Qual é a pior coisa que pode acontecer com as escolhas de moda erradas? Um pouco de provocação e ridículo de seus amigos, com certeza. Mas raramente alguém tentará impor o estilo pessoal de um a outro com violência. No entanto, foi exatamente isso que aconteceu há quase um século em Nova York. No início do século 20, os chapéus eram um acessório popular masculino. Os homens usavam chapéus durante todo o ano, fizesse um frio congelante ou um calor sufocante. Mas usar chapéus durante o verão era desconfortável. Portanto, a partir de 1900, os homens começaram a usar chapéus de palha. |
Inicialmente, eles eram usados apenas durante eventos esportivos, como passeios de barco, e esses chapéus mais espiráveis durante os meses de verão passaram a ser chamados de boaters (velejadores. Eventualmente, o chapéu foi considerado aceitável para ser combinado com qualquer traje e local e até mesmo os profissionais passaram a usá-los para trabalhar. O boater se tornou uma febre.
No entanto, havia uma regra implícita de que os homens deveriam retirar seus chapéus de palha de aba curta quando o verão acabasse e voltar aos chapéus de feltro ou de seda mais apropriados. Embora o verão boreal termine normalmente entre 21 e 24 de setembro, a data escolhida para essa mudança foi 15 de setembro.
Qualquer pessoa que usasse um boater depois dessa data arriscava-se a perder seu chapéu para qualquer moleque de rua, que iria arrancá-lo da cabeça do usuário e pisá-lo. A prática tornou-se tão incômoda que os jornais alertaram os cidadãos com a aproximação do dia 15 de setembro.
Alguns casos de roubo de chapéus tornaram-se mais violentos que outros. O Pittsburg Press, em um artigo datado de 15 de setembro de 1910, descreveu um incidente em que a polícia teve que interferir em mais de uma instância para proteger pedestres com chapéus de palha.
Ao atribuir as manifestações organizadas contra os chapéus de palha à "pura exuberância da juventude", a imprensa previu consequências perigosas se as coisas fossem longe demais:
- "Está tudo bem para os corretores das bolsas destruírem os chapéus uns dos outros, se quiserem, porque, à princípio, ocorre tudo entre amigos. Mas nenhum homem gosta de ver seu chapéu sendo arrancado de sua cabeça por alguém a quem ainda não foi apresentado", dizia o artigo. - "E se a informalidade se generalizar, certamente haverá um número de cavalheiros obstinados que procederá friamente para tratar a diversão como uma agressão física e se defenderá de uma maneira que irá estragar a diversão para todos os envolvidos."
O artigo ademais alertava que aquele era o melhor e exato momento para evitar esse resultado, "antes que algo aconteça."
A observação do jornal tornou-se realidade doze anos depois, em 1922. Tudo começou quando algumas crianças decidiram pular a tradição com dois dias de antecedência e começaram a arrancar o chapéu de alguns trabalhadores de fábricas e pisar neles. Quando a gangue tentou fazer o mesmo com um bando de estivadores, os homens retaliaram e desatou uma briga. A coisa toda ficou tão feia que parou o tráfego na ponte de Manhattan. A polícia acabou interrompendo a briga e prendeu algumas pessoas.
Naquela noite, gangues de adolescentes rondavam as ruas empunhando cabos de vassoura, às vezes com um prego cravado no topo, procurando pedestres com chapéu de palha e espancando os que resistiam. As ruas estavam supostamente apinhadas de partidários de chapéus de palha e em alguns casos, turbas de centenas de meninos e rapazes aterrorizaram quarteirões inteiros. Assim que a polícia desmantelava as gangues em um distrito, os jovens retomavam suas atividades em outros lugares. Nem mesmo a polícia estava isenta do perigo. Um detetive foi atacado por uma gangue e seu chapéu foi jogado na rua.
- "Ele correu atrás de seus algozes, tropeçou e caiu de cabeça na sarjeta", relatou o New York Times. Vários homens foram hospitalizados por causa dos espancamentos que receberam depois de resistirem a que seus chapéus fossem tirados, e muitas prisões foram feitas.
Os motins continuaram no dia seguinte... e no outro... Nesses três dias, dezenas de prisões foram realizadas, mas como muitos dos envolvidos no roubo de chapéu tinham menos de 15 anos, seus pais eram punidos com multas. Outros pais tiveram que comparecer às delegacias onde foram instruídos a dar uma boa surra nos filhos. A pena mais longa que alguém recebeu foi de três dias de prisão.
Ainda que muitos tenham sofrido durante os distúrbios, as lojas de chapéus lucraram bastante. Aproveitando a confusão, muitas delas ficaram abertas até tarde e prosperaram vendendo chapéus de feltro.
A tradição da operação de extermínios de chapéus continuou por algum tempo depois dos tumultos de 1922, e um homem foi morto por usar um boater durante outro tumulto em 1924. Motins semelhantes ocorreram em 1925 e muitas prisões foram feitas em Nova York.
Eventualmente, os padrões da moda mudaram e a violência relacionada aos boaters não parecia mais tão importante. A prática extinguiu-se na década de 1930, quando os chapéus de palha de aba curta deixaram de ser uma manifestação de moda e deram lugar aos Panamás de aba larga.
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