Canadá concedeu a 4 pacientes terminais com câncer o direito de usar cogumelos mágicos

Quatro canadenses com câncer incurável receberam permissão para usar o composto psicodélico psilocibina para ajudá-los a lidar com o sofrimento psicológico e emocional associado à sua doença. Comumente encontrada em cogumelos mágicos, a psilocibina está sendo estudada atualmente como um tratamento para depressão e outros problemas de saúde mental, mas continua ilegal na maioria dos países e não pode ser prescrita por médicos.

O composto é proibido no Canadá desde 1974, mas os quatro pacientes receberam uma isenção da Lei Canadense de Drogas e Substâncias, tornando-os as primeiras pessoas a usarem legalmente a psilocibina no país por quase meio século.

Nos últimos anos, vários estudos em pequena escala indicaram que a psilocibina pode ser eficaz em ajudar as pessoas a superar a ansiedade, a depressão e o medo existencial que costumam acompanhar as doenças terminais. Por exemplo, um artigo publicado em 2016 descobriu que esses sintomas psicológicos foram significativamente reduzidos em até 80% nos pacientes que sofriam de câncer com risco de vida.

De acordo com o estudo, uma única sessão de psilocibina -conduzida sob supervisão clínica- produziu reduções duradouras na depressão e ansiedade, com esse efeito ainda sendo perceptível seis meses depois.

Um estudo de monitoramento conduzido no início deste ano revelou que a maioria dos participantes sobreviventes continuou a se beneficiar da redução do estresse psicológico mais de quatro anos após sua experiência com a psilocibina.

No entanto, até que os ensaios clínicos adequados sejam conduzidos, permanece improvável que o composto seja aprovado para uso médico. Esses estudos provavelmente levarão tempo, razão pela qual uma organização chamada TheraPsil decidiu fazer uma petição ao governo canadense em nome dos quatro pacientes, solicitando que eles recebessem dispensa especial para usar o alucinógeno.

Entre aqueles que tiveram acesso à psilocibina está Laurie Brooks, que atualmente está lutando contra um câncer de cólon. Em declarações à CBC News, ela disse que tomar a substância lhe permitiu - "... ver meu câncer em uma caixa ao meu lado no chão, em vez desta nuvem negra pairando sobre minha cabeça o tempo todo."

À luz do crescente corpo de pesquisas sobre os benefícios potenciais da psilocibina para a saúde mental, uma série de movimentos ativistas de base começaram a fazer lobby junto aos governos para tornar a substância legal, resultando na sua descriminalização em algumas cidades dos EUA como Oakland, Denver e Portland.

No Brasil, o assunto é ambíguo e obscuro. Ainda que a psilocibina e psilocina sejam listadas como substâncias proibidas, a posse, venda, transporte e cultivo são, na prática, legais e permitidas.

Como assim? Há um vazio na lei. A Constituição Federal estabelece que um ato, um comportamento ou, nesse caso, uma planta, devem ser previamente declarados como ilegais por lei. Assim, a substância é ilegal, mas as mais de 200 espécies de cogumelos, não. Além disso, não há jurisprudência legal disponível sobre o tema, nem registros de pessoas presas especificamente pelo uso, cultivo ou posse de cogumelos psilocibina no país.