No estado da Flórida, nos Estados Unidos, uma mulher diz ter ficado em "choque" quando, ao revisar sua conta bancária em um caixa eletrônico, viu que tinha recebido um depósito de quase um bilhão de dólares. Ainda assustada, Julia Yonkowski, se lamentou o quanto lhe custou entrar em contato com o banco para esclarecer e solucionar o que considerava um evidente erro. Ela teve a surpresa de uma vida no sábado passado, ao ir a um caixa na cidade de Largo para retirar 20 dólares e, depois ao verificar o saldo de sua conta, descobriu que tinha ali nada menos que 999.985.855 dólares com 94 centavos. |
Julia Yonkowski foi fazer uma retirada de 20 dólares e viu que sua conta tinha quase um bilhão.
- "O meu Deus, fiquei aterrorizada! Sei que muitos pensariam que foi uma sorte incrível, mas eu tive medo", assegurou a mulher, que segundo aquele valor teria ocupado um posto de alto nível entre as pessoas mais ricas dos EUA
Imediatamente tentou entrar em contato com a instituição financeira, o Chase Bank, mas suas chamadas eram constantemente respondidas por um sistema automatizado e não obteve resposta até segunda-feira.
- "Sei de histórias similares sobre pessoas que pegaram o dinheiro e depois tiveram que devolvê-lo. Eu não faria isso, porque não me pertence", disse ao manifestar sua preocupação pelos erros ou ameaças cibernéticas.
Por sua vez, uma porta-voz do banco, Amy Bonitatibus, assegurou à imprensa local nesta terça-feira que o montante que Julia viu era simplesmente uma maneira de "chamar sua atenção sobre um problema com sua conta". Ademais, sustentou que o Serviço de Atendimento ao Consumidor da sucursal local entrou em contato com a mulher para esclarecer a discrepância. Por enquanto, Julia não se pronunciou ao respeito nem disse se o assunto foi finalmente resolvido.
No último mês de abril nós contamos o caso de outra americana, Kelyn Spadoni, de 33 anos, que se recusou a devolver mais de 1,2 milhões de dólares que foram depositados acidentalmente em sua conta bancária e acabou presa, com acusações de roubo, fraude bancária e transmissão ilegal de fundos monetários.
A ação movida no Tribunal Distrital dos EUA em abril diz que Kelyn assinou um acordo para devolver o dinheiro. Até agora, ela devolveu 75% do dinheiro, os outros 25% ela gastou com a compra de uma casa e carros novos.
Na época as pessoas perguntaram se não era amoral ela ficar com o dinheiro em vez de tentar devolvê-lo. Eu acho que resposta é mais complexa do que um simples "sim" ou "não". A princípio as pessoas têm a obrigação prima facie -algo que consideramos correto até prova em contrário- de devolver os pertences dos outros. Uma obrigação moral prima facie é aquela que as pessoas normalmente têm, a menos que haja circunstâncias especiais.
Aristóteles, por exemplo, dizia que as pessoas normalmente têm a obrigação moral de devolver os pertences dos outros, porque ser verdadeiro e tratar os outros com justiça são virtudes essenciais na vida,. Uma pessoa boa age com integridade e senso de justiça, em vez de ser enganosa e gananciosa .
Certamente seria tentador ficar com dinheiro que não pertence a você, mas fazer isso é moralmente errado tanto quanto é desonesto e ganancioso. No entanto, as coisas nem sempre são tão simples. Isso porque as obrigações morais prima facie dependem de detalhes particulares das situações. Imagine, por exemplo, ver um bilionário derrubar 100 reais no chão. Ainda seria recomendável devolver esse dinheiro, mas a obrigação moral de fazê-lo é mais frágil do que em outros casos.
Da mesma forma, é notável que, no caso de Kelyn, ela recebeu dinheiro por causa de um erro de uma grande instituição financeira. As obrigações morais para com os indivíduos nem sempre se traduzem no nível institucional, especialmente quando essas próprias instituições não tratam as pessoas com integridade e justiça.
As obrigações morais prima facie também podem ser superadas por outras obrigações. Imagine, por exemplo, que a pessoa que encontrou a carteira precisasse do dinheiro para comprar comida ou remédio para seus filhos. Alternativamente, imagine que o dono da carteira fosse um criminoso notório que usaria o dinheiro devolvido para machucar outras pessoas.
Esses cenários identificam obrigações morais adicionais de cuidar de pessoas necessitadas e prevenir danos a outras pessoas. Fazer o que é certo na vida real requer pesar todas as considerações morais relevantes, que, às vezes, estão sujeitas a limites no mundo real.
Kelyn foi solta depois de pagar uma fiança de 50 mil dólares e a próxima audiência está marcada para 2 de agosto.
O MDig precisa de sua ajuda.
Por favor, apóie o MDig com o valor que você puder e isso leva apenas um minuto. Obrigado!
Meios de fazer a sua contribuição:
- Faça um doação pelo Paypal clicando no seguinte link: Apoiar o MDig.
- Seja nosso patrão no Patreon clicando no seguinte link: Patreon do MDig.
- Pix MDig ID: c048e5ac-0172-45ed-b26a-910f9f4b1d0a
- Depósito direto em conta corrente do Banco do Brasil: Agência: 3543-2 / Conta corrente: 17364-9
- Depósito direto em conta corrente da Caixa Econômica: Agência: 1637 / Conta corrente: 000835148057-4 / Operação: 1288
Faça o seu comentário
Comentários