O show do Pink Floyd de 1989 em Veneza em um palco flutuante ao lado da Praça de São Marcos reuniu mais de 200.000 fãs na multidão e, sem querer, resultou na renúncia do prefeito e de todo o conselho da cidade após a apresentação. As autoridades da cidade organizaram o show gratuito na histórica Piazza San Marco de Veneza, que seria exibido na televisão em mais de 12 países. O conselho justificou dizendo que Veneza "deve estar aberta a novas tendências, incluindo o rock". Mal eles sabiam na encrenca que eles estavam arrumando. |
Quando Roger Waters deixou o Pink Floyd depois de The Final Cut, de 1983, os membros restantes tinham boas razões para supor que a banda era realmente, como proclamou Waters, "uma força gasta".
Depois de lançar projetos solo nos próximos anos, David Gilmour, Nick Mason e Richard Wright logo descobriram que nunca alcançariam individualmente o que fizeram como banda, tanto musical quanto comercialmente.
Gilmour começou a trabalhar em 1986 no desenvolvimento de novo material solo no 13º álbum de estúdio do Pink Floyd, o primeiro sem Waters, "A Momentary Lapse of Reason".
Se o disco é "incompreendido ou apenas ruim" é uma questão para fãs e críticos discutirem. Na época, Richard Wright, que só podia contribuir extra-oficialmente por razões legais, mais tarde admitiu que não era um álbum de banda, e serviu principalmente como uma vitrine para as músicas de Gilmour, apoiada na gravação por vários músicos de sessão.
No entanto, o álbum ultrapassou o status quádruplo de platina nos EUA, impulsionado pelo single "Learning to Fly". A tripulação russa da Soyuz TM-7 levou o disco com eles em sua expedição de 1988, tornando o Pink Floyd a primeira banda de rock a ser tocada no espaço sideral, e o álbum “gerou a maior turnê do ano e um álbum ao vivo complementar.
Sem saber se o álbum venderia, a banda planejou apenas uma pequena série de shows inicialmente em 1987, mas arena após arena lotou, e a turnê se estendeu pelos dois anos seguintes, com shows maciços em todo o mundo e a habitual extravagância de luzes e adereços, incluindo uma grande bola de discoteca que se abria como uma flor.
Lasers e efeitos de luz. Camas hospitalares voadoras que caiam no palco, e, claro, a tela redonda de 32 pés. Como no passado, os shows de palco superestimulantes pareciam garantidos pelo som enorme e quadrifônico da banda ao vivo, mostrando que a banda era "uma força gasta" com a presença de Waters.
E foi com esse sucesso todo que a banda chegou a Veneza em 1989, quando foram recebidos por mais de 200.000 fãs italianos. E por um contingente significativo de venezianos que não tinham a menor vontade de ver o espetáculo acontecer.
A notícia foi recebida com entusiasmo por muitos, mas também com raiva por tantos outros venezianos. Muitas pessoas mais velhas queriam proibir o concerto, pois sentiram que seria um pesadelo logístico que potencialmente destruiria as fachadas e monumentos antigos.
Além disso, estaria corroendo a integridade cultural do evento que foi planejado na mesma época do concerto, o Redentore (Festival do Redentor).
- "Os centros históricos não devem ser usados para performances incompatíveis com sua natureza histórica", disse na época Augusto Salvadori, um ex-comissário de turismo de Veneza.
- "Se eles querem rock, que façam em um estádio de futebol, mas não na Piazza San Marco", reclamou o homem.
Assim, o superintendente de patrimônio cultural da cidade vetou o show três dias antes de sua data de 15 de julho, com o argumento de que o som amplificado danificaria os mosaicos da Basílica de São Marcos, enquanto toda a praça poderia afundar sob o peso de tantas pessoas.
O Pink Floyd tinha interesse que o show acontecesse pois consagraria a banda como uma das maiores do mundo, não que já não fosse, mas aquela seria uma final de turnê apoteótica depois de tantas incertezas.
Um acordo foi finalmente alcançado quando a banda se ofereceu para baixar os níveis de decibéis de 100 para 60 e se apresentar em um palco flutuante a 200 metros da praça, que juntaria "uma longa história de arquiteturas efêmeras flutuantes" nos canais e lagoas de Veneza.
Filmado pela televisão estatal RAI, o espetáculo foi transmitido em mais de 20 países com uma audiência estimada de quase 100 milhões. Devido às restrições de horário da TV ao vivo, algumas músicas foram deixadas de fora e outras encurtadas em alguns trechos.
Ao redor do palco, você podia ver muitos barcos tradicionais, barcos a remo clássicos venezianos, como o sândalo, e outros barcos clássicos como o sanpierotta.
Ainda que o show fosse gratuito, muitos barcos maiores fizeram lotação e cobraram ingresso, sobretudo de turistas.
A Praça de São Marcos estava lotada. Muitos presentes disseram que foi um dos melhores shows que já experimentaram.
Mas o show acabou se tornando um grande escândalo, dividindo tradicionalistas no governo da cidade e progressistas no conselho.
Na verdade, o público acabou causando o maior dano. Autoridades disseram que deixaram para trás 300 toneladas de lixo e 500 metros cúbicos de latas e garrafas vazias.
E como a cidade não oferecia banheiros portáteis, os frequentadores de shows faziam suas necessidades nos monumentos e nas paredes.
No dia posterior ao show a Piazza San Marco exalava a fedentina de amônia da urina. Simplesmente nauseante.
Enfurecidos depois, os moradores protestaram contra o prefeito Antonio Casellati, que tentou uma reaproximação pública dois dias depois.
Mas não adiantou, uma turba irada gritava - "Renuncie, renuncie, você transformou Veneza em um banheiro!"
Casellati fez isso, junto com todo o conselho da cidade que o levou ao poder. De acordo com David Gilmour:
- "O show de Veneza foi muito divertido, mas foi muito tenso e estressante. Tínhamos uma duração específica de show para fazer com base em um tempo específico."
Para piorar a transmissão via satélite significava que a banda tinha que ter uma precisão absoluta, com base nos acordos de vendas de imagens do show para o mundo.
A banda tinha a lista de músicas que deveriam ser encurtadas, coisa que eles nunca tinham feito antes, com efeito, o show do Pink Floyd sempre se notabilizou por se estender muito mais do que o programado.
Havia um grande relógio digital vermelho no chão à frente da banda e Gilmour tinha anotado a hora de início de cada número em um pedaço de papel.
- "Se estivéssemos chegando perto da hora de início da próxima canção, eu só tinha que encerrar aquela em que estávamos para começar a outra", explicou.
- Nós nos divertimos muito, mas as autoridades da cidade que concordaram em fornecer os serviços de segurança, banheiros, comida, renegaram completamente tudo o que deveriam fazer e depois tentaram culpar todos os problemas subsequentes."
No final, a banda pode ter derrubado o governo da cidade, mas eles fizeram um show incrível, um que os fãs italianos, e os milhões que assistiram de casa, nunca esquecerão.
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