alega que se tornou um criador de galinhas por acaso. Ele e sua esposa dirigiam uma ONG de educação na cidade de Sandrio, no vale de Valtellina, no norte da Itália, mas quando a crise financeira de 2008 chegou e o governo italiano cortou o financiamento de empreendimentos sociais, eles decidiram se mudar para as montanhas próximas.
Eles conseguiram algumas galinhas para botar ovos para seu próprio consumo e logo notaram algo interessante. A aves adoravam se aventurar na floresta de castanheiros próxima, mas ao invés de construir uma cerca para impedi-las, os Rapellas realmente encorajaram esse comportamento. Hoje, eles possuem cerca de 2.100 galinhas que passam seus dias vasculhando e colocando ovos em uma área de 2 hectares de floresta de castanheiros alpinos.
O ancestral das espécies de galinhas mais comuns, Gallus gallus domesticus, é o galo-banquiva, uma ave selvagem. Ele busca alimentos nas florestas e tem truques afastar os predadores, mas as galinhas de hoje não estão acostumadas com a vida selvagem, algo que Rapella percebeu no início.
Mesmo quando tinham a liberdade de se movimentar como bem entendessem, as galinhas de Rapella preferiam ficar do lado de fora dos galinheiros, até que um dia, uma das galinhas se aventurou no meio da floresta. As outras galinhas a seguiram e, um mês depois, já haviam feito da floresta a casa delas. Elas começaram a se alimentar de folhas, castanhas, vermes e insetos, e encontraram ninhos naturais para depositar seus ovos.
Não demorou muito para que Massimo Rapella notasse os efeitos positivos que a vida na natureza tinha nas suas galinhas. Elas pareciam mais saudáveis, tinham penas mais brilhantes e cristas de cores vivas. Seus ovos tinham um sabor mais rico. Foi quando ele teve a ideia de vender seu agora famoso "uovo di selva" ou "ovo da floresta" para consumidores e restaurantes.
Você pensaria que procurar ovos de galinha em uma floresta é um desafio, mas Rapella diz que não é tão difícil quanto parece. Encontrar um ninho pela primeira vez é mais complicado, mas ele e seus dois funcionários sabem que quando uma galinha encontra um bom local de postura, é mais provável que ela retorne no dia seguinte, o que facilita muito a coleta de ovos.
A produção de ovos varia de acordo com a época e o humor da ave. Quanto mais felizes elas estão, menos ovos produzem, o que não incomoda Massimo Rapella nem um pouco. Ele não está tentando maximizar a produção, pois só vende diretamente para moradores e restaurantes locais. Seu "ovo da selva" é cobiçado por restaurantes com estrelas Michelin em toda a Itália, mas ele se recusa a enviar para todos. Não só porque os ovos estão inextricavelmente ligados a esta área do país, mas também porque o agricultor não quer desperdiçar toneladas de papel e papelão enviando-os todos os dias. Ele entrega os ovos pessoalmente em 24 horas depois de pegá-los na floresta, ou os clientes vão direto na sua fazenda para buscá-los.
No entanto, aqueles que provaram os ovos que essas galinhas da floresta põem falam sobre a sua qualidade. A gema tem um sabor mais rico e a clara do ovo tem um maior teor de proteína devido à dieta da ave e pode render até três vezes o volume de um ovo de galinha padrão em uma omelete. Mas há controvérsias, sobretudo quando ele chama o ovo de "orgânico" visando duplicar seu preço. Esses ovos podem ser sim mais saborosos e maiores, mas qualquer estudo de propriedades proteicas concluirá que não existe nenhuma diferença entre o "ovo da selva" e ovo de ração, simplesmente porque a ração não é feita de lixo nem de plástico e visa prover todas as necessidades que a ave tem para se desenvolver e botar.
O único problema com que Massimo Rapella teve que lidar foi com predadores. Galinhas não conseguem evitar o ataque de texugos, raposas, gambás e urubus que vivem nas florestas do vale de Valtellina, então ele teve que fechar seu pedaço de floresta com uma cerca dupla e trazer dois cães pastores treinados para manter as galinhas seguras.
Embora Rapella tenha sido solicitado a replicar sua granja florestal em outro lugar, ele até agora se recusou, dizendo que o sucesso de seu empreendimento está intimamente ligado à própria terra em que ele existe.
De fato, Rapella acaba de redescobrir a galinha caipira. Sim, as aves criadas em galinheiros, em geral, botam ovos em ninhos de palha e mato seco feitos por seus donos, mas pelos menos 30% delas preferem botar nas adjacências. Quando criança, uma das minha tarefas era sair com um cesto para recolher este ovos em ninhos que as próprias galinhas faziam no meio do mato. Como ele disse, se uma galinha poedeira deixar de botar por dois ou três dias subsequentes no galinheiro, basta segui-la até o ninho. Ela sempre vai voltar ali.
Há também casos de galinhas, geralmente novas, que começaram a botar. Este é mais complicado, já que o dono não sabe se ela realmente já é poedeira e não dá a devida atenção. Quando seu ninho oculto fica repleto ela começa a chocar e não sai de cima dos ovos para nada, além de ficar à mercê de gambás.
Se o dono não encontrar o seu ninho em tempo hábil, ela sumirá por um período de 21 dias. E quando retornar para o galinheiro, acompanhada de seus pintinhos, invariavelmente morrerá devido ao período de inanição.
Fonte: Uovo di Selva.
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