O ácido monólogo de Ricky Gervais no Glodo de Ouro 2020 deixou muita celebridade incomodada

O Globo de Ouro parece não se importar que o comediante acabe se tornando a maior manchete quando terminam os prêmios. Pela quinta vez Ricky Gervais voltou a subir no palco para apresentar a 77ª edição. Seu monólogo não deixou pedra sobre pedra. Ácido como sempre, ele colocou a nata de Hollywood em seu devido lugar dizendo, entre outras coisas, que celebridades não devem dar pitaco político porque não sabem nada da realidade. O monólogo do apresentador britânico teve dardos para tudo quanto é lado. Apple, Greta, DiCaprio, a mudança climática, Scorsese, Jeffrey Epstein, Netflix... sobrou para todo mundo.

Deixamos a transcrição do monólogo de Gervais:

Olá e bem-vindos à 77ª entrega anual dos Golden Globe Awards, ao vivo, desde o Beverly Hilton Hotel aqui em Los Angeles. Sou Ricky Gervais.

Muitos ficarão felizes ao saber que é a última vez que organizo estes prêmios, de modo que já não me importo. Estou brincando. Nunca me importei. Estou caçoando, nunca o fiz, para valer. A NBC claramente também não se importa, é a quinta vez que os apresento. Quero dizer, Kevin Heart foi despedido do Oscar por um par de tweets ofensivos, hello?

Por sorte para mim, a imprensa estrangeira de Hollywood mal pode falar inglês e não têm ideia do que é o Twitter, de modo que me ofereceram a cerimônia por fax.

Comecemos com algo potente, vamos rir às suas custas. E recordem, são só piadas. Todos morreremos logo e não há sequências, recordem isso. Em qualquer caso todos parecem muito belos e arrumados. Vieram aqui em suas limusines. Em uma limusine cuja placa foi feita por Felicity Huffman. Não, esperem. É de sua filha que sinto pena. Isso deve ser a coisa mais vergonhosa que tenha lhe ocorrido. Ainda por cima seu pai fez parte do elenco de "Wild Hogs".

Vejo muitas e grandes celebridades aqui esta noite. Lendas. Ícones. Apenas nesta mesa: Al Pacino, Robert DeNiro ... Baby Yoda. Ah não, esse é Joe Pesci, desculpe. Te amo cara!

Mas esta noite não se trata só das pessoas em frente à câmera. Nesta sala encontram-se alguns dos executivos de televisão e cinema mais importantes do mundo. Pessoas de todas as origens. Todos têm uma coisa em comum. Todos temem Ronan Farrow. Sim, ele vai pegar todos vocês.

Falando dos pervertidos, foi um grande ano para os filmes de pedófilos. "Surviving R. Kelly", "Deixando Neverland", "Dois Papas".

Muitas pessoas talentosas de cor foram recusadas nas principais categorias. Infelizmente, não há nada que possamos fazer a respeito. A imprensa estrangeira de Hollywood é muito racista. Recordem, é a quinta vez que apresento isto.

Vejamos. Íamos fazer um In-Memoriam este ano, mas quando vi a lista de pessoas que morreram, não era o suficientemente diversa. Não, em sua maioria eram pessoas brancas e pensei, nem por cima de meu cadáver. Talvez no próximo ano. Vejamos o que ocorre.

Ninguém se importa já com os filmes. Ninguém vai ao cinema, ninguém realmente vê televisão on-line. Todos estão vendo Netflix. De fato, este espetáculo deveria ser eu saindo e dizendo: "Bem feito Netflix. Você venceu... tudo. Boa noite". Mas não, temos que alongar durante três horas. E mais, você poderia ver toda a primeira temporada de "Afterlife" em vez de ver este programa. É uma série sobre um homem que quer se suicidar porque sua esposa morre de câncer e, contudo, é ainda mais divertido que isto. Alerta de spoiler, a segunda temporada está a caminho, de modo que no final obviamente não se suicidou. Como Jeffrey Epstein. Cale-se Ricky. Sei que é amigo de vocês, mas não me importo.

A sério, a maioria dos filmes são horríveis. Que triste. Remakes, sequências. Todos os melhores atores foram à Netflix ou a HBO. E os atores que só fazem filmes de Hollywood agora fazem qualquer tolice de aventuras e fantasia. Usam máscaras e camadas e disfarces muito ajustados. Seu trabalho já não é atuar. Vão à academia duas vezes ao dia e tomam esteroides, que demônios?

Martin Scorsese foi notícia por seus controversos comentários sobre a franquia da Marvel. Disse que não se trata de cinema de verdade e que recordam parques temáticos. Estou de acordo. Ainda que não sei o que faria Martin passeando pelos parques temáticos. Não é o suficientemente alto para subir nos brinquedos. Martin é pequeno.

O Irlandês foi incrível, realmente grande. Foi grandioso. Longo, mas espantoso. E não foi o único filme épico. "Era uma vez em Hollywood" tem quase três horas de duração. Leonardo DiCarpio assistiu à estreia e quando terminou seu par romântico era muito velha para ele.

Foi um ano onde o mundo viu James Corden como um gato gordinho. Também esteve no filme Cats. Ninguém viu esse filme. E as críticas, impactantes. Vi um que dizia que isto foi o pior que ocorreu aos gatos desde os cães. Ainda que a senhora Judi Dench defendeu o filme dizendo que era para o que tinha nascido porque não há nada que goste mais que deitar sobre o tapete, levantar a perna e lamber as partes. Dench é da velha escola.

Por verdade, Apple por fim entrou no jogo da televisão com "The Morning Show", um excelente drama sobre a importância da dignidade e fazer a coisa correta, feita por uma companhia que dirige naves de exploração na Chinesa. Bom, vocês dizem que acordaram, mas as empresas para as quais trabalham são Apple, Amazon, Disney; se o Estado Islâmico começar um serviço de streaming, todos vocês iriam ligar correndo para seus agentes.

Portanto, se algum de vocês ganhar um prêmio esta noite, por favor, não o usem como plataforma para fazer um discurso político. Não estão em posição de dar uma conferência ao público sobre nada. Não sabem nada do mundo real. A maioria de vocês passou menos tempo na escola que a Greta Thumberg.

De modo que, se vencer, aceite seu pequeno prêmio, agradeça seu agente e seu Deus e vai à merda. Bem, vamos com o primeiro prêmio.