É possível transformar vidro de volta em areia?

Quando um vidro caído se quebra ou uma pedra lasca o para-brisa do carro, é tentador pensar no vidro como um material frágil. Na verdade, é um dos materiais mais duradouros feitos pelo homem. Leva 1 milhão de anos para uma garrafa de vidro se decompor no meio ambiente. Artefatos de vidro dos primórdios da fabricação de vidro no Egito, por volta de 2000 a.C., ainda existem. De fato, exemplos das qualidades duradouras do vidro vêm do vidro feito na natureza, um material opaco chamado obsidiana. Resulta da atividade vulcânica que derrete sílica ou areia para formar vidro preto, vermelho, cinza, marrom ou verde.

Depósitos naturais de obsidiana foram extraídos por povos pré-históricos para fazer pontas de armas, ferramentas de corte, espelhos e outros objetos. No Iraque, o uso de obsidiana remonta ao Paleolítico. No Brasil é possível encontrar a obsidiana preta, principalmente no Rio Grande do Sul,mas não há registros de que tenha sido usada por povos nativos.

Originalmente, o vidro era uma mercadoria rara e preciosa, porque exigia muito combustível para derreter os ingredientes e por causa da produção intensiva de mão-de-obra, mas os métodos modernos permitem a produção em massa de recipientes e objetos de vidro. Em 2020, o mercado brasileiro produziu mais de 8,6 bilhões de embalagens, o que equivale 1,3 milhões de toneladas de vidro. Estima-se que 30% disso acabou no fluxo de resíduos sólidos urbanos.

Então, dada a longa vida útil do vidro e a facilidade com que pode ser reciclado, faz sentido reciclá-lo, mas apenas 40% é reciclado no Brasil. O vidro se presta à reciclagem indefinida sem perda de resistência. Quebrado em cacos de vidro, o vidro reciclado vai para novos recipientes ou para produtos como azulejos de cozinha, isolamento de paredes e abrasivos.

A maior parte do vidro reciclado vem de recipientes de bebidas e alimentos. O caco custa menos que o vidro virgem e economiza energia porque derrete a uma temperatura mais baixa, o que, por sua vez, significa menores emissões de gases de efeito estufa, como óxido de nitrogênio e dióxido de carbono. A reciclagem de uma garrafa de vidro economiza energia suficiente para executar um computador por 25 minutos.

Mas respondendo a pergunta do título deste artigo: a reposta curta é "sim". O vidro finamente triturado é basicamente uma forma muito pura de areia. Tecnicamente, a areia natural é feita de cristais de quartzo de dióxido de silício, enquanto o vidro é a forma amorfa não cristalina do dióxido de silício. Mas quando é moído o suficiente, a diferença não é óbvia.

O vidro triturado é vendido como uma alternativa à areia para filtros de piscina. Na verdade, o vidro triturado reciclado está sendo considerado um substituto parcial para a areia em algumas praias erodidas em todo o mundo.

A areia é usada em tudo, especialmente na construção, é um ingrediente importante em argamassa, concreto, asfalto, etc. Para isso, os indivíduos muitas vezes recorrem à areia de dragagem das praias. Naturalmente, a erosão da areia nas praias é outra preocupação decorrente da crescente diminuição da disponibilidade de areia natural.

Na Nova Zelândia, por exemplo, em uma tentativa de combater a erosão da areia em suas praias imaculadas, o país adotou uma política da "garrafa para a areia". A cervejaria neozelandesa DB Breweries lançou uma campanha na qual as garrafas de cerveja são esmagadas para criar areia pura.

Este foi o caso de Franziska Trautmann que cofundou a Glass Half Full com o namorado em fevereiro de 2020, enquanto ainda eram estudantes universitários. A empresa hoje é a maior operação de reciclagem de vidro do estado norte-americano da Louisiana. Em cerca de 2 anos eles evitaram que 4 milhões de garrafas de cerveja de vidro fossem parar nos aterros sanitários.

A empresa opera em um estado com um litoral em extinção, e está aumentando em um momento em que os suprimentos globais de areia estão diminuindo. Assim, os voluntários usam o vidro triturado para ajudar a reconstruir o litoral.