![]() | Em menos de um ano, a pandemia de covid-19 virou a nossa sociedade de cabeça para baixo. O que antes considerávamos normal já não é em absoluto, e isso inclui algumas maneiras de fazer turismo como os cruzeiros de luxo, que hoje acabam seus dias como sucata. As fotos foram feitas por Chris McGraw no centro portuário de reciclagem marítimo de Aliaga, na cidade turca de Izmir, e têm o mesmo sinistro encanto que os parques de atrações abandonados. |

A Aliaga chegam muitos barcos de diferentes tipos, mas ultimamente o estaleiro mostra o insólito panorama de cinco cruzeiros de luxo em perfeito estado esperando a morte. Alguns deles já começaram a ser desmantelados peça a peça e parecem cadáveres decompostos, os restos de algum mítico animal marinho meio a consumir por um exército de laboriosos parasitas humanos.

A coisa de "exército" não é uma maneira de falar. Segundo informou a Reuters, em Aliaga trabalham 2.500 especialistas em demolição de barcos. Consumir até o tutano de um destes colossos não é tarefa fácil. O processo pode levar até seis meses em função do tamanho do barco.

A pandemia de coronavírus supôs um golpe brutal para a indústria dos cruzeiros de luxo. Segundo dados da CNN, o setor destes descomunais navios tinha um valor de nada menos que 150 bilhões de dólares em 2019, e dava trabalho a 1.200.000 pessoas.

Então chegou o SARS-CoV-2, e a má sorte quis que um dos primeiros eventos de contágio em massa fosse um cruzeiro da companhia Diamond Princess. As notícias do barco em quarentena e seus 3.600 passageiros presos a bordo calou fundo no imaginário público.

A odisseia do navio e seus 702 casos obrigou à indústria dos cruzeiros a suspender atividade até nova ordem. A pandemia arremeteu um pouco no verão boreal, mas a chegada da segunda onda não augura nada bom para esta indústria que vive precisamente de pôr milhares de pessoas de férias em contato direto em lugares fechados.

Com os barcos ancorados e sem possibilidade de funcionar, muitas companhias estão apostando em se desfazer deles. Não é uma decisão fácil. Conforme dados do Financial Times, um cruzeiro típico pode custar até 1 bilhão de dólares. Vendê-lo como sucata permite recuperar apenas uns quatro milhões.

A ruína de uns com frequência é a fortuna de outros e em Aliaga estão contentes. A produção de aço desmantelado subiu de 700.000 toneladas métricas em janeiro, a 1.100.000 na atualidade. No estaleiro, os barcos oxidam lentamente vítimas de uma doença que não só corta na carne e sangra, senão que também enlouquece a economia. São testemunhas mudas do ocaso de um mundo que talvez estivesse fazendo turismo acima de suas possibilidades.
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Comentários
Excelente redação! Parabéns.