MDig - Há 17 anos diminuindo a sua produtividade

"A morte do homem começa no instante em que ele desiste de aprender..." Esta frase foi o primeiro post do MDig, em 20/09/2004, ainda no Blogger. Quem poderia dizer que ela ficaria on-line durante 17 anos? De fato, foi apenas um teste que fiz além da intranet, que eu usava para troca de mensagens, dados e desenhos com clientes da minha empresa de projetos eletro-eletrônicos na época, mas o MDig acabou se tornando, primeiro, um vício, e depois um dos projetos mais importantes da minha vida.

Os blogs eram bastante novos em 2004. Lembro-me de ter que explicar a mais de uma pessoa o que era um blog. Não existia Facebook, nem Twitter e nem mesmo o MySpace ou Orkut naquele ano. Assim os blogs começaram a dar voz àqueles que desejavam através da seção de comentários.

Havia um costume de nomear os blogs com duas ou mais palavras: Open Diary, Cu de bêbado, Eu Hein, Kibe loco (o maior plagiador da Internet brasileira que mereceu até o verbo "kibar"), Imprensa Marrom, entre outros. Como sou fã de Raul escolhi Metamorfose Digital, mas logo iria me arrepender com o nome extenso demais para uma URL. Foi o Knutz do Uêba que sugeriu MDig. Comecei a postar coisas que encontrava na web que me interessassem. Nunca esperei que alguém realmente quisesse lê-las além de um ou dois amigos.

Mas os blogs ainda eram uma rede pequena o suficiente para que outros blogueiros percebessem quando você criava um link para eles. Comecei a receber links para o meu conteúdo. Os comentários começaram a chegar lentamente. Em poucos meses, comecei a receber cerca de 100 visitas por dia e o tráfego começou a dobrar a cada dois meses.

No auge da popularidade deste blog, cerca de 2012, o MDig tinha em média 75 mil visitas por dia. Qualquer post rendia centenas de comentários. Foi uma época louca. Descobri que quanto maior se tornava o número de leitores, mais estressante era manter o blog divertido diariamente devido as brigas homéricas nos comentários.

Eu tinha três empregos naquela época. Um era cuidar de meus projetos e programações industriais, o outro era postar conteúdo, e a moderação de comentários tornou-se uma enorme perda de tempo apenas para manter as coisas civilizadas e remover spam.

Eu era remunerado por meio de anúncios do Google, que ainda eram lucrativos naquela época. Mas a web começou a mudar depois de 2012. Os leitores de blogs começaram a migrar para o Facebook e o Twitter, plataformas que poderiam dar a eles um alivio instantâneo e um alto-falante potente e com bom som. Ninguém precisava mais criar seu próprio blog ou fazer um comentário para ser ouvido.

Quando alguém se inscrevia em uma conta no Facebook, em segundos tinha seu próprio blog pessoal e público por meio de suas conexões que o Facebook servia em uma bandeja. Em 2013, o Google abandonou seu leitor de rss e este foi um grande golpe nos blogs, já que os leitores de rss eram as artérias que abasteciam nossos seguidores e também mudou seus algoritmos, levando os blogs a um nível mais profundo em seus resultados de pesquisa.

Isso teve um impacto tremendamente negativo, nos obrigando a cortar custos e demitir funcionários. Blogs megapopulares como o Boing Boing começaram a vender produtos em postagens entrelaçadas com seu conteúdo, supostamente porque a receita de anúncios não era mais consistente.

Por isso nunca entendi os leitores, sobretudo os brasileiros, que se orgulham de usar bloqueadores de anúncios para contornar as receitas do blog que ele acompanha. Eu certamente não seria capaz de pagar nem a hospedagem na web para meu tráfego sem receita de anúncios. Mas Deus me livre que eles vejam um anúncio na barra lateral. É as trevas!

Eu quase parei de blogar algum tempo depois disso. Estava simplesmente exausto e cansado de receber comentários odiosos e e-mails após cada postagem. Postagens com cunho político rendiam ameaças de morte, ameaças contra meus filhos... Mesmo as "postagens de gatos" ou as Imagens da Semana recebiam um ou dois comentários irritados.

Mas as coisas mudam. E com a web, elas mudam rapidamente à medida que novas plataformas surgem e outras desaparecem quase da noite para o dia. E isso nos traz até hoje. 17 anos depois de começar esse hobby que se tornou uma das jornadas mais recompensadoras da minha vida.

Eu cresci muito desde 2004. Minhas opiniões mudaram um pouco. Tenho certeza de que as opiniões que você poderia desenterrar em postagens do passado não são mais as que tenho hoje. Mas, basicamente, sou o ainda liberal blogueiro ateu e curioso que adora fotografia, mergulho e pedalar pelo mundo afora.

Há uma coisa que nunca levei em consideração quando comecei este blog. Algo que me pegou de surpresa e a coisa pela qual sou mais grato, que me fez continuar todos esses anos: os leitores e comentadores que reservaram um tempo para me visitar nestes anos. Recorrentemente, recebo e-mails simpáticos e carinhosos (ou solicitações de amizade nas redes sociais) de jovens bonitos e educados me agradecendo por ter ajudado a formar sua personalidade quanto ainda eram adolescentes frequentadores do MDig. Isso sinceramente não tem preço.

Você que adicionou este blog quando eu estive em falta. Você que me manteve ativo e me encheu de alegria durante os dias difíceis. Você que me ajudou a mudar de opinião e me fazer tentar ser uma pessoa melhor. Muito obrigado por estar comigo nesta louca e fascinante jornada, que todos nós percorremos on-line. E espero que estejamos juntos nos próximos 17 anos.