Um grupo de pesquisadores franceses anunciou os resultados bem-sucedidos dos primeiros testes clínicos de um remédio contra o coronavírus SARS-CoV-2, que causou uma pandemia que afeta dezenas de países. Especialistas do hospital universitário Méditerranée Infection, em Marselha, sugerem que o novo coronavírus pode ser curado com uma combinação de dois medicamentos existentes: a hidroxicloroquina antimalárica e o antibiótico de amplo espectro azitromicina. Esses medicamentos foram co-administrados e separadamente a um grupo de pacientes em um experimento envolvendo 36 pessoas com covid-19, embora parte deles não apresentasse sintomas. |
Dessas 36 pessoas, 16 formaram o grupo de controle que não recebeu as substâncias mencionadas, enquanto os 20 pacientes restantes receberam 200 miligramas de sulfato de hidroxicloroquina três vezes ao dia. Seis deles também tomaram 500 miligramas de azitromicina diariamente nos primeiros dois dias e 250 miligramas nos quatro seguintes.
Os seis membros deste último grupo resistiram bem à combinação dos dois medicamentos, apresentando resultados negativos no teste de coronavírus já no quinto dia, enquanto aqueles que tomaram apenas hidroxicloroquina apresentaram um nível de recuperação de 50% no quinto dia, em comparação com 18,8% do grupo de controle.
Curiosamente, uma paciente que continuou a dar positivo após ser tratada apenas com hidroxicloroquina recebeu azitromicina a partir do oitavo dia e teve resultado negativo no dia seguinte.
Em seu relatório publicado no International Journal of Antimicrobial Agents, os pesquisadores classificaram os resultados como "promissores", apesar de reconhecerem o número limitado de participantes do estudo e a necessidade de continuar os ensaios clínicos.
O fato é que vários medicamentos já aprovados para outras doenças estão sendo testados contra a covid-19. Todo mundo espera que alguns funcionem, salvando milhões de vidas e potencialmente nos permitindo aliviar as restrições muito antes de recebermos uma vacina, que só deve chegar, na melhor das hipóteses, em 6 meses. Infelizmente, parece haver pressa para quem está tomando esses medicamentos sem supervisão médica adequada.
O presidente Trump pediu que a hidroxicloroquina e a azitromicina fossem "implementadas IMEDIATAMENTE" e algumas pessoas aparentemente interpretaram isso como instruções para indivíduos, não para pesquisadores ou clínicos. Isso aconteceu dois dias depois de uma conferência de imprensa em que Trump anunciou que a hidroxicloroquina e a cloroquina fossem aprovadas pelo FDA para esse uso, forçando o comissário Stephen Hahn a esclarecer que esse não é realmente o caso.
Existem várias razões pelas quais a automedicação com drogas não comprovadas é incrivelmente perigosa, tanto para o indivíduo quanto para a sociedade como um todo. Essas drogas realmente não são comprovadas especificamente para este mal. Também não são aconselhadas para certos grupos de pessoas com condições pré-existentes. A interação dos dois fármacos, em verdade, pode causar arritmia cardíaca e supostamente pode também prejudicar a visão. Então só devem ser ministrados em conjunto com cuidado no monitoramento do paciente.
A hidroxicloroquina, usada principalmente para tratar a malária, mas também com benefícios demonstrados para algumas outras condições, já havia sido proposta anteriormente para uso contra várias doenças virais. No entanto, mesmo que os medicamentos atualmente em estudo funcionem, a dosagem é importante. A maioria dos medicamentos causa efeitos colaterais se tomados de forma inadequada. Sem supervisão médica, você pode causar muitos danos a si mesmo. Se você acabar em um hospital porque fez experiências com combinações de medicamentos, também estará pressionando os recursos já sobrecarregados.
As repercussões do tweet do presidente dos EUA, um megafone ouvido em todo o mundo, cujos tweets não recebem menos que 200 mil curtidas, apareceram um dia depois na Nigéria, depois que a demanda por cloroquina aumentou em Lagos e duas pessoas foram hospitalizadas por envenenamento. No estado americano do Arizona, um homem morreu e sua esposa está em estado crítico depois que decidiram tomar, por conta própria, um produto para tratamento de aquário, em cuja composição há cloroquina. No Brasil também houve um aumento significativo na procura pelo medicamento e logo as redes sociais estavam amplificando que o fármaco estava sendo recolhido das prateleiras. É mentira. A própria ANVISA publicou uma nota de esclarecimento sobre o assunto:
- "Esses medicamentos são registrados pela Agência para o tratamento da artrite, lúpus eritematoso, doenças fotossensíveis e malária", explica a nota. - "Apesar de promissores, não existem estudos conclusivos que comprovam o uso desses medicamentos para o tratamento da covid-19. Portanto, não há recomendação da ANVISA, no momento, para a sua utilização em pacientes infectados.".
O mesmo alerta se aplica a qualquer medicamento de venda livre. Por exemplo, um artigo ainda não revisado relata que o covid-19 esgota os níveis de potássio e evidências preliminares sugerem que a suplementação pode contribuir para a recuperação. Ainda não sabemos se isso é verdade, mas definitivamente sabemos que mesmo doses modestas de potássio podem ser venenosas. Também não há evidências de que o potássio seja útil para proteger as pessoas contra o vírus, mesmo que isso seja útil para aqueles que foram infectados.
Esses medicamentos estão disponíveis porque são importantes, às vezes salvam vidas, para pessoas com condições específicas. Vimos o que acontece quando as pessoas entram em pânico: compram papel higiênico para 200 anos ou simplesmente acabam com o estoque de máscaras. Há relatos não confirmados de que o mesmo já está acontecendo com esse medicamentos promovidos como cura. Se isso continuar acontecendo, as pessoas com condições pré-existentes não precisarão contrair a covid-19 para serem vítimas dessa pandemia.
O número de infectados com o novo coronavírus SARS-CoV-2 atinge, nesse momento que escrevo o artigo, 396.236 casos em todo o mundo, enquanto o número de mortos já é de 17.250. Com a remissão dos casos na Itália, pelo terceiro dia consecutivo, Espanha, Estados Unidos e Alemanha disputam o posto de próximo epicentro da doença. O Brasil tem nesse momento 1.967 casos com 34 fatalidades. Nas últimas 24 horas 378 brasileiros contraíram a praga.
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