As cerimônias de abaixamento das bandeiras na fronteira Attari-Wagah é uma prática militar diária que as forças de segurança da Índia (Força de Segurança da Fronteira, BSF) e do Paquistão (Rangers paquistaneses) seguem em conjunto desde 1959. O exercício é caracterizado por uma marcha elaborada e rápida, como manobras onde os soldados levantam as pernas o mais alto possível. É alternativamente um símbolo da rivalidade dos dois países, bem como da fraternidade e da cooperação entre as duas nações que já foram uma antes da partição da antiga Índia. |
Da última vez que falamos sobre o assunto, a cerimônia era mais formalmente militar e tinha um tom beligerante de total rivalidade com os soldados de ambos os países marchando e cumprindo as etapas de arriamento de suas respectivas bandeiras nacionais. Mais recentemente, a maior autoridade dos Rangers do Paquistão decidiu que o aspecto agressivo do cerimonial deveria ser atenuado.
De qualquer forma os soldados de ambos os lados usam plumas em seus capacetes, como se tivessem uma aparência de que são maiores do que realmente são; se pavoneiam andando rápido, batendo os braços, chutando para o alto e fazendo uma pose desafiadora com os braços erguidos e o peito estufado, tudo com o objetivo de intimidar e superar o outro lado.
Além de diminuir a teatralidade beligerante do ato, atualmente a BSF já incorpora mulheres em sua força e elas também participam da cerimônia. O mesmo não acontece com os rangers do Paquistão, de maioria muçulmana. No começo do vídeo abaixo é possível ver como as paquistanesas se vestem de forma muito mais conservadora em total contraste com suas contrapartes indianas.
Duas vezes por semana mais concorridos pelos turistas, civis indianos agora também podem participar da solenidade correndo com bandeiras e dançando músicas populares. Em geral, são professoras da escola fundamental com seus alunos. Tem uma, coitada, que leva um tombaço (vídeo acima), mas se levanta apenas com a dignidade ferida.
Enquanto isso do outro lado, apenas um jovem faz a participação civil na celebração. De fato, o lado paquistanês tem muito menos espectadores e parece ser menos festivo que o indiano. As arquibancadas indianas, por exemplo, comportam até 25.000 pessoas, enquanto as paquistanesas têm ao todo 5.000 lugares.
Esta cerimônia, chamada formalmente de "Batida em Retirada" acontece todos os dias uma hora antes do pôr do sol na fronteira Wagah-Attari, que era a única ligação rodoviária entre esses dois países antes da abertura da Aman Setu na Caxemira em 1999. A cerimônia começa com um desfile estrondoso dos soldados de ambos os lados, exatos 25 minutos antes do arriamento perfeitamente coordenado das bandeiras das duas nações.
As bandeiras são dobradas e a cerimônia termina com uma retirada que envolve um aperto de mão brusco entre os soldados de ambos os lados, seguido pelo novo fechamento dos portões. O espetáculo da cerimônia atrai muitos visitantes dos dois lados da fronteira, além de turistas internacionais.
O evento não está livre de riscos, sobretudo do lado paquistanês. Em 2 de novembro de 2014, cerca de 60 pessoas morreram e pelo menos 110 pessoas ficaram feridas em um ataque suicida no lado paquistanês da fronteira Wagah-Attari. Um jovem-bomba de 20 anos detonou um explosivo de 5 kg em seu colete a 500 metros do portão.
Após o confronto militar indo-paquistanês em 29 de setembro de 2016, a cerimônia de fechamento da fronteira continuou, mas do lado indiano a participação do público foi restrita. Devido ao sinal do aumento das tensões, o BSF não trocou doces e saudações com os Rangers paquistaneses no Diwali de 2016, apesar de uma longa tradição de fazê-lo em grandes festivais religiosos, e também durante os Dias da Independência de ambos os países.
Esta cerimônia de arriamento das bandeiras não é única apenas pela participação de dois países, senão que também por dois países que são inimigos históricos desde a independência da Grã-Bretanha em 1947, e que ainda hoje trocam chumbo na Caxemira por sua posse.
Se esses dois países com um histórico de conflitos podem se unir todo final de dia e cooperar em uma cerimônia bonita como essa, então talvez possam cooperar em outras questões e viver juntos em paz, e voltar a ser o que foi a província mais rica da Índia Britânica: o Punjab, que na época englobava os atuais estados de Himachal Pradesh, Punjab Indiano, Punjab Paquistanês e Haryana.
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