A vicunha é uma espécie importantíssima para grande parte de América do Sul, especialmente para o Peru. Ali está presente em muitos âmbitos, desde o ensino nacional até o sobrenome de muitos peruanos. Está na cultura, tradições e história. Inclusive na pré-história, já que encontraram pinturas rupestres que a representam. Com sua preciosa lã se vestiam os antigos reis incas e seus altos sacerdotes. No entanto, em meados do século XX, este camelídeo esteve em sério perigo de extinção, com uma estimativa de população entre 5.000 e 10.000 indivíduos. como consequência da caça furtiva indiscriminada |
O último dado oficial da população de vicunhas no país é o do quarto censo nacional, realizado em 2012, no qual contabilizaram um total de 208.899 animais. Segundo projeções, agora poderia ter até 450.000 vicunhas no Peru, ainda que sejam meras estimativas.
No resto dos países, os últimos dados disponíveis cifram a população de vicunhas em 112.250 na Bolívia, entre 72.800 e 127.000, na Argentina; 12.100, no Chile e 7.200, no Equador.
Para além das cifras, o que parece fora de dúvida é que a recuperação desta espécie está sendo um sucesso. O melhor exemplo disso é a primeira reserva estabelecida para protegê-la. Em 1967 foi oficializada a criação da Reserva Nacional Pampa Galeras a partir de terras cedidas pela comunidade camponesa de Lucanas, no departamento de Ayacucho.
A reserva, que foi rebatizada posteriormente para acrescentar o nome da jornalista e naturalista italiana Bárbara D'Achille, assassinada em 1989 por membros do Sendero Luminoso, tem hoje umas 10 mil cabeças, segundo os dados do Serviço Nacional de Áreas Naturais Protegidas pelo Estado (SERNANP), pertencente ao Ministério do Ambiente. Ademais, como o próprio organismo explica, foi também um sucesso econômico: a comunidade camponesa de Lucanas produz 1.300 kg de fibra ao ano, o que supõe rendimentos diretos de 2,5 milhões de sóis (3,4 milhões de reais).
O quilo da fibra de vicunha é vendida no mercado internacional por mais de 2 mil reais. Mas nem sempre foi assim. Dentro dos esforços por preservar a espécie, em 1975 foi incluída no "apêndice I" da Convenção sobre o Comércio de Espécies Ameaçadas de Fauna e Flora Silvestre (CITE), com o qual ficou proibida a comercialização de sua fibra. Foi assim durante 20 anos, até que passou ao "apêndice II", o que autoriza a venda da fibra obtida de instâncias vivas.
Isto fez com que recuperassem a forma tradicional de capturar às vicunhas, que os Incas já usavam, conhecido como chaccu ou chaco, mostrada nas fotos e no primeiro vídeo que ilustram este post. O processo compreende um grande grupo de camponeses que rodeiam um rebanho, conduzindo o para um curral fechado onde é feita a tosa. Depois liberam os animais na natureza de novo.
Uma lei do governo de Alberto Fujimori de 1995 dava a propriedade e usufruto das vicunhas às comunidades camponesas, reconhecendo-as como responsáveis por seu controle e vigilância. Isto foi um feito chave, porque envolveu as comunidades, que compartilham habitat com a vicunha, na conservação da espécie.
Foi assim que eles começaram a se organizar para gerenciar as manadas, e criaram brigadas de guarda comunitária destinadas à proteção das populações de vicunhas.
A medida foi super importante porque ajudou a mudar a mentalidade das pessoas, para que se dessem conta de que um animal vivo tem bem mais valor que um morto. Uma vicunha vive normalmente uns 12 anos. Cada vez que é tosquiada, o que é feito a cada dois anos, se extrai meio quilo de lã. Portanto, ao caçar o animal pela pelagem podem perder até dois quilos e meio de lã em futuras tosas.
As pessoas costumam presumir que a melhor lã é a de caxemira, mas a de alpaca e, sobretudo, a de vicunha, é bem mais fina e mais escassa. Em realidade, tecnicamente não é lã, termo reservado comercialmente para a fibra procedente da ovelha. E, quando se diz "fina", não se refere unicamente a delicadeza e boa qualidade, senão que também a sua espessura.
O fio pode ser feito grosso também, mas a fibra do pelo em si é muito fina e sua superfície muito lisa, o que o torna muito suave ao tato. E se for olhada através do microscópio vamos ver que é oca por dentro, o que a torna mais leve e ajuda a manter a temperatura corporal graças a essa câmara de ar. Além disso é impermeável à água e ao vento, além de resultar antialérgica.
Praticamente desconhecida na Europa, hoje a lã de vicunha virou moda. As prendas vendidas em grandes casas de alta costura podem custar uma fortuna. Um casaco, por exemplo, pode custar absurdos 150 mil reais.
A verdade é que as empresas de moda de luxo, que arrastavam certa má fama, sobretudo no segmento das peles, estão faz anos apostando pela sustentabilidade e a produção ecológica ou lançando linhas mais verdes em suas coleções. Em muitas ocasiões, é difícil saber quando isto é fruto de uma genuína preocupação pelas consequências sociais e meio ambientais do negócio ou quando se trata de uma estratégia de marketing ou de uma mera lavagem de imagem.
Conquanto seja verdade que a população de vicunhas se recuperou, lamentavelmente as autoridades perderam o norte quanto a sua condição de espécie silvestre e ao tipo de manejo correspondente. Um exemplo é a modalidade instaurada em 2006 de "semi-cativeiro", que permite "currais" de 1.000 hectares com melhores condições para o controle da caça furtiva e a exploração. Mas esquecem-se que outro aspecto de grande importância que é o manejo sobre padrões de bem-estar animal.
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