O inesperado e simples truque para afugentar grandes felinos predadores de gado

Um grupo de pesquisadores parece ter encontrado uma inesperada e inovadora fórmula de proteger a vida do rebanho bovino e, por consequência, dos leões em Botswana: pintando olhos nos traseiros dos animais. Sim, ao que parece, pintar um par de olhos desafiantes, a quem pretenda realizar um ataque, no traseiro das vacas desprevenidas, evita as tentativas de predadores como leões e hienas que compartilham as mesmas áreas de Botswana.

Ao mesmo tempo que a prática seja uma forma de proteger os rebanhos bovinos é uma forma mais humana de proteger os predadores mantendo o meio de vida dos agricultores e criadoras de gado, que representa ao redor de 80% dos rendimentos agropecuários do país.

Segundo o estudo publicado na revista Comunications Biology, a ideia foi de um grupo de pesquisadores da Universidade de Nova Gales do Sul, na Austrália, mas isso não corresponde a verdade. A prática é realizada faz muitos anos em alguns países africanos, cujos criadores de gado perceberam que os animais que caçam espreitando em emboscada, desistem da presa quando veem algo parecido com um olho lhes vigiando.

O que os pesquisadores fizeram foi avaliar e ratificar a prática, com base na observação de campo. Ocorre que os grandes felinos têm uma taxa de sucesso surpreendentemente baixa quando tentam caçar: para os guepardos, é ao redor de 50%, para os leopardos de tão só 38%, e para os leões de 25%, razão pela qual costumam pensar bastante se um ataque vale a energia que vão gastar. Segundo explicou o pesquisador Neil Jordan:

- "Os leões são predadores de emboscada que dependem da espreita e, portanto, do elemento surpresa, motivo pelo qual serem vistos por suas presas pode leva-los a abandonar a caça. Provamos se podíamos hackear esta resposta para reduzir as perdas de gado, protegendo potencialmente os leões e os meios de vida ao mesmo tempo."

Ao que parece, as secas cada vez mais prolongadas na região estão provocando a morte de animais devido à falta de água potável e pastos. Estas duras condições também levam os predadores a tomarem medidas de caça mais desesperadas, incluída a captura de gado bovino. Daí que isso acabou se tornando um grande problema para os criadores.

Seja como for, os resultados dos animais com olhos pintados no traseiro foram surpreendentes. O grupo de estudo provou com 14 rebanhos diferentes que tinham experimentado ataques de leões. Um terço do rebanho tinha olhos pintados na parte posterior, outro terço tinha uma cruz simples e o último terço ficou sem nenhuma pintura.

Resultados? Aqueles com olhos adicionais tiveram mais probabilidades de sobreviver. De fato, não perderam nenhum animal de quatro olhos nos quatro anos que durou o estudo. Não só isso, também descobriram que as cruzes pintadas também parecem atuar como um elemento dissuasor, pois só quatro vacas com cruzes morreram por ataques. Segundo Jordan:

- "Conquanto estes resultados respaldam a intuição de que criar a percepção de que se a presa visse o depredador o levaria a abandonar a caça, a hipótese de detecção também teve algumas surpresas. O gado marcado com cruzes simples tinha muitas mais probabilidade de sobreviver que o gado sem marcar do mesmo rebanho. Ainda que o gado com marcas de olhos tinha mais probabilidade de sobrevivência que os outros grupos, este efeito geral de 'notoriedade' sugere que as novas marcas em cruz eram melhores que nenhuma marca, o que foi inesperado."

Incrível, tanto pela simplicidade do método como pelos resultados. Os pesquisadores agora vão refletir seus achados e métodos em guias práticos com a esperança de que mais criadores de gado utilizem esta ferramenta como método mais humano e ecológico para o controle de predadores.