Alexander Chepurnov, cientista do Instituto de Medicina Clínica e Experimental da cidade russa de Novosibirsk e ex-funcionário do centro de virologia e biotecnologia Vektor, que atualmente trabalha em uma vacina contra o novo coronavírus, decidiu não respeitar as medidas de prevenção e, a propósito e sem máscara, entrou em contato com pessoas infectadas para comprovar na própria carne quanto dura a imunidade que supostamente garantem os anticorpos. Deu ruim! |
As conclusões de seu experimento não foram muito esperançosas: o pesquisador descarta que o mundo consiga alcançar a chamada imunidade de rebanho.
Chepurnov contraiu a covid-19 pela primeira vez no final de fevereiro, quando foi a França esquiar e fez uma escala em Moscou, onde durante o embarque passaram a seu lado três chineses. Um par de dias depois ficou com febre, sentiu uma dor aguda no peito e perdeu o sentido de olfato.
Ao voltar a Novosibirsk, foi diagnosticado com pneumonia bilateral e em um mês deu positivo em um teste de anticorpos, o que evidenciou que a causa de seu mal-estar era covid-19, contou o cientista à imprensa local.
Naquele tempo foi o primeiro entre seus colegas em saber realmente que tinha contraído o novo coronavírus. Todos começaram a observar o comportamento dos anticorpos que desenvolveu, quão fortes eram e quanto tempo permaneceriam em seu organismo.
O pesquisador evidenciou uma brusca diminuição dos anticorpos no sangue, que finalmente deixaram de ser detectados três meses após a doença. Sua situação coincidia com a de alguns pacientes com covid-19 estudados por cientistas canadenses, que descreveram os mesmos lapsos quanto à presença de anticorpos e, portanto, não descartaram a possibilidade de reinfecção.
- "Ao mesmo tempo, tomamos em consideração que a presença de anticorpos do covid-19 é só um marcador do fato de que uma pessoa esteve doente, e que a proteção principal contra a doença determinam os fatores da imunidade celular", explicou Chepurnov, agregando que também realizaram uma ampla pesquisa imunológica para determinar a proliferação específica e espontânea de células imunes, a produção de citocinas, entre outras coisas.
- "A qualidade das reações confirmou o funcionamento normal do sistema imunológico durante todo o período de observação. Isto é importante para compreender a natureza da reinfecção, porque as condições de imunodeficiência também podem provocá-la, mas são de natureza diferente", explicou.
Para avaliar a resposta de seu organismo, o cientista russo entrou em contato direto com pessoas infectadas com o novo coronavírus, prescindindo do uso de máscaras, e fez o teste a cada duas semanas. Deu positivo meio ano depois. A princípio começou a sentir dor de garganta e, ainda que no sexto dia seus pulmões estavam ainda limpos, três dias mais tarde desenvolveu pneumonia bilateral, de novo. O vírus deixou de ser detectado duas semanas depois.
- "A doença decorreu pior que a primeira vez. Inclusive, terminei no hospital: fui hospitalizado tão logo a saturação de oxigênio caiu abaixo de 93", confessou Chepurnov, que teve febre de 39° durante cinco dias, perdeu o olfato e sofreu mudanças na percepção do sabor. Agora tem anticorpos com um nível muito alto de imunoglobulina G.
Segundo sustenta, no caso da covid-19 não terá nenhuma imunidade coletiva e o vírus ficará por muito tempo entre nós, e afirma que é necessário um fármaco que possa ser administrado aos pacientes várias vezes.
- "A vacina recombinante não valerá para isso. Uma vez vacinado com o vetor adenoviral, no que se baseia, não será possível administrar de novo, pois impedirá a imunidade contra o portador adenoviral", disse o pesquisador, ao assinalar que ninguém sabe quanto tempo irá durar o efeito da Sputnik V.
- "Portanto, é mais provável que neste caso sirva a chamada vacina morta, na qual trabalha o Centro Científico Federal de Pesquisas e Desenvolvimento de Fármacos Imunobiológicos M.P. Chumakov", sustentou.
O cientista precisou que uma vacina deste tipo implica a introdução no organismo de um agente infeccioso que foi "desativado" com a formalina, para dar ao sistema imune um retrato do agente causal e ensiná-lo a resistir. Supostamente deve ser administrada várias vezes através do nariz.
Nesse mesmo sentido, um estudo publicado hoje por cientistas da Universidade do Colégio Imperial de Londres concluiu que a imunidade poderia durar tão pouco quanto três meses. A conclusão chega do dos resultados preliminares da Avaliação em tempo real da transmissão da comunidade (REACT por suas siglas em inglês), um meta-estudo de anticorpos que está sendo realizado desde que começou o verão boreal.
Durante todo este tempo, 350.000 voluntários britânicos estão recolhendo pequenas amostras de sangue para que os cientistas possam analisar a quantidade de anticorpos em seu organismo e sua evolução ao longo do tempo.
Como explicou o virologista russo, se uma pessoa infectada sobrevive para contar, seu corpo gera moléculas que combatem a infecção e que perduram em seu sangue durante um tempo. Os níveis de imunidade dependem do patogênico e da pessoa. O vírus da família coronavírus são uns pequenos bastardos especialmente insidiosos porque nossa imunidade ante eles se desvanece com o tempo.
E quanto dura essa imunidade então? A resposta curta é que não sabemos, mas a evolução dos anticorpos não são nada esperançosas. No final de junho, 6% dos voluntários analisados tinham anticorpos detectáveis de forma estável em seu sangue. Em setembro baixou a 4,4%.
Por suposto, o fato de que tenha menos pessoas com anticorpos detectáveis não significa que não tenham nenhum anticorpo. Para tornar as coisas mais complexas, existem diferentes tipos de anticorpos e nem todos eles neutralizam o vírus. Cabe a possibilidade de que uma pessoa com menos anticorpos tenha os do tipo bom à hora de manter uma verdadeira imunidade contra a covid-19.
Em definitiva, a louca experiência pessoal de Alexander Chepurnov e o meta-estudo da escola britânica são um balde de água fria sobre as teorias que advogam a geração de imunidade coletiva sem a mediação de uma vacina.
À luz destas últimas informações, a chave de tudo segue sendo evitar o primeiro contágio, não o segundo, e como dizíamos a princípio: no momento não há imunidade permanente contra a covid-19.
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