Dependendo da sua idade, provavelmente passou uma boa parte dos anos esparramado na frente da TV, absorvendo um fluxo constante de desenhos animados recheados de anúncios de brinquedos. Uma das estrelas animadas se destacou da multidão, um felino esguio e bípede de um tom nitidamente rosado, que ocupou os mais diversos horários na TV brasileira, inclusive o horário nobre. Ela compartilhava a veia anárquica do Pernalonga, sem a intensidade exagerada e falastrona. Na verdade, ela mal falava e logo ficou totalmente muda, contando com o famoso tema de Henry Mancini, que a seguia aonde quer que fosse. |
Acima de tudo, ela era sofisticada, com uma estética minimalista e uma longa piteira. O diretor Blake Edwards atribui seu apelo duradouro à sua natureza "promíscua, divertida e diabólica", mas o fato de seus desenhos não terem (quase) nenhuma fala, sem a barreira do idioma, ajudou muito também.
O curta documentário de John Cork "Behind the Feline: The Cartoon Phenomenon", abaixo, detalha como Edwards encarregou os animadores comerciais David DePatie e Friz Freleng de criar um personagem de desenho animado para "Pantera Cor-de-Rosa", o filme sobre o roubo de um diamante cuja característica ímpar é possuir uma imagem de uma pantera, cor-de-rosa, no seu interior.
DePatie, Freleng e sua equipe redigiram mais de uma centena de representações em resposta às notas de personagem que Edwards os bombardeou via telegrama. A favorita de Edwards, desenhada pelo diretor Hawley Pratt, apresentava a icônica piteira e apareceu no trailer do longa-metragem e na sequência do título, acabando por ofuscar um elenco repleto de estrelas, incluindo David Niven, Claudia Cardinale, Robert Wagner e Peter Sellers como o Inspetor Clouseau.
A sensacional estreia do desenho animado da pantera levou a United Artists a encomendar mais 156 curtas, a serem lançados em um período de quatro a cinco anos. O primeiro deles, "The Pink Phink", não apenas estabeleceu o tom, mas também ganhou o Oscar de melhor curta de animação de 1964.
Nos EUA, o Show da Pantera Cor-de-Rosa exibido de 1969 a 1980, resistindo a vários ajustes de título e um salto da rede NBC para a ABC. O desenho estreou no Brasil na extinta TV Tupi, e foi exibido no período de 1973 a 1978. De 1979 a 1981 foi exibida na TV Record. A Partir de 1982 a série foi exibida no horário nobre da extinta TVS, atual SBT. A partir dai o desenho foi exibido por quase todos os programas infantis da TV brasileira e em praticamente todo os canais. Atualmente é exibida na TV Cultura.
De fato, a distribuição garantiu uma vida após a morte vibrante, aqui e em outros países, onde a sofisticação do personagem e a confiança na linguagem corporal continuam a ser uma vantagem.
As tramas se desenrolam ao longo de linhas previsíveis: a pantera descolada passa 6 minutos frustrando e atormentando um personagem menos legal e menos rosado, geralmente o Inspetor.
- "Achei que estava tudo bem para o filme", diz Edwards sobre a animação no documentário de Cork de 2003. - "No entanto não tinha ideia de que iria decolar assim, que teria esse tipo de vida própria ... Aquele tipo de vida própria de merchandising. Graças a Deus que sim!"
Quase 60 anos depois a Pantera Cor-de-Rosa continua perambulando e fazendo sucesso por aí, agora com compilação de 3 temporadas, de 5, 3 e 3 horas. Quem diria que um personagem para fazer apenas uma introdução de um filme se tornaria uma das principais estrelas da TV mundial?
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