Como uma mulher ganhou a maratona de Boston e nem corada ficou

Para observadores na linha de chegada, Rosie Ruiz deve ter parecido a atleta mais apta a correr a Maratona de Boston. Neste dia, 21 de abril, em 1980, a nova-iorquina de 26 anos terminou em primeiro lugar entre as mulheres com um tempo quase recorde: pouco mais de duas horas e meia. Ainda mais impressionante: quando os oficiais a coroaram a vencedora, ela mal estava suando. De acordo com o Mass Moments, o almanaque de história on-line da Fundação de Ciências Humanas de Massachusetts, seu cabelo ainda estava perfeitamente penteado e seu rosto quase não estava corado depois da corrida de 42 quilômetros.

Rosie fez parecer que ganhar uma maratona era uma tarefa fácil. Na verdade foi, usando sua estratégia pessoal muito vigarista: não executar a coisa toda. A espertalhona simplesmente emergiu de um beco para o trajeto da corrida há apenas 2 quilômetros da linha de chegada.

Os oficiais da prova começaram a desconfiar, em parte por causa de sua indiferença despreocupada e em parte porque ninguém, nem os atletas nem os espectadores se lembravam de tê-la visto durante os primeiros 40 quilômetros. Quando algumas testemunhas se apresentaram alguns dias depois para dizer que a viram sair correndo de uma travessa que levava a um parque, sua medalha foi revogada.

Foi todo um escândalo e Rosie Ruiz foi parar no olho do furação da opinião pública. ela reconheceu que só começara a treinar 18 meses antes, correndo pelo Central Park. E só havia competido em uma outra maratona: a de Nova York, onde ela teve um tempo notavelmente mais lento, embora ainda impressionante, para quem estava começando no esporte.

A lendária corredora Kathrine Switzer -a primeira mulher a competir oficialmente na Maratona de Boston- ficou instantaneamente desconfiada quando falou com Rosie depois da corrida. Kathrine estava cobrindo a prova naquele dia como comentarista de televisão e perguntou a Rosie quais foram as parciais, no que Rosie respondeu:

- "O que é parcial?"

Mas não é tudo. Mais decepção foi revelada quando os oficiais da Maratona de Nova York analisaram o 24º lugar de Rosie naquela corrida e descobriram que ela havia usado uma estratégia semelhante para se classificar para a Maratona de Boston: ela pegou o metrô em vez de correr a maior parte do percurso.

De acordo com o New York Daily News, Rosie explicou o fato de que ela estava usando um número de maratona dizendo a colegas do metrô que tinha torcido o tornozelo e só queria ver o final da corrida.

Ela pode não ter treinado o bastante como corredora de longa distância, mas parecia ter muita prática em desviar a verdade. Até mesmo seu pedido para a Maratona de Nova York foi baseado em uma mentira: uma reportagem da época revelou que ela submeteu o formulário após o prazo ter terminado, mas depois mereceu uma atenção especial ao alegar que tinha um tumor cerebral fatal.

E embora Rosie nunca tenha enfrentado consequências criminosas por suas falcatruas esportivas, ela mais tarde entrou em conflito com a lei por razões não relacionadas. Em 1982, ela foi acusada de roubar 60 mil dólares da empresa imobiliária em que trabalhava e, em 1983, foi presa por vender dois quilos de cocaína a um detetive disfarçado.

Depois disso, os organizadores da Maratona de Boston tornaram mais difícil seguir os passos fraudulentos de Rosie. Um casal inescrupuloso que terminou em primeiro lugar na categoria sênior da maratona de 1997 foi rapidamente descoberto, apesar de terem se registrado nos pontos de verificação por computador do trajeto, eles não apareceram em vídeos filmados em locais secretos.