Nova polêmica com a nadadora transgênero Lia Thomas: suas colegas querem excluí-la das competições

Depois da mudança das política transgênero feito recentemente pela Associação Nacional Esportiva Universitária (NCAA), do Estados Unidos, as colegas de equipe da nadadora Lia Thomas alimentaram novamente a polêmica ao emitir um comunicado contrário a participação de Lia nas provas femininas. Um grupo de 16 atletas da Universidade da Pensilvânia pediu a diferentes entidades que não empreendam ações legais contrárias as novas políticas da USA Swimming, o organismo reitor da natação no país.

A carta, escrita por Nancy Hogshead-Makar, diretora executiva da Champion Women -uma organização sem fins lucrativos que oferece advocacia gratuita para mulheres no esporte- e campeã olímpica de natação, representando as colegas de equipe de natação de Lia, foi enviada à própria universidade e aos organizadores da Liga Ivy para mostrar apoio a essas normas, que poderiam impedir que a nadadora transgênero participe dos campeonatos da NCAA de março.

No comunicado, os membros da equipe de natação da UPenn sustentam que Lia tem uma vantagem injusta em relação a outras competidoras:

- "Apoiamos totalmente Lia Thomas em sua decisão de afirmar sua identidade de gênero e fazer a transição de homem a mulher. Lia tem todo o direito de viver sua vida de maneira autêntica. No entanto, também reconhecemos que quando se trata de competições esportivas, a biologia do sexo é um tema separado da identidade de gênero de alguém. Biologicamente, Lia tem uma vantagem injusta sobre a concorrência na categoria feminina, como demonstram suas classificações: ela passou do posto 462 como homem ao número 1 como mulher no ranking", diz o documento.

Lia Thomas competiu para a equipe masculina da Universidade de Pensilvânia durante três temporadas e nunca subiu no pódio antes de se submeter faz dois anos a tratamentos hormonais para mudar de sexo. Agora compete na equipe de natação feminina e vem atropelando as competições, inclusive registrou os tempos mais rápidos em dois eventos diferentes esta temporada.

Recentemente, USA Swimming anunciou uma mudança de políticas que põe em xeque o futuro esportivo de Lia. Um painel de três especialistas médicos independentes determinará se um nadador tem uma vantagem competitiva devido a seu desenvolvimento físico prévio como homem, além de assegurar-se que o nível de testosterona no sangue não supere uma determinado valor.

Nancy Hogshead-Makar, ganhadora de três medalhas de ouro e uma de prata nos Jogos Olímpicos de verão de 1984, que apoiou o comunicado das colegas de Lia Thomas, elogiou estas novas pautas em declarações a Fox News.

- "A política de elegibilidade do USA Swimming é excepcional para as mulheres biológicas. Primeiro, declara que o propósito da avaliação é garantir que as mulheres transgênero não tenham uma vantagem injusta nos esportes competitivos. Segundo, requer que as mulheres transgênero demonstrem que mitigaram sua vantagem da puberdade masculina", enfatizou.

O problema é que a política transgênero foi adotada sem qualquer pesquisa significativa para orientar sua decisão. A comunidade científica realmente não chegou a um consenso sobre o limite de testosterona. Se houver um limite, qual deve ser esse limite? São perguntas sem resposta. A falta de pesquisa é outro problema. o assunto é espinhoso e pouca gente quer lidar com ele.

- Isso é horrível para aquelas garotas da UPenn... elas provavelmente estavam sob enorme pressão dos colegas para dizer: 'Oh isso é ótimo para a Lia', quando não é bom para elas", disse Cynthia Millen, a oficial que esteve a frente da USA Swimming por 30 anos e que renunciou em protesto no mês passado, quando Lia começou a ganhar todas as provas de natação.

Cynthia diz que os nadadores são geralmente mais rápidos do que as mulheres, porque têm mais fibras musculares de contração rápida que são benéficas durante períodos mais curtos de esforço, como na natação.

- "Desde o início, meninos e meninas são diferentes na maneira de nadar. Isso não é xadrez, é biologia", disse ela. - "Tivemos algumas garotas muito rápidas como atletas olímpicas, mas os garotos sempre as derrotam."

Cynthia disse que recebeu um grande apoio, ainda que discretamente, de oficiais de natação e nadadores desde que renunciou publicamente, mas que as pessoas precisam "superar seu medo" e parar de ter tanto medo de falar contra a injustiça nos esportes femininos.

- "Esta é uma ciência doentia sendo anunciada por algumas pessoas como libertação, pois não é. Você não está sendo fóbico de forma alguma só por dizer a verdade", disse ela. - "Eu não dou a mínima para o que as pessoas falam sobre mim. Não tenho nada a perder. Mas digamos que se você for um jovem treinador começando a carreira agora, vai querer apenas seguir a linha do politicamente correto. Acho que devemos estourar essa bolha."

Linda Blade, treinadora de desempenho esportivo e cinesiologista canadense, disse que a política de transgêneros da NCAA foi mal concebida e atletas como Lia estão se aproveitando disso.

- "A auto-identidade não é a principal preocupação nos esportes. O que nos importa é o modelo biológico fundamental que predestina um atleta a ser homem ou mulher desde a concepção", escreveu Linda em um editorial da revista Swimming World. - "A distinção entre o design biológico masculino e feminino é categórica; da mesma forma que, digamos, um veículo da NASCAR é distinto de um carro de F1 nas corridas de automóveis."

Linda acha que a maneira de garantir a "inclusão" completa mantendo a integridade do esporte feminino é converter a categoria masculina em "aberta" -para homens, mulheres trans e outras identidades- e manter a categoria feminina restrita às atletas "femininas".

- "Até que uma solução não-binária seja desenvolvida para elegibilidade esportiva, este sistema 'aberto' garantirá que qualquer competidor com uma nova reivindicação de identidade (e haverá mais, pode ter certeza) não traga consigo uma vantagem competitiva", explicou, ademais agregando que dessa forma um atleta medíocre no esporte masculino não vai se tornar uma super campeã no feminino de uma hora para a outra.

Ainda que Lia Thomas tenha se classificado para o campeonato da NCAA, que está programados para ocorrer entre 16 e 19 de março, em Atlanta, sua presença ainda não está assegurada.

- "Pedimos que a UPenn e a Liga Ivy nos apóiem como mulheres biológicas e não empreendam ações legais com a NCAA para não se oporem a estas novas políticas de inclusão de atletas", fecha o comunicado de suas colegas, cujos nomes não foram incluídos. Seja como for, há rumores que, se Lia participar, ela provavelmente vai nadar sozinha.