Os problemas da Europa são problemas do mundo, mas os problemas do mundo não são da Europa

Faz alguns dias no fórum Globesec 2022 na Eslováquia, o ministro da relações exteriores indiano, Subrahmanyam Jaishankar foi questionado pela posição de Índia ante a invasão da Ucrânia pela Rússia. Os dirigentes europeus acusaram a Índia de não se pronunciar contundentemente em prol de Ocidente ou, também, de não definir se o país se alinha com Estados Unidos ou China. Jaishankar é um experimentado político, que foi embaixador da Índia nos Estados Unidos e China e que fala além de hindi e tamil, russo, inglês, japonês, chinês e algo de húngaro. O ministro respondeu ante este suposta dicotomia:

- "A Europa tem que ir para além do marco mental de que os problemas da Europa são os problemas do mundo, mas os problemas do mundo não são da Europa, se é você, é seu, mas se é meu é nosso."

Jaishankar fez esta simples, mas lúcida afirmação sublinhando o duplo padrão que caracterizou o Ocidente por muito tempo. Para o ministro indiano, seu país tem o direito de escolher por sua própria conta, baseando-se em seus próprios valores e interesses.

Ainda que podem existir pressões para alinhar-se com um destes dois eixos em todas as questões geopolíticas, reduzir a realidade a esta concepção unilateral é um empobrecimento da imaginação e da visão de mundo, além de ser uma forma de tirania global.

Jaishankar asseverou que a Índia é um país que tem um quinto da população mundial e é a quinta ou sexta maior economia do mundo, além de ter uma enorme história como civilização, e deve ser regido pelo que ela mesma considera correto.

A Índia condenou os assassinatos na Ucrânia, particularmente aqueles ocorridos em Bucha, mas ao mesmo tempo pediu que sejam realizadas uma "investigação independente" sobre os aparentes crimes de guerra cometidos. Jaishankar fez referência que antes de falar de seu "silêncio" deveriam falar também do silêncio que manteve a Europa por muito tempo ante numerosas questões na Ásia e África. E, por suposto, nesses casos os países ocidentais não têm que sofrer represálias, como outros países quando estes têm visões diferentes.

O ministro enfatizou que nem tudo se trata da Europa e que existem outros atores no cenário global.