É possível se mover bem com uma armadura medieval?

Certamente você nunca correu uma maratona fantasiado com um traje pesado, mas provavelmente já embarcou no transporte público com um grande instrumento musical ou uma bolsa volumosa de equipamentos esportivos. Você sabe que o equipamento pode ser um fardo e que, se possível, é melhor deixar de lado. Mas e se esse equipamento for sua primeira, ou melhor, principal linha de defesa contra um cavaleiro que está planejando feri-lo em nome de seu soberano? Esse equipamento não é opcional.

Curioso sobre o grau em que os cavaleiros do século 15 ficavam sobrecarregados com sua cobertura protetora, o medievalista Daniel Jaquet contratou um especialista em armaduras da República Tcheca para fazer um traje específico para suas próprias medidas pessoais. O resultado é baseado em um espécime do século 15 de Viena que foi estudado pelo arqueometalúrgico da Coleção Wallace, Alan Williams. Como Jaquet lembrou:

- Tivemos que fazer concessões no processo de cópia, claro, porque o que me interessou acima de tudo foi poder fazer um estudo comportamental, ver como se movia com esse equipamento nas costas ao invés de me prender na quantidade exata de rebites. Conhecíamos a composição e a dureza das peças que poderíamos comparar com a nossa réplica."

O artista marcial testou sua mobilidade no traje com uma variedade de atividades modernas e altamente públicas: pegar itens nas prateleiras mais altas do supermercado, correr no parque, escalar uma parede em uma academia de escalada, pegar o metrô... Esses movimentos o ajudaram a avaliar seu desempenho em combate, bem como atividades de menor estresse envolvendo sentar ou levantar.

Sua experiência com armadura lança luz sobre a do cavaleiro do início do século 15 Jean le Maingre, também conhecido como Boucicaut, cuja carreira impressionante foi interrompida em 1415, quando foi capturado pelos ingleses na Batalha de Agincourt.

Boucicaut manteve-se nas melhores condições físicas com um regime regular de condicionamento físico blindado. Sua biografia cavalheiresca detalha se preparando para exercícios que incluíam correr, cortar lenha, saltar para cima de um cavalo e subir uma torre pelo lado de fora escada uma vez e outra trajando a armadura. Jaquet reproduz todos no vídeo acima.

Como a de Boucicaut, a armadura de Jaquet foi feita sob medida. Mas na época de Boucicaut, peças prontas de menor qualidade podiam ser adquiridas em mercados, feiras comerciais e lojas em áreas populosas. O tamanho sempre foi um problema. Muito pequeno e seu movimento seria restrito. Muito grande, e você estaria carregando um peso desnecessário.

Jaquet descreve sua carga como igual ao peso que os soldados do século 21 são obrigados a carregar em suas mochilas e armamentos. No entanto, pese que eram um salva-vidas, também reduziam a mobilidade, aumentavam a fadiga e reduziam o desempenho da missão.

As pernas carregavam um peso extra de uns 10 quilos, então os músculos tinham que trabalhar muito mais para superar a inércia e colocar as pernas em movimento. Também há evidências de que as fendas finas da máscara facial e a placa torácica apertada restringiam ainda mais o fluxo de oxigênio.