A esmagadora maioria das plantas depende majoritariamente da ornitocoria, a dispersão de suas sementes através dos pássaros e insetos. Elas atraem polinizadores liberando compostos aromáticos no ar ou produzem um néctar doce que serve de alimento para pássaros e insetos. As espécies da árvore Pisonia (Pisonia grandis) não são diferentes. Elas estimulam os pequenos pássaros a construir ninhos em seus galhos, e quando eles roçam em seus galhos carregados de sementes, estas ficam presas nas penas das aves. |
Conhecidas popularmente por "garras do grande demônio", as sementes pegajosas da Pisonia, depois de algum tempo, caem, de preferência quando os pássaros viajam para outra ilha. Mas em algum lugar ao longo da história evolutiva da Pisonia, algo deu terrivelmente errado, pois em vez de usar os pássaros como vetores de polinização, ela acaba matando um grande número de aves ao carregá-los com tantas sementes que as pobres não conseguem voar para longe. Elas caem no chão e morrem de fome ou são comidas por predadores.
As Pisonias, também apelidadas de "caçadoras de pássaros", são encontradas em habitats tropicais, principalmente em ilhas do Caribe e Indo-Pacífico. As árvores produzem sementes longas, cobertas por um muco espesso e pequenos ganchos que se prendem a quase tudo que roça nelas. As sementes crescem em grandes cachos emaranhados, e cada cacho pode conter de uma dúzia a mais de duzentas sementes.
A Pisonia floresce duas vezes por ano, e o momento desses eventos coincide -naturalmente ao longo dos anos de evolução- com o pico de migração de aves marinhas para as ilhas. Essas aves usam a Pisonia para nidificar e, quando os filhotes eclodem e emplumam, o resultado costuma ser trágico.
Os jovens pintinhos ficam emaranhados e aprisionados em cachos pegajosos. Mesmo um punhado pequeno de sementes pode tornar um pássaro pesado, tornando-o incapaz de voar. Eles caem e eventualmente morrem de fome ou se tornam alimento para os necrófagos. Outras vezes, os pássaros morrem nas árvores e seus cadáveres mumificam pendurados nos galhos como enfeites macabros de árvores de Natal.
O comportamento terrível da Pisonia tem um efeito devastador na população de pássaros. Um estudo realizado na população de aves marinhas na Ilha de Cousin, nas Seychelles, revelou que a árvore matou um quarto das andorinhas-do-mar (Sterna hirundo) e quase um décimo das pardelas-de-audubon (Puffinus bailloni) por meio do emaranhamento fatal de sementes.
Os cientistas se perguntam se há algum benefício evolutivo derivado da Pisonia ao matar pássaros. Uma das hipóteses é que as árvores obtêm nutrientes acrescidos da decomposição dos cadáveres de pássaros que caem aos seus pés. Mas quando Alan Burger, um ecologista da Universidade de Victoria, analisou mudas que brotavam perto de carcaças de pássaros na Ilha de Cousin, não encontrou nenhuma evidência que parecesse indicar que as sementes estavam brotando melhor. Além disso, a árvore recebe muito mais fertilizante dos excrementos e dos ovos caídos do pássaro, indicando que eles valem muito mais para a árvore vivos do que mortos.
Alan testou também outra hipótese que tem a ver com a ornitocoria proporcionada pelas carcaças de pássaros mortos que poderiam chegar à costa em outras ilhas, ajudando na dispersão das sementes. Para testar a teoria, ele mergulhou as sementes em água salgada e descobriu que elas morrem depois de apenas cinco dias, descartando a possibilidade de que a Pisonia pudesse estar usando pássaros mortos como meio para dispersar as sementes para uma ilha distante.
- "Os resultados dos meus experimentos mostraram de forma bastante convincente que a Pisonia não derivou nenhum benefício óbvio do emaranhamento fatal de pássaros", concluiu Alan em um artigo publicado no Journal of Tropical Ecology em 2005.
- "O emaranhamento e a mortalidade de alguns dos vetores potenciais podem ser vistos como um efeito colateral negativo da seleção de sementes com adesão suficiente para alisar a plumagem de um pássaro por várias semanas e resistir aos esforços dos pássaros alisados para remover as sementes", concluiu Alan.
Em outras palavras, as sementes precisam ser absolutamente pegajosas para que não caiam dos pássaros. E como a resina vai perdendo a adesão gradativamente, principalmente quando imersa na água do mar, as sementes têm que começar extremamente pegajosas. Inadvertidamente, isso resulta na morte de centenas de milhares de aves marinhas todos os anos.
Os conservacionistas da Ilha de Cousin estão agora trabalhando para substituir as Pisonias por outras espécies de árvores nativas para ajudar a população de aves marinhas a se recuperarem. Eles também procuram ativamente pássaros emaranhados e os limpam cuidadosamente, antes de soltá-lo.
Surpreendentemente, muitas aves marinhas parecem amar as Pisonias.
- "É raro ver uma Pisonia que não esteja lotada de pássaros marinhos", disse Beth Flint, bióloga do Serviço de Vida Selvagem dos EUA.
Beth e seus colegas realmente trabalham para encorajar os bosques com Pisonia, porque eles são os principais habitats de nidificação de atobás-de-patas-vermelhas (Sula sula), tesourões (Fregata magnificens) e os trinta-réis-pretos (Anous minutus), que tem um porte maior e não sucumbem a maldição das garras do grande demônio.
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