Ao reboque dos protestos pela morte de um cidadão americano negro cabe nos perguntar muitas coisas. A primeira: se todos tendemos ao racismo ou mais bem ao classismo, pois alguns encontram inferioridade em qualquer coletivo escolhendo uma determinada característica aleatória, como a altura, a beleza, o sotaque, o tamanho do pinto, a cor do cabelo... e da pele. A segunda, mais fácil de responder, é se realmente há diferenças biológicas entre pessoas para além do evidente em pleno século 21: a cor da pele. |
A verdade é que todas as diferenças que podemos achar entre brancos e pretos são diferenças culturais, mas não genéticas. Basicamente, os genes que conferem pigmentação à pele são muito poucos, e não determinam um genoma concreto. Fixar-se na cor da pele é como se opor ou admirar a cor dos olhos ou a forma do nariz, a cor dos cabelos. São traços fenotípicos (o aspecto do bolo) que pouco ou nada têm a ver com o genoma (os ingredientes e a receita para fazer o bolo).
De fato, se prestarmos mais atenção à diversidade genética, há mais entre os próprios africanos que entre os africanos e brasileiros, mais ainda se consideramos os europeus. Por exemplo, entre um namíbio e um nigeriano há menos semelhanças genéticas que entre ambos e um sueco de olhos azuis, apesar de que a pele do namíbio e do nigeriano seja negra.
Inclusive uma versão particular do gene alfa-actinina-3, que se associa com a fibra muscular de contração rápida, conquanto está presente em corredores africanos que conseguiram marcas extraordinárias, também é encontrada em loiros.
Certamente há pressões ambientais/genéticas que influem nessas raridades estatísticas, mas não somos capazes de identificá-las ainda de forma clara, e também não sabemos se estamos ante uma simples correlação em vez de uma causalidade.
Tudo está misturado, como um conjunto de cartas que nunca deixa de ser embaralhada pelo croupier, e as semelhanças ou diferenças que estabelecemos em função das aparências ou características são essencialmente estupidezes. Sem contar que todos somos profundamente aparentados, porque todos os seres humanos atuais são descendentes de aproximadamente 14.000 subsaarianos.
Os seres humanos modernos evoluíram na África a partir de humanos arcaicos faz ao menos 200.000 anos. Concretamente, as raízes de todos os humanos vivos atualmente se remontam a uma população comum ancestral que viveu na África.
Segundo os cálculos, todos esses humanos ancestrais somavam uns 14.000 indivíduos da África subsaariana, e a população que deu origem a todos os humanos não africanos provavelmente contasse com menos de 3.000 indivíduos: essa fração de humanos dispersou-se fora do continente faz de 100.000 a 80.000 anos.
Para estabelecer o tempo e o lugar de origem de nossa espécie usamos estudos genéticos em muitas pessoas diferentes. Ao comparar a variação genética entre humanos de todo mundo, os geneticistas podem calcular uma árvore genealógico de nossos graus de parentesco. Nesse sentido, todos somos assombrosamente semelhantes.
Efetivamente, somos uma espécie geneticamente muito homogênea, como explica o paleoantropólogo e professor de biologia evolutiva na Universidade de Harvard Daniel Lieberman em seu livro "The story of the human body":
Se catalogarmos todas as variações genéticas que existem no conjunto de nossa espécie, descobriremos que aproximadamente 86% se encontram em quaisquer das populações.
Para pôr este fato em perspectiva, se eliminássemos a população de todo mundo menos, por exemplo, a de Fiji ou da Lituânia, ainda reteríamos quase todas as variações genéticas humanas.
Esta pauta contrasta poderosamente com o que ocorre em outros símios, como os chimpanzés, nos quais dentro de uma população qualquer há menos de 40% da variação genética total da espécie.
Com efeito, buscar diferenças genéticas significativas entre etnias e áreas geográficas é bastante infrutífero, porque somos bem mais "misturados" do que pensamos, como dizia Darwin em seu livro "A origem do homem":
- "Duvido que alguém possa citar apenas um caráter que seja distintivo de uma raça e seja constante."
Alguém pode?
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Comentários
Empiricamente, podemos ver algo bem diferente do que é exposto no artigo. Ou seja: são os outros 14% dos genes que fazem a diferença.