Os deepfakes quase perfeitos de Tom Cruise propõem preocupações sobre a tecnologia e a segurança

No final de fevereiro, se tornaram virais na rede social TikTok vários vídeos em que supostamente aparece o ator americano Tom Cruise. Todos os 3 vídeos publicados na conta deeptomcruise obtiveram mais de 10 milhões de visitas. No entanto, quem aparece nas imagens não é o artista, senão sua cópia super realista, criada com o uso de redes neurais de aprendizado profundo e a ajuda da tecnologia 'deepfake'. As três gravações mostram uma pessoa que se faz passar pelo famoso ator, onde se move, fala e interage ativamente.

No primeiro vídeo, o falso Tom Cruise fala de um encontro com o ex-líder da URSS, Mikhail Gorbatchov. No segundo, saúda os usuários e depois dá uma tacada em uma bolinha de golfe, e no terceiro, realiza um truque com uma moeda. Apesar de que não haja rastros de sobreposição óbvia de caras nos vídeos, em realidade, em nenhum destes aparece Tom Cruise.

Chris Ume, um especialista em efeitos visuais de vídeo da Bélgica, afirmou que ele criou o material audiovisual viral, mas não está claro quem interpreta a estrela de cinema. Por sua vez, o imitador de Cruise, Evan Ferrante, comentou que acha que é outro ator chamado Milhares Fisher, que se parece ao artista e que tinha feito reproduções dele no passado.

Evan assinalou que também usa deepfakes, trabalhando com os melhores profissionais da indústria. Não obstante, sublinhou que as imagens recentes estão recebendo muitos elogios, porque a tecnologia segue melhorando cada vez mais.

- "As pessoas se sentem atraídas pela ilusão e por pessoas parecidas por alguma razão, porque gostam de ser enganadas ou de questionar as coisas", apontou o imitador.

Os deepfakes são gerados e manipulados pela inteligência artificial, com maior frequência mudando a cabeça ou o rosto de uma pessoa pelo corpo de outra. No caso do vídeo, as imagens poderiam ter sido tomadas de múltiplas fontes, como fotos ou clipes dos filmes de Cruise, para criar a falsificação animada e mostrar como sua cara é vista de vários ângulos com diferentes luzes e movimentos.

Com respeito aos vídeos do Tom Cruise simulado, TikTok comentou que não permite falsificações digitais - "... que enganam os usuários ao distorcer a verdade dos eventos e causar dano ao modelo do vídeo, a outras pessoas ou à sociedade." No entanto, admite que deeptomcruise permaneça ativo porque o nome de usuário deixa claro que não estavam tentando enganar ninguém.

O rápido crescimento da tecnologia gerou dúvidas sobre a transgressão de direitos autorais, a segurança da Internet, a pornografia de vingança e a propaganda política. Nesse sentido, os dados do MIT Technology Review confirmam que a maioria dos deepfakes, desde o final de 2018, são utilizados para gerar conteúdos de pornografia não consensual, como pôr a cabeça de uma ex-namorada no corpo de uma estrela de cinema para adultos.

Rachel Tobac, diretora executiva da empresa de segurança on-line SocialProof, assegurou que os vídeos de Cruise estão tão bem feitos que seus envolvimentos dão medo.

- "Os deepfakes impactarão a confiança pública, proporcionarão ocultação e negação plausível para os delinquentes ou abusadores capturados em vídeo ou áudio, e serão (e são) utilizados para manipular, humilhar e causar danos às pessoas", asseverou.