A indústria da moda representa de 8 ao 10% das emissões de carbono do mundo, segundo a ONU. Em 2018, também descobriram que consumia mais energia que as indústrias da aviação e do transporte marítimo combinadas e as estimativas indicam que o equivalente a um caminhão de lixo com roupa é queimado e enviado para o aterro no mundo a cada segundo. E o ritmo que os consumidores compram roupa não parece ter diminuído no século XXI. Segundo as estatísticas da Fundação Ellen McArthur, a produção de roupa duplicou durante os 15 anos compreendidos entre 2004 e 2019. |
A fundação também estima que o consumidor médio compra 60% mais roupa agora que há 20 anos. E o fast-fashion, ainda que acessível, é extremamente daninho para o meio ambiente. Prova disso é a colossal montanha de roupa descartada -suéteres natalinos e botas de esqui incluídos-, que forma esta estranha paisagem no Atacama, o deserto mais seco do mundo, no Chile.
O efeito social do consumismo desenfreado na indústria da confecção, como o trabalho infantil nas fábricas ou os salários irrisórios, é bem conhecido, mas o efeito desastroso sobre o meio ambiente recebe menos publicidade. Estas fotos são uma prova disso.
Mas as fotografias do deserto do Atacama não devem ser ignoradas tão facilmente e demonstram como o país sofre cada vez mais a poluição criada pela moda rápida. Chile foi durante muito tempo um centro de roupas não usadas e descartadas, fabricada na China ou Bangladesh e passando por Europa, Ásia ou Estados Unidos antes de chegar ali, onde são revendidas por toda a América Latina.
Umas 59.000 toneladas de roupa chegam a cada ano ao porto de Iquique na zona franca de Alto Hospicio no norte do país. Os comerciantes de roupa da capital Santiago (1.800 km ao sul) compram parte, enquanto grande parte passa de contrabando a outros países latino-americanos. E ao menos 39.000 toneladas que não podem ser vendidas acabam nos aterros do deserto como vemos.
- "Estas roupas chegam de todas partes do mundo. O que não é vendido a Santiago nem enviado a outros países fica na zona franca já que ninguém paga as tarifas necessárias para tirá-las", explicou Alex Carreño, ex-funcionário da zona de importação do porto. - "O problema é que a roupa não é biodegradável e tem produtos químicos, motivo pelo qual não é aceita nos depósitos sanitários municipais."
A roupa, seja sintética ou tratada com produtos químicos, pode demorar 200 anos para biodegradar e é tão tóxica como os pneus eliminados ou os materiais plásticos. Mas claro, nem tudo é desperdiçado: algumas pessoas que vivem perto dos aterros revisam a roupa para ver se podem usar ou vender. Ainda que o resto simplesmente fica ali, crescendo cada vez mais a cada ano, formando assim a paisagem do consumismo.
Segundo um relatório da ONU de 2019, a produção mundial de roupa duplicou entre 2000 e 2016, e a indústria é responsável por 20% do desperdício total de água a nível mundial. Para fazer apenas um jeans, desde o cultivo do algodão até a fabricação, são necessários 2.300 litros de água.
O mesmo relatório também explica que a fabricação de roupa e calçado contribui 8% de gases de efeito estufa globais, e que a cada segundo, se enterra ou queima uma quantidade de têxteis equivalente a um caminhão de lixo. E tanto faz que essas gigantescas montanhas de roupa sejam deixadas ar livre ou sejam enterradas debaixo da terra, pois contaminam o meio ambiente e liberam poluentes no ar ou nos canais de água subterrâneos. Não há que ser muito inteligente para imaginar o que ocasiona esse amontoamento: perda de habitat, contaminação ambiental e da água.
Este não é um problema apenas chileno. Todas as semanas, mais de 15 milhões de peças de roupas chegam a Gana, na África Ocidental, onde são disputadas por revendedores. Grande parte é de doações vindas da Europa, China e dos Estados Unidos.
No entanto as "doações são batizadas" com peças de baixa qualidade ou danificadas, herdadas do mercado fast-fashion e muitas vezes são apenas lixo mesmo. Este parece ser o mais novo golpe dos países de primeiro mundo enviar lixo para o terceiro e ainda posar de benfeitor.
Quase da mesma forma que ocorre no Chile, poucas pessoas estão dispostas a comprar esses produtos, fazendo com que fiquem encalhados e acabem sendo descartados em aterros, que já estão entupidos.
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