Quando você já mora em uma ilha tropical paradisíaca, para onde vai para escapar de tudo isso? No século 18, o destino de férias definitivo para os chefes do Taiti era um pequeno atol a meio dia de navegação. Conhecido como Tetiaroa, um atol formado por várias ilhotas de coral situada no arquipélago das Ilhas da Sociedade, na Polinésia Francesa. O anel de 12 ilhotas exuberantes é emoldurada por uma lagoa azul repleta de tartarugas e golfinhos. No Taiti, os chefes governavam os povos nativos maohi, mas em Tetiaroa, os governantes e sua comitiva podiam relaxar de papo para o ar. |
Os chefes taitianos não foram os últimos a passar férias, longe dos olhos do público, em Tetiaroa. Enquanto filmava "Motim do HMS Bounty", de 1962 na região, o ator Marlon Brando ficou tão encantado que acabou comprando o atol e trabalhou para salvaguardar sua beleza natural.
Consequentemente, os únicos empreendimentos em Tetiaroa hoje são a Sociedade Tetiaroa, uma organização sem fins lucrativos de conservação, e o The Brando, um eco-resort de luxo. O retiro isolado atraiu celebridades como Leonardo DiCaprio e o ex-presidente Barack Obama, que escreveu suas memórias lá em 2017.
Para os taitianos nativos, Tetiaroa é a jóia que realmente querem proteger, diz Hinano Murphy, diretor cultural da Sociedade Tetiaroa. A organização visa conservar o patrimônio natural e cultural do atol atraente, cerca de 50 quilômetros ao norte do Taiti. Ambas as ilhas pertencem à atual Polinésia Francesa, localizada no coração do Pacífico Sul, cerca de 4.300 quilômetros ao sul do Havaí e 4.800 quilômetros a leste da Austrália.
A história emergente confirma que Tetiaroa era o local de férias da família real de Te Porionu'u. Mas as ilhotas também desempenhavam outras funções: líderes de outras ilhas e suas delegações se reuniam ali para rituais e negociações.
Os membros mais jovens das famílias de chefes também participavam de ritual de engorda, ou ha'apori, no atol: eles se escondiam em residências, ao abrigo do sol, e se alimentavam de uma pasta fermentada de alto teor calórico de fruta-pão e água de coco. Depois de semanas, eles emergiam, parecendo um ameixa real: pálidos e gordos.
Pesquisas em andamento também mostram que Tetiaroa foi um destino valioso para os polinésios nativos há muito mais tempo do que se pensava, provavelmente desde que as maiores ilhas do arquipélago, Taiti e Moorea, foram povoadas pela primeira vez, cerca de 900 anos atrás.
Os arqueólogos Guillaume Molle da Universidade Nacional Australiana e Aymeric Hermann do Instituto Max Planck da Alemanha e do Centro Nacional Francês de Pesquisa Científica (CNRS) começaram a trabalhar em Tetiaroa há cerca de uma década, quando o resort Brando estava sendo construído.
Durante a construção, eles ocasionalmente encontravam ruínas e alertavam arqueólogos da Universidade da Polinésia Francesa, nas proximidades do Taiti. Molle e Hermann, então alunos de doutorado na universidade, visitaram o atol em diferentes momentos para estudar os achados, incluindo um sepultamento e um templo ao ar livre conhecido como marae.
As excursões levaram a uma colaboração de longo prazo com a Sociedade Tetiaroa, que redeu uma pesquisa intensiva, que foi publicada no Journal of Pacific Archaeology, em 2019. Eles conseguiram identificar 115 estruturas arqueologicamente significativas, de humildes pedras de cozinha a plataformas para dança e tiro com arco, um esporte praticado apenas por chefes de alto escalão ou jovens guerreiros. Os resultados reforçam histórias e etnografias tradicionais, que retratam o atol como um retiro multiuso e local de busca de recursos como penas de pássaros, tartarugas e óleo de coco.
Jennifer Kahn, arqueóloga do Colégio William and Mary, que pesquisa a Polinésia Francesa, mas não está envolvida no projeto em andamento em Tetiaroa, acredita que as férias em Tetiaroa podem ter sido uma pausa bem-vinda para a elite do Taiti no século 18: de volta para casa, os chefes aderiam estritamente ao tapu, que regulamentava como os membros de diferentes classes sociais se comportavam.
Por exemplo, os chefes não podiam andar no chão da casa de um plebeu e tinham que ser carregados nos ombros de assistentes. Dia após dia, essas restrições provavelmente pareciam exaustivas, mas se apenas pessoas com o mesmo status estivessem presentes no Tetiaroa, esses códigos rígidos de comportamento relaxavam.
Os destaques da pesquisa de 2019 incluem a identificação de 20 marae, onde os polinésios realizavam cerimônias que homenageavam divindades e espíritos ancestrais. Em todo o arquipélago, os marae da elite geralmente apresentavam um pátio elevado retangular, cercado por lajes de pedra verticais, embora os detalhes variassem de ilha para ilha.
O arqueólogo Hermann também mediu a composição geoquímica de 83 artefatos ou características arquitetônicas feitas de rocha vulcânica, o que não ocorre naturalmente no atol de recife de coral de Tetiaroa. Sua análise, publicada na Archaeology in Oceania, em 2019, revelou que cerca de 90% provavelmente veio do Taiti ou Moorea.
No entanto, várias amostras vieram de fontes distantes; um fragmento de ferramenta de pedra, descoberto em uma plataforma de dança em Tetiaroa, pode ter sido originado de afloramentos de andesito em Tonga ou Fiji, 2.500 quilômetros a oeste, ou Nova Zelândia, quase 3.200 quilômetros a sudoeste.
Embora a equipe esperasse encontrar ruínas de retiros reais, eles ficaram surpresos com os muitos locais modestos, espalhados por todas as ilhotas, o que sugere que um bom número de plebeus habitou Tetiaroa o ano todo, possivelmente antes de ser um retiro real.Os pesquisadores esperam que a datação por radiocarbono esclareça quando diferentes grupos usaram a ilha, pois uma comunidade muito grande morou lá e provavelmente exploraram os diferentes recursos disponíveis no atol por muito tempo.
Esta comunidade precisaria obter itens básicos como fruta-pão e rocha vulcânica das ilhas vizinhas maiores, provavelmente por meio de comércio. Tetiaroa definitivamente fazia parte de uma rede maior de relacionamentos.
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