O presidente Vladimir Putin anunciou hoje que a Rússia aprovou a primeira vacina que servirá para combater a pandemia do coronavírus. Na mesma conferência, também disse que uma de suas filhas -não especificou qual delas- já tinha sido inoculada, para tentar demonstrar a segurança da dose desenvolvida pelo Instituto Gamaleya. O presidente russo esclareceu que tinha tido um pouco de febre, um sintoma colateral que pode ser comum depois da aplicação. |
Alertas contra a Sputnik V
Mas as advertências sobre sua possível eficácia e segurança da vacina, batizada como Sputnik V, começaram a dar voltas faz semanas. A corrida da Rússia para permitir o uso em civis de uma vacina contra o coronavírus antes de que sejam completados os ensaios clínicos poderia pôr às pessoas em risco, segundo uma associação russa de laboratórios farmacêuticos multinacionais. Hoje, a Organização Mundial da Saúde (OMS) também advertiu que a aceleração dos processos não devia pôr em risco a segurança das pessoas.
O Governo outorgou um registro condicional à vacina desenvolvida pelo Instituto Gamaleya de Moscou, o que abriria a porta a seu uso em civis. No entanto, até princípio de agosto, menos de 100 pessoas haviam recebido oficialmente a vacina contra a epidemia e seu uso generalizado poderia ser perigoso, assinalou a Associação de Organizações de Ensaios Clínicos em uma carta enviada na segunda-feira ao ministro da Saúde do país, Mikhail Murashko.
Como a vacina foi registrada se ainda não passou pelos ensaios de fase 3?
- "Por que todas as companhias cumprem os regulamentos, mas as russas não? Os regulamentos para realizar ensaios clínicos estão escritas com sangue. Não podem ser violadas", disse a diretora executiva da organização, Svetlana Zavidova. - "Esta é uma caixa de Pandora e não sabemos o que ocorrerá às pessoas que tenham recebido uma vacina não testada."
A Sputnik V, que está sendo desenvolvida junto com o Fundo de Investimento Direto de Rússia, começou na semana passada as provas de fase 3. O premiê russo, Mikhail Mishustin, disse na segunda-feira que esperava que ela fosse logo registrada, enquanto um de seus adjuntos disse que é provável que a produção comece no próximo mês, e o Ministério de Saúde informou que as vacinações em massa poderiam começar em outubro.
Christian Lindmeier, porta-voz da OMS, disse na semana passada à imprensa em Genebra que as vacinas devem passar por todas as etapas de testes antes de obter a licença.
O comportamento competitivo
É necessário ressaltar que a Associação de Organizações de Ensaios Clínicos representa um grupo de empresas multinacionais que realizam ensaios clínicos na Rússia, como Pfizer, AstraZeneca e Novartis AG. Nesse sentido há considerações plausíveis que a Big Pharma tenha interesses escusos que a vacina não obtenha aprovação.
- "Consideramos que isto faz parte do comportamento competitivo de algumas companhias farmacêuticas ocidentais que querem dominar o mercado das vacinas e não querem ter concorrência", disse o diretor do Fundo Russo de Investimento Direto, Kirill Dmitriev. - "O Ministério de Saúde de Rússia seguirá todos os procedimentos requeridos para sua aprovação, não tomarão atalhos."
Parte da elite russa já teve acesso à vacina
Muitas pessoas da elite empresarial e política da Rússia tiveram acesso à vacina experimental já em abril, segundo pessoas com conhecimento da situação. Voluntários militares completaram em julho os ensaios de fase 2, segundo o Ministério da Defesa. Os resultados não foram publicados em nenhuma revista que seja revisada por pares.
Pesquisadores e companhias farmacêuticas em outros países, como Estados Unidos, Reino Unido, Japão e China, também estão competindo pelo desenvolvimento de vacinas. AstraZeneca Plc, Moderna Inc. e Pfizer Inc. começaram as provas de fase final para as vacinas contra a covid-19, e os resultados iniciais de alguns de seus ensaios em humanos devem estar prontos em outubro.
A Rússia registrou mais de 15.000 mortes relacionadas com o coronavírus, segundo dados do Serviço Federal de Estatísticas. Tem o quarto maior número de casos confirmados no mundo, com quase 900.000 pessoas diagnosticadas. Muitos especialistas em Saúde conjecturam, sem conseguir explicar, como o país consegue manter uma relativa pequena relação entre mortos por milhão de infectados.
- "Os cientistas do Instituto Gamaleya não publicaram nada", disse Svetlana sobre os esforços russos. - "Isto vai contra tudo o que o resto do mundo está fazendo. Existe um padrão para publicar dados inclusive de estudos frustrados."
Vacina desenvolvida com a experiência do Ébola
No entanto, Victor Zuyev, chefe do departamento de microbiologia do referido instituto disse que a Sputnik V foi criada tão rapidamente graças ao profissionalismo de seus programadores e ao uso da experiência adquirida durante os trabalhos da vacina contra o Ébola:
- "Não há nada surpreendente. Fizeram esta vacina na mesma plataforma que a do Ébola, por isso foi criada tão rapidamente", declarou durante uma entrevista com um canal de TV russo, acrescentando que seu veloz desenvolvimento foi possível graças a pessoas altamente qualificadas em um caminho já pavimentado.
Questionamentos e anúncio da vacina
De qualquer forma, a desconfiança é generalizada. Devido a falta de dados transparentes e nenhuma publicação sobre os ensaios feitos. Governos de vários países, entre eles a Alemanha e Estados Unidos, manifestaram suas dúvidas sobre a qualidade, a eficácia e a segurança da vacina anunciada pelo presidente russo, Vladimir Putin.
- "Esta manhã, pela primeira vez no mundo, registrou-se uma vacina contra o novo coronavírus", disse Putin. - "Sei que é bastante eficaz, que outorga uma imunidade duradoura", agregou.
Também, informou que sua filha está entre as primeiras pessoas inoculadas pela fórmula, desenvolvida pelo instituto Gamaleya.
- "Uma de minhas filhas aplicou esta vacina. Acho que participou nos experimentos", disse Putin alguns minutos após ter anunciado a homologação.
Agregou que ela teve um pouco de febre e nada mais. Sua filha teve uma temperatura de 38 °C no dia da primeira injeção, que baixou a 37 no dia seguinte. Depois da segunda injeção voltou a ter uma leve subida da temperatura, mas isso foi tudo.
A advertência da OMS
Por sua vez, a OMS recebeu com cautela a notícia de que a Rússia registrou a primeira vacina do mundo contra a covid-19, assinalando que esta, como o resto, deverão seguir os trâmites de pré-qualificação e revisão que marca o organismo. Ainda que nesse ínterim poucos já se importam com o que o órgão diz ou deixe de dizer.
O porta-voz da OMS Tarik Jasarevic sublinhou que a organização se sente animada pela rapidez com a qual estão desenvolvendo as vacinas e espera que algumas delas se mostrem seguras e eficientes.
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Comentários
Porque foi uma vacina roubada de pesquisadores sérios. Os russos ao invés de ajudar na criação de uma vacina com investimentos achou mais fácil contratar hackers e roubar informações de laboratórios que estavam desenvolvendo.
Dá uma boa discussão sobre ética.
Caguei pra ceticismo. Se estivesse disponível eu tomaria ontem! Thanks Odin, o Paraná já está firmando um acordo com a Rússia para produção da vacina.
Ao invés de se comemorar um possível passo rumo à vitória contra o covid-19 (mesmo que ainda não comprovada a eficácia da vacina) é irritante a má vontade do mundo ocidental contra a Russia.
O dia em que Alemanha e EUA se manifestarem favoravelmente a qualquer conquista russa, será o dia em que se comprovará que a terra é plana.