Nas últimas 24 horas o país mais povoado do mundo registrou 354.531 novos contágios e 2.806 mortes. Faz 10 dias que a quantidade de contágios se mantém acima dos 200.000 diários e taxas de positivos superiores a 35%, e é já portanto o país que registrou, em termos absolutos e em tudo o que passamos pela pandemia, o maior pico dos efeitos sanitários da covid-19. Se os dados são ruins, as imagens são insuportáveis: filas de gente sufocando e morrendo no chão, esperando a vez para ser atendido no hospital que nunca chegará, crematórios em massa e bem mais. É um ponto tão crítico que a descrição não consegue a refletir a realidade do horror. |
Três dias atrás, quando a situação já era feia, o Departamento de Estado dos Estados Unidos disse que negava a solicitação formal da Índia de levantar uma proibição nas exportações de matéria prima necessária para fabricar vacinas. Ali onde um 42% de cidadãos já receberam ao menos uma dose, o ritmo de vacinação está caindo.
Depois de muitas pressões, faz algumas horas a administração Biden aceitou levantar parcialmente o veto às exportações e permitirá o envio do ingrediente farmacêutico ativo necessário para a fabricação dos imunizantes. Outros países também se comprometeram a enviar material sanitário e respiradores ao país.
Porque, paradoxos, Índia é o maior produtor mundial de vacinas e só em torno de 8% de sua população recebeu uma dose e só 1,6% recebeu a segunda. O mais importante, segundo uma longa reportagem de The Wire, porque o Governo central, bem por malícia ou por inépcia, manejou durante meses cifras errôneas sobre sua capacidade de produção das vacinas contra a covid-19 e devido a isso permitiu ao centros produtores desde muito cedo chegar a acordos de exportação com entidades estrangeiras que tecnicamente não podiam romper.
Segundo o Ministério de Assuntos Exteriores da Índia, conquanto já foram administradas 127 milhões de doses em seu solo, o país exportou outros 66 milhões de doses. Só faz algumas semanas que as exportações de vacinas foram proibidas. A isso se acrescentaria também uma negligencia à hora de apoiar os desenvolvedores de vacinas, o que fez com que companhias como Pzifer retirassem suas solicitações de aprovação, e que levou a que agora, em vista da calamitosa situação, aprovem por emergência o uso de vacinas estrangeiras sem a segurança 100% garantida, como a Sputnik V.
Diferentes fontes da imprensa local falam de ocultação da realidade e afirmam que não são 2.800 mortes diários, senão 26.000. Dado o nível de saturação dos crematórios como nunca antes foram vistos no país. Por que? Por falta de meios e precaução sanitária estão incinerando todos aqueles que chegam mortos muito próximo dos hospitais pese a que não seja feito um teste de covid-19.
Tanto Reuters ou The Hindu consideram que a escala de baixa subnotificação é da ordem de um zero extra. Por exemplo, segundo o boletim de saúde do estado de Gujarat, o total de mortes por covid-19 em abril foi de 78 enquanto em só sete cidades da região 689 corpos foram cremados ou enterrados seguindo os protocolos do vírus.
Índia é grande, mas talvez esses números nos façam entender melhor o risco de proliferação e mutações que supõe um vírus livre e desatado em qualquer canto do mundo. Tanto Índia como Brasil fracassara à hora de impor medidas de prevenção de contatos, mas a baixa disponibilidade de vacinas em seus territórios enquanto estão vacinando americanos, canadenses ou britânicos de 30 anos também mostra uma falha gritante.
Esta subnotificação de mortos, por verdade, esta ocorrendo em muitos outros países pobres ou em via de desenvolvimento. Em Damasco a ordem de cifras reportadas poderia ser unicamente de 1,25% sobre as reais.
Conquanto o programa Covax permitiu que os grandes países ricos comprassem quatro ou seis vezes o número de doses que precisavam para cobrir a sua população e em teoria isso permitiu que os produtores vendessem bem mais barato, isso também levou a que esses países pobres não pudessem comprar as vacinas por sua conta, e está tendo consequências. Segundo o jornalista Dave Keating, seu país está sentado sobre 100 milhões de doses de AstraZeneca que, pelo tema da trombose, não teve o uso autorizado e corre o risco de que acabe no lixo.
Enquanto pensam a quem dar estas vacinas já fabricadas primeiro, os analistas indicam que o movimento que acabaria antes com o problema seria renunciar aos direitos de propriedade intelectual das vacinas em países que pudessem produzi-las.
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