A colheita do açaí, um dos frutos mais conhecidos da Amazônia, esconde riscos para cerca de 200 mil ribeirinhos que vivem da atividade para subir no açaizeiro, pois são raros os peconheiros que usam equipamentos de segurança. Em um estudo de 2016, intitulado "O peconheiro – Diagnóstico das condições de trabalho do extrativista de açaí", o Instituto Peabiru, ONG que atua na região amazônica, constatou que a atividade é típica de agricultura familiar e uma das mais perigosas da área rural do Brasil. |
A habilidade peculiar de muitos ribeirinhos da Amazônia há 50 anos chama a atenção pelo o grau de precariedade, em que os riscos se multiplicam no período da safra. Muitos desses homens chegam a subir no pé de açaí 20 vezes por dia. Para tanto eles usam a peconha (daí o nome), uma espécie de corda que eles amarram nos pés para ajudar na subida.
São três tipos de peconha: uma feita com a própria folha do açaizeiro, outra é feita com a fibra que recobre a folha e terceira usada por 80% dos peconheiros é feita com saco de trigo, que é mais resistente na hora de dar apoio a eles na subida para fazer a colheita.
É nessa hora que ele correm sérios riscos, pois precisam alcançar a copa das árvores para apanhar os frutos. O problema é que a árvore ali é frágil podendo quebrar. A árvore também pode pender e quebrar levando a uma queda de mais de 10 metros.
Só para se ter uma ideia cerca de 200 mil ribeirinhos sobem por dia nos açaizeiros sem nenhum tipo de proteção e quase 90% dessas pessoas já sofreram algum tipo de acidente. Para aumentar ainda mais o risco eles devem levar um facão preso na parte de trás do short ou da calça para cortar o cacho, quando acabam se cortando no processo.
Segundo os próprios peconheiros, quando eles sobem em uma touceira -conjunto de açaizeiros numa só raiz- e lá em cima se deparam com outros cachos maduros, começam a fazer uma espécie de malabarismo para alcançar outras árvores e retirar os cachos. Quando desce, já vem com vários cachos ao mesmo tempo em vez de um só.
Pesquisadores também perceberam que o trabalho infantil também faz parte da realidade da colheita do fruto durante a safra, quando a maioria das crianças deixa até de frequentar a escola, o que se traduz em um grande problema social.
E enquanto o açaí se tornou um dos superalimentos mais modernos nas últimas décadas, os pequenos agricultores não estão vendo muito dos lucros. O açaí traz riquezas, mas não é para as pessoas que fazem o trabalho pesado. A qualidade de vida deles continua ruim, continuam precisando do trabalho das crianças e muitos ficam em péssimas condições de saúde.
Amapá e Amazonas são os maiores produtores de açaí do mundo, mesmo sem condições de segurança a atividade continua e é o único meio de sobrevivência dessas famílias. Garantir que a coleta do açaí em terras de várzea da Amazônia seja uma atividade menos perigosa continua sendo um desafio para a sociedade e o poder público.
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