Em 9 de setembro de 1942, o submarino japonês I-25 emergia nas águas do Pacífico em frente à costa de Oregon e os EUA iriam sofrer o primeiro e único bombardeio aéreo da história.
O I-25 era um submarino porta-aviões que transportava em seu interior um hidroavião Yokosuka E14Y. À manhã de 9 de setembro, o capitão do submarino ordenou retirar a aeronave ao exterior, desdobraram as asas e a cauda, armaram com bombas incendiárias e foi colocado na catapulta de lançamento.
O piloto Nobuo Fujita e o tripulante Shoji Okuda tinham a missão de provocar devastadores incêndios nas matas para manter o medo entre a população civil e demonstrar o poderio japonês -ninguém tinha se atrevido a bombardear os EUA em solo continental até àquele momento.
A catapulta lançou o hidroavião e Nobuo Fujita rumou para os bosques de Oregon. Quando chegaram à zona escolhida, uma região arborizada nos arredores do povoado de Brookings, soltaram as bombas e depois de comprovar que o incêndio havia iniciado deram um giro de 180° e regressaram.
Posaram e chegaram até o submarino, quando, depois de voltar a dobrar as asas e a cauda do avião, submergiram e desapareceram. A execução da missão tinha sido perfeita, mas não o objetivo final: o bosque estava muito úmido pelas chuvas e, ademais, um guarda florestal tinha divisado o hidroavião sobre as matas e conseguiu dar o sinal de alertas para extinguir o fogo a tempo.
Ainda que Nobuo Fujita não fez mais do que cumprir as ordens recebidas no meio de uma guerra, aquele bombardeio lhe atormentou durante 20 anos, até que em 1962, com motivo de uma festividade local, as autoridades de Brookings lhe convidaram a visitar a cidade como mostra de amizade entre o povo japonês e americano.
Nobuo Fujita ia ter a oportunidade de pedir perdão e isentar sua consciência, mas também se sentia inquieto por não saber como iam recebê-lo. Sendo um homem de honra e disposto a tudo, levou a katana familiar de mais de 400 anos de antiguidade para, em caso de necessidade, apaziguar a fúria dos americanos praticando o suicídio ritual -haraquiri ou seppuku-.
Quando chegou todas suas dúvidas se dissiparam, foi recebido como uma celebridade. Agradecido pelas amostras de carinho, pediu perdão pelo ocorrido 20 anos atrás, presenteou sua espada samurai ao povo -hoje segue exposta na biblioteca- e, ademais, doou um cheque de 1.000 dólares para comprar livros sobre Japão para que ambos povos se conhecessem melhor e que nunca mais tivesse outra guerra entre eles.
Entre as atividades que programadas naquele dia, Nobuo Fujita voou sobre os bosques de Brookings e inclusive pilotou ele mesmo o avião. No dia do regresso ao Japão, prometeu financiar uma viagem de jovens do povoado para que visitassem o Japão.
Lamentavelmente as coisas deram um giro inesperado e a empresa de Nobuo Fujita faliu. Mesmo assim, era um homem de honra e ia cumprir sua palavra de qualquer forma. Durante mais de 20 anos ele poupou iene sobre iene até conseguir o dinheiro suficiente. Em 1985, três jovens de Brookings -Robyn Soifeth, Lisa Phelps e Sarah Cortell- viajaram ao Japão.
Nobuo ainda viajou em outras oportunidades à cidade que o acolhera e inclusive ajudou a levantar fundos para a criação da nova biblioteca local. No final de 1997, Brookings descobriu que Fujita havia sido hospitalizado com sérios problemas de saúde, devido a um câncer de pulmão. A Câmara Municipal votou uma moção para torná-lo um cidadão honorário da pequena cidade. O homem, em seu leito derradeiro, ainda pôde sorrir e derramar lágrimas quando recebeu a faixa que certificava sua honorabilidade.
Duas semanas depois, em 30 de setembro de 1997, Nobuo Fujita morreu no hospital de Tsuchiura. Ele tinha 85 anos de idade. Em outubro de 1998, sua filha, Yoriko Asakura, enterrou partes das cinzas do pai no local da bomba de 1942.
"Se nos conhecêssemos. Se nos entendêssemos como amigos. Esta guerra tola nunca teria acontecido. Espero sinceramente que chegue um dia em que todos possam superar suas diferenças falando e não brigando."
Frase encontrada no diário de Fujita Nobuo.
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