O Japão se destaca por uma tradicional disciplina férrea do emprego e dos estudos. Do país asiático contam histórias frequentes sobre trabalhadores que caem doentes devido ao excesso de horas extras ou que tiram a própria vida devido ao estresse. Conhecido como karoshi ou morte por excesso de trabalho, as pesquisas com frequência determinam que os trabalhadores "enlouquecem" após dedicar mais de 100 horas à semana durante meses. |
A pandemia trouxe, no entanto, grandes mudanças na forma em que as corporações japonesas, muitas das quais ainda são muito rígidas, se ocupam de seus negócios. E esta mudança de mentalidade já está impulsionando, sem ir mais longe, uma semanal trabalhista de quatro dias.
O governo japonês planeja alentar às empresas a que permitam que seus empregados escolham trabalhar quatro dias à semana em vez de cinco, com o objetivo de melhorar o equilíbrio entre o trabalho e a vida das pessoas que têm responsabilidades familiares. Já faz parte de sua nova diretriz de política econômica anual.
Os líderes políticos agora esperam convencer as empresas de que os horários de trabalho flexíveis, o trabalho remoto, a crescente interconexão e outras medidas podem ser benéficas se permanecerem em seu lugar inclusive após o final da crise sanitária. Algo inaudito no Japão.
A iniciativa sustenta-se sob o esquema de que as empresas poderiam reter ao pessoal mais experimentado que de outra maneira teria que sair do emprego se estão tentando formar uma família ou cuidar de parentes idosos. Uma semana trabalhista de quatro dias também alentaria mais pessoas a obter qualificações educativas adicionais ou inclusive a realizar trabalhos secundários além de seu emprego regular, segundo o governo.
Mais importante ainda, as autoridades esperam que um dia livre adicional à semana anime as pessoas para que saiam gastem mais, impulsionando assim a economia. Também há previsão que os jovens terão mais tempo para se conhecerem, se casarem e terem filhos, o que ajudaria a resolver o problema cada vez maior da taxa de natalidade decrescente, uma demografia nacional cada vez mais envelhecida e uma população em contração.
Assim, o país asiático se soma a uma tendência que pouco a pouco se estende por todo o Globo. Contamos ontem no MDig como um meta-estudo realizado na Islândia chegou a conclusão que a mudança para uma semana trabalhista de quatro dias demonstrou ser um "tremendo sucesso". As autoridades da Nova Zelândia e Finlândia vem propondo a ideia de uma jornada de trabalho de quatro dias durante muito tempo. O Partido Trabalhista britânico em 2019 fez uma campanha com a ideia de adotar um modelo similar na próxima década.
Inclusive várias empresas independentes começaram a se mover nessa direção. A Kickstarter anunciou faz algumas semanas que reduziria as horas dos empregados sem reduzir o salário no próximo ano. A Microsoft do Japão estabeleceu um fim de semana temporário de três dias no passado, o que resultou em um aumento de 40% na produtividade, segundo a companhia, e reduziu o consumo de eletricidade.
Durante a pandemia, as empresas precisaram mudar para novas formas de operar e estão vendo um aumento gradual de sua produtividade.
- "As empresas fazem que seus empregados trabalhem em casa ou de forma remota, em escritórios satélites ou nas localizações de seus clientes, o que pode ser bem mais conveniente e produtivo para muitos", explicou Martin Schulz, economista chefe de políticas da Unidade de Inteligência de Mercado Global da Fujitsu Ltd.
A empresa japonesa aproveitou essa oportunidade e reduziu o espaço de escritórios em sua sede de Tóquio em 50% à medida que avança para o trabalho remoto.
No entanto, existem inconvenientes nos planos do governo, como por exemplo que o Japão já está experimentando uma escassez de mão de obra provocada por um menor número de jovens que se incorporam à força trabalhista. Ademais, pese a que os empregados achem atraente a ideia de uma semana trabalhista mais curta, se preocupam com possíveis salários reduzidos e acusações de que não estejam completamente comprometidos com a empresa.
Hisashi Yamada, vice-presidente do think tank Japan Research Institute, explicou em uma reportagem que acha que algumas pequenas e médias empresas não podem se dar o luxo sequer de dar esses dias livres adicionais, e algumas empresas poderiam tentar reduzir os custos trabalhistas aplicando uma semana trabalhista de quatro dias inclusive aos empregados que desejam trabalhar mais dias. O que re reforça a necessidade de que o governo elabore um marco que garanta o direito do trabalhador a escolher se deseja ter três dias livres à semana.
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Comentários
essa mudança de semana de 4 dias de trabalho ainda vai demorar muito para entrar aqui... ainda trabalhamos com uma semana de 6 dias praticamente (meio dia de sabado) dependendo da empresa
tomara que mergulhem na idéia...