O final de '2001: Uma Odisseia no Espaço' e 'O Iluminado', explicado por Kubrick em documentário que nunca viu a luz

Ainda que aclamado como uma dos melhores filmes de todos os tempos, para muitas pessoas, "2001: Uma Odisseia no Espaço" de Stanley Kubrick é um filme desconcertante. A obra mestre do genial diretor segue confundindo e dando lugar a mil e uma interpretações. Que demônios queria dizer com esse final? Em uma entrevista que não chegou a ser publicada Kubrick o explica... junto ao final de "O Iluminado".

A verdade é que antes dessa entrevista, Kubrick disse o seguinte sobre 2001 para a revista Playboy:

- "É livre de especular como queira sobre o significado filosófico e alegórico do filme, e essa especulação é uma indicação de que conseguiu cativar à audiência a um nível profundo. Mas não quero soletrar uma folha de rota verbal para 2001 que todo espectador se sinta obrigado a seguir."

Agora sabemos que em realidade não cumpriu com sua palavra. Um vídeo resgatado de 1980 prova isso. O clipe é parte de um documentário do cineasta Jun'ichi Yao que estava investigando às supostas experiências paranormais que ocorreram no set de "O Iluminado".

Dito documentário nunca chegou a ser lançado, mas a sequência com Kubrick como protagonista sim. Nela nos apresenta uma conversa telefônica com o diretor revelando suas intenções por trás de "2001: Uma Odisseia no Espaço". Na entrevista, Yao pergunta:

- "As pessoas estão se perguntando qual é o significado da última cena ... poderia dar-nos respostas?", referindo à cena final em 2001 onde o protagonista Dave Bowman jaz na cama. Kubrick responde o seguinte:

- "Bom, tentei evitar fazer isto desde que saiu o filme, porque quando você apenas diz as ideias, elas soam tolas, ao passo que, se forem dramatizadas, a pessoa sente. Mas tentarei: a ideia era que ele fosse levado por entidades semelhantes a deuses, criaturas de pura energia e inteligência sem forma ou forma e que o colocaram no que suponho que você poderia descrever como um zoológico humano para estudá-lo, e toda a sua vida passa daquele ponto em diante naquela sala e ele não tem noção do tempo, apenas parece acontecer como no filme."

Elaborando ainda mais esse conceito, Kubrick então observa, que eles escolheram esta sala que é uma réplica muito imprecisa da arquitetura francesa, deliberadamente tão imprecisa.

- "É inexata porque estava sugerindo que tinham alguma ideia de algo que ele poderia pensar que era bonito, mas não estavam muito seguros, bem como os humanos não estamos muito seguros de que fazer nos zoológicos com animais, para lhes dar o que achamos que é seu meio natural."

Concluindo, o cineasta comenta:

- "Quando acabam com ele, como acontece em tantos mitos de todas as culturas do mundo, ele se transforma em uma espécie de super-ser e é mandado de volta à terra ... É o padrão de muitos mitologia, era o que tentávamos sugerir."

Antes de terminar a entrevista, Yao aproveita o "momento revelação" de Kubrick para perguntar-lhe também pelo final de "O Iluminado", com esse zoom à fotografia do passado do hotel. Kubrick voltou a deixar-lhe outra premissa:

- "Supõe-se que sugere uma espécie de ciclo da reencarnação do mau, onde ele [Jack] é parte da história do hotel, assim como no banheiro de homens, está falando com o ex cuidador [Grady], fantasma do ex cuidador, que lhe diz: 'você é o cuidador; sempre foi o cuidador, deveria saber que sempre estive aqui'. É simplesmente sugerir algum tipo de ciclo interminável desta reencarnação do mau e um, também ... bom, isso é tudo, é o tipo de coisas que acho que é melhor deixar sem explicar, mas já que perguntou tentei explicar."

Embora esta seja certamente uma resposta definitiva de Stanley Kubrick, 2001: Uma Odisséia no Espaço está imbuída de tanto conteúdo visceral e emocional que permanece uma experiência subjetiva com reflexões sobre vida, morte, renascimento e existencialismo.