Na segunda-feira retrasada, o recém-nomeado primeiro-ministro do Sri Lanka, Ranil Wickremesinghe, anunciou que o país tinha apenas um dia de gasolina restante – e não podia importar mais, provocando longas filas nos postos de gasolina enquanto os desesperados tentam encher seus tanques ou botijões. A notícia aumentou a agitação generalizada na nação insular enquanto as pessoas protestam contra a pior crise econômica do país desde sua independência em 1948. Desde março, os cidadãos reclamam do aumento dos preços, escassez e apagões, tudo isso enquanto exigem que o clã governante renuncie. |
A pandemia de covid-19 atingiu severamente a economia centrada no turismo do Sri Lanka, deixando o governo com um déficit significativo de 2,4 trilhões de rúpias do Sri Lanka (32 bilhões de reais) que aproveitou as reservas cambiais para pagar. A crise levou a uma desvalorização da moeda do país, bem como à escassez de alimentos, remédios e combustível, já que o país não pode importar esses itens.
Os vídeos mostram longas filas de carros e riquixás nas imediações dos postos de gasolina, como este em Pannipitiya, um subúrbio de Colombo.
- "Os preços dos alimentos e dos combustíveis dobraram. Os ganhos das pessoas não mudaram nem um pouco", disse Prasad Welikumbura, um ativista social e político do Sri Lanka que participa dos protestos na capital Colombo desde o primeiro dia.
As pessoas têm que ficar em filas por mais de dez horas para conseguir combustível ou gás. Isso afetou o transporte de mercadorias e itens essenciais, é difícil para as pessoas irem para o trabalho do dia-a-dia. Muito costumam usar um riquixá para se locomover, mas agora, às vezes, devem esperar mais de uma hora para encontrar um.
Há uma escassez generalizada de leite em pó, cilindros de propano e combustível. Para piorar as coisas, há uma escassez de medicamentos e equipamentos médicos também. O vídeo abaixo mostra pessoas fazendo fila com botijões de gás vazios, em Dehiwala-Mount Lavinia, um subúrbio de Colombo, em 19 de maio de 2022.
Algumas indústrias como a construção civil foram completamente paralisadas devido ao aumento do preço dos materiais. Isso fez com que dezenas de milhares de pessoas perdessem seu modo de vida. Ao mesmo tempo, as pessoas que moram em condomínios e apartamentos não podem cozinhar seus alimentos devido à escassez de gás.
Os manifestantes se reuniram contra o presidente Gotabaya Rajapaksa, culpando-o pela má gestão da pandemia de covid-19 e pelos cortes de impostos que, segundo eles, pioraram a economia. Eleito em 2019, o governo de Rajapaksa também incluiu dois de seus irmãos e dois sobrinhos.
Para lidar com a escassez de combustível, o governo vem impondo apagões contínuos desde 23 de fevereiro. O anúncio de 31 de março de cortes de energia diários de 13 horas provocou a primeira onda de dissidência que desde então se transformou em protestos generalizados.
- "Eles usaram canhões de água e gás lacrimogêneo contra os manifestantes. Quase fomos espancados pela polícia a caminho de casa", disse Prasad.
Welikumbura explicou:
A série de protestos que estão acontecendo hoje começou em março em uma cidade suburbana de Colombo chamada Kohuwala. Eles foram iniciados devido a cortes de energia que acontecem em todo o país. A tensão pública já estava lá quando esses protestos atuais começaram a acontecer.
Muitos vídeos mostram a polícia e os manifestantes em confronto durante protestos. O seguinte vídeo mostra uma grande multidão de pessoas reunidas perto da casa do presidente do Sri Lanka, para exigir sua renúncia.
Quando a polícia e o exército atacaram os manifestantes, milhares de pessoas que moravam nas redondezas saíram às ruas em apoio aos manifestantes. O governo impôs um toque de recolher e espancou os manifestantes. Um grande número deles foi preso. No dia seguinte, o governo declarou estado de emergência, dando às forças de segurança autoridade para deter pessoas sem mandado. O governo também impôs um toque de recolher e bloqueio de aplicativos de mídia social e bate-papo para impedir as pessoas de protestar. Apesar do toque de recolher, houve protestos em várias cidades do país.
Em uma tentativa de reprimir os protestos, que continuaram por mais de um mês, o ex-primeiro-ministro Mahinda Rajapaksa -irmão do presidente- renunciou em 9 de maio. No entanto, os protestos continuaram e até aumentaram. Os manifestantes se reuniram na frente das casas dos políticos, incendiando-as. Eles também quebraram janelas e queimaram pneus por toda Colombo, até mesmo empurrando veículos para o lago.
Em 10 de maio, o Ministério da Defesa do Sri Lanka ordenou que as forças de segurança "atirem" em qualquer manifestante que esteja danificando propriedades do Estado. Confrontos entre manifestantes e forças de segurança mataram nove e feriram 300.
Como é um protesto massivo e a participação é generalizada, há muitas demandas. Eles querem principalmente a família Rajapaksha fora da política. Eles também querem colocá-los atrás das grades por roubar dinheiro público. Há um apelo para uma mudança de sistema, mas não há um acordo comum sobre que tipo de mudança de sistema precisa acontecer.
O governo espera que a importação de gasolina e diesel usando uma linha de crédito indiana possa aliviar a crise nos próximos dias, mas o primeiro-ministro Wickremesinghe alertou os cidadãos que - "...os próximos meses serão os mais difíceis de nossas vidas."
Como dizíamos, o motivo da escassez de combustível e gás é a alta inflação e o dissolução das reservas internacionais do país, que acabou acarretando a falta de outros produtos essenciais.
A imprensa local diz que desde o começo da crise ao menos 8 pessoas já morreram nas filas por combustível. Mas o porta-voz da polícia, Nihal Thalduwa, disse que não existe um estudo que confirme o número total de mortes causadas pelas filas. Tentando depreciar o problema, o ministro da Segurança Pública, Tiran Allles, explicou que não pode confirmar que a única causa das mortes tenha sido a longa espera em filas, já que algumas pessoas poderiam ter doenças pré-existentes.
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